A falta de acessibilidade é um empecilho que afeta pessoas com deficiência (PCDs) diariamente. Justamente para barrar os muros impostos no dia a dia dessas pessoas, três brinquedos inclusivos foram instalados no Parque Getúlio Vargas (Parque dos Macaquinhos), em Caxias do Sul. Entretanto, devido à depredação e ao uso indevido, os brinquedos já precisaram passar por manutenção seis vezes desde sua instalação, em dezembro de 2022.
A última delas ocorreu no início de abril, quando os brinquedos tiveram sua estrutura reforçada e foram encaminhados ao conserto. Por isso, nesta terça-feira (11), a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (Smel), realizou a reinstalação do gira-gira e da gangorra adaptados para PcDs.
A prefeitura argumenta que há brinquedos destinados ao público em geral. No total, o espaço do parquinho conta com um playground multibrinquedos, quatro balanços cadeirinhas, oito balanços convencionais, quatro balanços lambreta, cinco gangorras, três escorregadores e uma corrente de equilíbrio. A orientação da Smel é para que os brinquedos inclusivos sejam prioridade das pessoas com deficiência para evitar novas manutenções. Por isso, eles têm placas indicativas com a frase "equipamento destinado a cadeirantes".
Contudo, na data de reinstalação dos brinquedos, um morador estava no parque acompanhado de sua filha de quatro anos. Segundo o relato da assessoria da Smel, os dois estavam de pé no acento do balanço inclusivo. Diante da cena, um dos servidores municipais abordou o pai com o intuito de instruí-lo a utilizar os brinquedos para pessoas sem deficiência, já que estavam livres.
Apesar de ter deixado o local, o morador realizou uma reclamação no Alô Caxias, alegando ter sido constrangido pela equipe, que, segundo ele, informou que os brinquedos eram exclusivos para PCDs. O morador questionou como poderia haver inclusão se as crianças não poderiam dividir os mesmos brinquedos. A prefeitura esclarece que a inclusão se dá pela própria presença dos brinquedos adaptados e também porque eles possuem acentos destinados às pessoas sem deficiência permitindo a interação entre as crianças.
Além desse caso, a Smel já recebeu diversos relatos de pais de crianças PCDs que não conseguem usufruir dos brinquedos porque, quando chegam ao parque, eles estão sendo ocupados por crianças sem deficiência. Dessa forma, a má utilização dos equipamentos, conforme o município, acaba por aumentar ainda mais a exclusão das pessoas com deficiência.
— Não são brinquedos exclusivos, são inclusivos. Foi feito todo um estudo para colocar esses brinquedos em locais para ter inclusão. Os brinquedos inclusivos foram colocados no mesmo local que os demais justamente para promover a inclusão das pessoas com deficiência. Essa é uma questão de conscientização. Se as pessoas não se conscientizarem, não vai adiantar nada. Quem dera um cadeirante poder usar um balanço normal, andar na gangorra e em todos os brinquedos do parque. Mas, infelizmente, não pode, então, esses brinquedos já foram feitos pra essa finalidade — disse o cadeirante e gerente administrativo da Smel, Manoel de Meira Góis Sobrinho.
O secretário de Esporte e Lazer, Gabriel Citton, também destacou que os brinquedos inclusivos foram colocados no Parque dos Macaquinhos justamente por ser o de maior circulação de pessoas. Entretanto, caso os brinquedos voltem a ser quebrados, eles serão retirados do local.
— A educação é a chave, por isso estamos planejando ações de conscientização. Se quebrarem mais duas ou três vezes, vamos ter que retirar os brinquedos, porque não tem como deixar quebrado. E quem vai perder com isso não são as pessoas que não precisam, mas sim as que precisam. São apenas três aparelhos, em um universo de vários, para as crianças que não têm deficiência. Em alguns casos específicos, a má utilização acaba atrapalhando a oportunidade de pessoas deficientes utilizarem os aparelhos e podem resultar em acidentes. Então, pedimos, mais uma vez, que a comunidade entenda a importância de não utilizar os equipamentos de forma abusiva — disse.
Para instalar os brinquedos, foi necessário um investimento total de R$ 33 mil, valor arrecadado por meio de doações por uma ação conduzida pelo vereador Gilfredo de Camillis e pela Associação Caxiense de Atenção ao Idoso (Scan).