É o aroma de laranja que domina a cozinha do salão da comunidade São Jorge, no interior de Garibaldi, quando homens e mulheres se reúnem para preparar a massa do grostoli. As raspas da fruta são o diferencial da receita mantida há décadas e criada para comercialização do doce desde a instalação de uma vila típica na Festa do Espumante Brasileiro, a Fenachamp.
Na tradição que começou com os primeiros imigrantes italianos na Serra, ingredientes como ovos, farinha, nata e fermento se transformam em massa que, depois de frita e polvilhada com açúcar se torna desejo de adultos e crianças.
A receita ganhou forma e quantidade na noite de quarta-feira (19) quando 300 quilos foram preparados para o Festival do Grostoli que ocorre nesta sexta-feira (21), sábado (22) e domingo (23) em frente à Igreja Matriz de Garibaldi. Para que tudo esteja pronto para a festa, 14 comunidades se reuniram ao longo dessa semana para consolidar a tradição, de juntas, preparar a iguaria.
Como em uma grande família, os moradores de São Jorge dividiram as tarefas organizadas por mulheres que enxergam no preparo do grostoli uma representação de afeto, entre elas, Lourdes Lazzari, 66 anos, que orientava os responsáveis por cada etapa do preparo para que tudo saísse como o planejado.
— Organização e medidas exatas. Quando cada um é responsável por um ingrediente, é que a receita sai de uma forma especial. Faço grostoli há 50 anos e entendo o quanto ele pode ser encantador para quem come — contou Lourdes.
Espírito comunitário
Protagonista do festival criado em 2022, o grostoli além de reunir famílias agora contribui para o desenvolvimento e a união das comunidades de Garibaldi. Depois de residir 11 anos em São Paulo, a professora Paula Fontana Leiva, 46, natural de Lajeado, encontrou na Serra vizinhos dispostos a se doar para manter viva uma tradição.
— Viemos morar aqui há três meses e me envolvi com a comunidade logo que cheguei. Não imaginava que as pessoas eram tão unidas, todo mundo quer fazer acontecer. Acho que é uma coisa rara que não se encontra em qualquer lugar. É gratificante ver o que conseguimos realizar juntos — disse.
Produto final do espírito coletivo, o grostoli ainda é sinônimo de reunião familiar, carinho e memórias afetivas que só a culinária pode proporcionar. De tanto presentear a família ao preparar a receita, Odete Lazzari, 73, garantiu que o neto Lorenzo, 10, aprendesse o jeito de fazer o doce apenas observando.
— Falar de grostoli é falar de família. Antigamente, como não tinham grandes variedades de lanches, era o que as mães faziam de diferente para agradar a família. E segue assim, meu neto de 10 anos fica muito contente quando fizemos. É uma maquininha torcendo o grostoli — confidenciou.
Doce finalizado aos olhos do público
O serviço realizado pelo neto de Odete em casa será repetido por dezenas de mãos e aos olhos do público. A massa preparada durante a semana passará por rolos, ser[á cortada em pequenos losangos e “torcidas” para finalmente serem fritas em óleo quente.
O açúcar é a última etapa antes da massa chegar fofa à boca do consumidor. Para harmonizar no festival, haverá café, cerveja artesanais e espumante. E para embalar a festa, música com grupos folclóricos. O pacote com 10 unidades do doce será vendido a R$ 15.
Em julho do ano passado, a primeira edição da festividade reuniu mais de 22 mil pessoas em dois dias, com 350 mil grostolis consumidos e 1.050 garrafas de vinhos e espumantes comercializadas.
O Festival do Grostoli é uma realização da prefeitura de Garibaldi, por meio da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura, e do Grupo RBS.