Encontrar um ponto de equilíbrio entre a realização de uma grande obra de saneamento e os impactos que ela provoca tem gerado discussões entre a comunidade e o poder público. É o caso da intervenção que promete resolver problemas de alagamento em Caxias do Sul e que também tem ocasionado a insatisfação de comerciantes e causado transtornos no trânsito. É o caso da Rua Atílio Andreazza, no trecho entre a Avenida Ruben Bento Alves (Perimetral Norte) e a Rua Conselheiro Dantas, no bairro Sagrada Família.
Desde a metade de abril, a via passa por obras de implantação de uma nova rede de canalização pluvial, o que provoca restrições na circulação de veículos. O trecho da Rua Atílio Andreazza, entre a Perimetral e a Rua Irmão José, está com o trânsito bloqueado — apenas com acesso permitido aos moradores e clientes das lojas. Mesmo assim, a redução na circulação é sentida por quem tem comércio na região.
Em uma ferragem, instalada há duas décadas na região, a movimentação diária de pessoas no estabelecimento caiu de 150 para 30 desde o início da obra. Além disso, segundo o responsável pelo local, Rogério Lizot, ficou mais difícil para os caminhões de transporte acessarem a loja. A reclamação é que os empreendedores tiveram pouco tempo para se organizar e avisar os clientes.
— Eles (prefeitura) simplesmente fecharam a rua e não falaram nada. Ficou um deserto — conta.
Em uma loja que faz serviços automotivos, a ausência de trânsito e dos carros também é observada. A proprietária do espaço, Shaiene dos Santos, tem conseguido atender somente os clientes antigos, que fazem contato via WhatsApp, e que são alertados sobre a possibilidade de acessar a via interrompida para ir até o estabelecimento.
Nos últimos dias, ela instalou uma placa, próximo ao desvio, alertando que o acesso para a loja estava liberado.
— Os únicos clientes que a gente atende é via online, que a gente consegue avisar que a loja está aberta. Hoje, a gente está sem fluxo nenhum na rua. Não fomos avisados antes para nos organizarmos, avisarmos os clientes, para a gente conseguir se manter — explica.
Os desafios também têm sido observados por quem precisa se deslocar pela região. Com o trecho bloqueado, o trânsito no trecho é jogado para vias do entorno, gerando congestionamentos, principalmente nos horários de maior movimento. O motorista Maicon de Abreu precisa ser pontual para transportar os estudantes, tarefa que tem sido mais difícil desde o início da obra.
— Desde que começou a obra, tenho que retornar por baixo e vir até aqui. Tem vezes que preciso ir com o ônibus de ré. Chego aqui 17h20min, 17h30min, tem movimento, e até eu fazer toda a volta lá embaixo, chego aqui em cima do laço para pegar as crianças — explica.
O que diz a prefeitura:
De acordo com o diretor-presidente do Samae, Gilberto Meletti, ações estão sendo adotadas para minimizar o impacto. Segundo ele, se o tempo colaborar, a obra deve avançar nas próximas duas semanas. Desta forma, será possível liberar parcialmente o trânsito na Atílio Andreazza próximo à rótula com a Perimetral — onde os trabalhos estão concentrados atualmente.
— Estamos procurando fazer a obra em módulos para que haja o acesso local por um lado e após, quando chegarmos no meio da obra, vamos ter acesso local nos dois lados. Eu sei que isso causa transtorno, mas é uma obra necessária, uma obra de grande envergadura, que está sendo feita pelo meio do leito. A gente fica sensível aos transtornos que estão sendo causados, mas é inevitável — explica.
A obra ficou parada na última semana devido ao clima. Meletti afirma que o Samae está organizando para que a obra, realizada pela empresa terceirizada Dalfovo Construtora, também possa ser executada aos sábados, permitindo avançar na realização do trabalho.
A intervenção pretende solucionar os alagamentos que há mais de 30 anos prejudicam os moradores da região. O investimento é de R$ 5 milhões para 811 metros de tubos que serão implantados no local. Com a melhoria, o novo traçado possibilitará que o fluxo da água da chuva não sobrecarregue a rede e nem invada as residências.
Os moradores da região não devem ter desabastecimento de água, já que a nova rede é voltada para a drenagem de água pluvial. A nova rede fará a ligação com outras duas já existentes, originando na BR-116, seguindo na Perimetral Norte e desaguando no Arroio Tega.
Sobre a sinalização, o secretário municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Alfonso Willenbring Junior, disse que haverá um levantamento para identificar o que é possível melhorar, mas que mantenha a orientação ao motorista de forma simples e objetiva, afim de não causar impactos negativos.