A história de Edgar José Oliveros Acosta, 37, encontrado morto na terça-feira (9) no banheiro do Frigorífico JBS, no bairro Ana Rech, em Caxias do Sul, é similar à da maioria dos venezuelanos que buscam no Brasil a oportunidade de melhorar de vida. Natural de Maturín, a cerca de 500 quilômetros da capital Caracas, Acosta estava há apenas um mês em Caxias do Sul. Os documentos que possibilitavam o trabalho no país foram regularizados em Boa Vista (RO), na cidade que é porta de entrada de milhares de imigrantes vindos da Venezuela.
Em Caxias, Acosta morava com a irmã e um cunhado no bairro São Cristovão e, por indicação de uma prima, começou, na semana passada, a trabalhar na unidade do frigorífico no bairro Ana Rech.
Na terça-feira (9), ele cumpria seu quarto dia de trabalho no primeiro turno do frigorífico quando, segundo colegas, sentiu-se mal e procurou a enfermaria da empresa. No setor, teria sido informado que poderia estar com frio e lhe foi solicitado para que retornasse ao serviço.
Horas depois, Acosta foi encontrado morto em um banheiro. Pela burocracia de transladar o corpo a terra natal, os poucos familiares de Acosta na cidade optaram pelo sepultamento em Caxias, no Cemitério Santos Anjos.
Há um ano e dois meses na empresa, a prima Isyurkis Rojas, 20, lamentou a morte do familiar e, assim como colegas que cobram explicações da empresa, tenta entender as causas do falecimento.
— Foi surpreendente. Até onde sabíamos, ele não tinha nenhuma doença. Veio a Caxias para ter uma vida melhor, pois estava desempregado na Venezuela. Essa é a esperança de cada um de nós. Meu primo estava feliz por ter conseguido emprego, falou no primeiro dia que tinha gostado do trabalho e que era bom ter colegas venezuelanos.
Filho mais velho de sete irmãos, Acosta deixa os pais, que estão no país de origem, e seis irmãos, entre eles Marielis Oliveros, 33, que está há um ano em Caxias e era sua referência na cidade.
— Meu irmão gostava de música, era um homem feliz apesar das dificuldades. Precisei avisar meus pais na Venezuela e outros dois irmãos que estão no Chile. É muito triste.
As circunstâncias da morte serão investigadas pela Polícia Civil. Segundo o delegado Rodrigo Duarte, da 1ª Delegacia de Polícia de Caxias, um inquérito já foi instaurado, mas a causa da morte de Acosta só poderá ser confirmada com o laudo necroscópico, que não tem data para ser entregue.
O departamento jurídico da JBS afirmou que só se manifesta por nota: "A JBS lamenta o falecimento de um colaborador nesta terça-feira (09/05), na unidade de Ana Rech. A Companhia se solidariza com seus familiares e amigos, e está prestando todo apoio necessário à família nesse momento de profunda dor e tristeza".
Questionada pela reportagem, a empresa não se manifestou sobre o pedido de atendimento feito pelo funcionário à enfermaria.