Pendurados em estacas com chapéu de palha e olhos de botões, vestidos com roupas velhas e remendadas, preenchidos muitas vezes com jornal, espuma ou algodão. A figura do espantalho pode não só espantar pássaros e demais ameaças para lavouras, mas também assustar quem, distraído, se deparar com o boneco que ainda serve como recurso de proteção em algumas propriedades da Região das Hortênsias.
Para homenagear esse divertido personagem, que remete a um tempo em que as plantações eram mais vulneráveis à ação da natureza, a Festa da Colônia, em Gramado promove anualmente a Festa do Espantalho.
A programação do evento reúne em desfile e deixa expostos uma dezena dos bonecos para também incentivar a presença deles no interior, ainda que de forma mais lúdica do que funcional. Ao final do evento, no dia 14 de maio, o melhor deles será premiado com o Espantalho de Cristal.
— O espantalho, por muito tempo, foi o representante do agricultor na lavoura, era a única maneira de protegê-la e se tornava um cuidador da plantação, enquanto ele não podia estar ali — conta o técnico agrícola e colaborador da festa Eliézer Nascimento de Lima.
Com sementes mais resistentes à ação dos pássaros, o hábito de ter um espantalho na propriedade ficou cada vez mais raro e a presença dos bonecos agora figura em casos específicos como hortas ou perto de árvores frutíferas.
— Cáqui, figo e morango, por exemplo, sofrem muito com a ação dos pássaros e cabe ao agricultor usar a criatividade para espantá-los. Às vezes, pode ser até um plástico que faça barulho com o vento. Cada um faz de um jeito, mas o importante é deixar flexível para que se movimente e não faça com que pombas e saracuras se acostumem com a presença do espantalho e passem a “desrespeitá-lo” — explicou Lima.
A dica do técnico agrícola é fazer com que as ameaças, que não se resumem apenas a pássaros, não passem, com o tempo, a ignorar a função do boneco que está ali para defender as frutas e grãos. Para isso, algumas estratégias são adotadas quando da instalação do espantalho:
— Tem que colocar em pontos estratégicos, na entrada, beiradas ou em pontos mais altos da lavoura. Antigamente, disparavam com armas para dar a entender que o boneco teria esse tipo de comportamento quando estivesse ali.
Outro problema, segundo Lima, são as lebres em hortas de brócolis e couve-flor. Nesse caso, os animais costumam ser afugentados com outro recurso curioso: cabelo humano.
— Sei de produtor que espalha os cabelos com perfume para assustar a lebre e ela achar que tem gente por ali — explica.
Alegoria voltará a ser exibida na propriedade
Até pouco tempo atrás, o agricultor da Linha Nova Pedro Cavichion, 69 anos, usava os bonecos para espantar as caturritas que insistiam em danificar a lavoura de milho. Com a mudança de plantio e o cultivo exclusivo de uvas, deixou de utilizar os espantalhos.
No entanto, o início de um processo para receber turistas na cantina familiar fará com que a alegoria retorne à propriedade, dessa vez para virar cenário de fotos.
— Na época que tinha maçã, pêssego e ameixa fazia (espantalhos) e os deixava nos cantos. Trocava-os de posição e (mudava) a cor das camisas há cada oito dias. Às vezes, dava até nome e quem vinha comprar vinho achava engraçado. Vou voltar a fazer, vai render umas fotos — acredita.
A troca de camisas citada por Cavichion segue o raciocínio de que não pode deixar os pássaros se acostumarem com quem deveria estar ali para afugentá-los.
— Uns dias ajuda, depois não ajuda mais. Se é sempre com a mesma cor se acostumam e fazem a festa — completa o agricultor.
Serviço
32ª Festa da Colônia – Unindo origens, celebrando tradições
:: Onde: Expogramado (Avenida Borges de Medeiros, 4.111, Centro)
:: Quando: de 27 de abril a 14 de maio de 2023, das 10h às 22h | Fechado nas quartas
:: Acesso à festa e ao estacionamento: gratuito
A programação completa você confere no site.