Alimentação pouco ou quase nada industrializada durante a vida, muito trabalho até pouco tempo atrás e para passar o tempo missas televisionadas e crochê. Hábitos em comum de três senhoras de 99 anos, moradoras de Veranópolis e que completarão em 2023, cem anos de vida.
Diariamente superando as limitações impostas pela idade avançada, Olivia Lazzaroto, Cesira Zuchinali e Maria Benetti chegarão ao centenário nos meses de agosto, novembro e dezembro, respectivamente.
Pilares da família, as veranenses têm histórias parecidas moldadas na simplicidade da rotina de uma pequena cidade. E quando finalmente chegarem ao cem anos poderão contribuir com a possibilidade de tornar Veranópolis uma blue zone, a categoria dada à cidades com maior concentração de idosos.
A mais velha delas e primeira a poder se tornar centenária, Olívia Mazzarolo Lazarotto nasceu em 10 de agosto de 1923, perdeu a mãe com dois anos e foi criada pelas irmãs. Na colônia realizou todo o tipo de serviço que a agricultura despende, plantou amendoim, batata, cortou madeira e vendeu lenha para sobreviver. Do casamento vieram os filhos e com o passar dos anos a luz elétrica possibilitou que o crochê, hábito que conserva até hoje, fosse feito também durante a noite.
— De nova era só com a luz do chiareto (lamparina em italiano). Tudo que a gente comia e vivia vinha da terra, só se comprava açúcar e farinha em saco pra fazer o pão no forno uma vez por semana. Se vivia assim, não com tanta comida como agora e afinal a gente viveu bem — conta Olivia.
É na cozinha e ao lado do fogão, na casa grande à beira da BR-470 e que nos fundos conversa ares de interior, que Olívia passa grande parte do tempo manuseando agulhas e linhas de crochê. Foi ali que criou os oito filhos e viu nascer 13 netos e três bisnetos. A quase centenária ainda tem a sorte de ser acompanhada de perto por uma das netas, Joana Maria Lazarotto, 25, que quando pode visita a avó e compreende que é o modo de vida que a fez chegar até aqui.
— Nem é de acreditar, parece que ela vai viver pra sempre porque é tão normal ter ela aqui. Ter uma avó quase nos cem hoje dia é raríssimo. Somos vizinhas então temos uma ligação muito próxima. Acho que a proximidade do centenário tem é principalmente motivada pela fé, paciência e jeito de levar a vida — contou.
Se é o joelho que mais incomoda Olívia e que a faz necessitar da bengala diariamente, são os problemas pulmonares que acometem a cozinheira aposentada Cesira Zuchinali, outra contemporânea de 1923 e que em novembro completará cem anos. Há dois anos respirando com o auxílio de oxigênio, Cesira Zuchinalli não se deixa abater e mantém a lucidez em dia e sempre com os filhos por perto.
— Nunca imaginei chegar a essa idade, mesmo que nunca tenha fumado, sempre convivi com quem fumava e hoje tenho dado trabalho — disse à reportagem.
São sete herdeiros, e apenas um, Claudia Zuchinalli, 57, como menos de 60, idade em que direitos começam a ser assegurados pelo Estatuto da Pessoa Idosa. Os filhos cresceram vendo a mãe trabalhar em um dos mais famosos restaurantes de Veranópolis e criar o reconhecido evento Mondongo da Cesira que beneficiou diversas entidade do município.
— Ela é persistente, nunca deixou a gente reclamar, então é uma força que ela tem e que fez ela chegar até aqui — disse Clarice Fin, 65, uma das filhas de Cesira.
A última moradora de Veranópolis a completar 100 anos em 2023 será Maria Theresa Benetti que nasceu no interior e desde muito jovem se mudou para a cidade com um tio para ajudá-lo nas tarefas. Trabalho nunca foi problema e o serviço doméstico e rural ajudou a manter o espírito otimista que conserva até hoje.
Falante e bem humorada, Maria Theresa lembra com exatidão dos serviços prestados em um seminário e do casamento tardio para a época, com 39 anos. Se casar perto dos 40 anos já na era comum, imagine ter tempo ainda para gerir três filhos, Amarildo, Odete e Elisete, hoje com 60, 56 e 55 anos, respectivamente.
— Me admiro ter chegado até aqui, trabalhei muito, mas isso nunca foi problema, nunca tive preguiça. Sempre comi pouco, mas adoro churrasco e o importante é não ir dormir de estômago cheio e nem beber demais —
As dicas de Maria Theresa são compartilhadas por especialistas que estudam a longevidade de Veranópolis e contemporâneos do trio de quase centenárias. Atualmente o município conta com 38 nonagenários.