O ataque à creche Cantinho do Bom Pastor em Blumenau (SC), em que quatro crianças foram mortas por um homem de 25 anos, ecoa em todo o país com a preocupação de pais, responsáveis e professores. Em Caxias do Sul não é diferente. Nesta quinta-feira (6), um dia após o atentado, o clima era de tensão em frente às instituições de ensino.
Em uma escola infantil privada na região norte de Caxias, após o atentado, a direção recebeu uma "enxurrada" de mensagens. Para tranquilizá-los, um comunicado foi feito, em que as instruções de segurança também foram relembradas. Para proteção das crianças, a unidade conta, por exemplo, com empresa de segurança 24 horas, muro com cerca eletrônica e sistema de travamento. No local só entram pais ou responsáveis autorizados portando documento com foto.
— Entendemos o lado deles, é tão perto da gente — relata uma funcionária sobre a preocupação dos pais e responsáveis.
Para uma mãe, que deixava as filhas ali, a notícia foi um choque. Mas, ela reforça que os pais devem confiar na segurança do local:
— Temos que confiar na escola. Quando fiquei sabendo, acabou com o meu dia. Eu confio na direção e medidas foram tomadas.
"Gerou medo"
O clima era parecido em uma creche particular na área central. Da mesma forma que na outra escola infantil, após o caso de Blumenau, a direção procurou entrar em contato com os pais e responsáveis para reforçar as medidas de segurança. Um lembrete importante foi sobre a chegada e saída das crianças. Nas duas escolas, funcionários acompanhavam de perto a entrada dos pequenos.
— Gerou medo, pavor. Precisamos nos organizar em uma situação dessas quanto ao funcionamento — observou uma proprietária, notando que desde o ataque, os pais passaram a observar que o local tem cerca eletrônica, por exemplo, detalhe que antes passava despercebido.
Desde os últimos anos, por situações descritas como "do cotidiano", escolas e creches já passaram a focar em estrutura de segurança. A vice-presidente do Sindicato das Instituições Pré-Escolares Particulares (Sinpré) de Caxias, Marina Dallegrave, explica que as escolas particulares têm como orientação ter pátios fechados e cercados, em normativo de segurança que vem do Estado.
— O que orientamos a pais, comunidade, (escolas) associadas e proprietárias é que redobrem o cuidado, que enviem um comunicado para as famílias reforçando a importância de fechar portão, de quando está acessando a escola e tem alguém atrás, que feche o portão e deixe que essa outra pessoa toque a campainha. De ter o cuidado que nem todos possam ter acesso às escolas — informa Marina.
"O filho é o bem maior"
Pelo menos desde 2016 o Colégio Madre Imilda tem um investimento maior em segurança, o que tranquiliza pais e responsáveis neste momento. Com o ataque na creche catarinense, a escola da rede privada logo entrou em contato com a comunidade escolar como forma de acalmar a todos. Além de seguranças contratados, a instituição tem ainda sistema de monitoramento e um controle rigoroso de quem pode entrar no local.
Como relata a diretora, Vanessa Rodrigues, a novidade que está em implementação é um sistema de catracas com biometria para acesso de pais e estudantes — há também o acesso com cartões, mas que são autorizados apenas pela escola. No estacionamento, da mesma forma, o veículo da família precisa ter um adesivo para identificação.
— É algo que nos impacta, porque são crianças e a vida vale mais do que qualquer coisa. O filho é o bem maior, o mais precioso. Para nós é um compromisso muito grande — reflete a diretora.
Vanessa sabe que nem todas as escolas podem ter os mesmos recursos, por ser um investimento alto. Mas, entende que é um caminho a ser seguido por outras instituições de ensino.
— Ninguém espera algo desse tipo, mas tem que estar preparado para evitar — afirma.
Outras escolas da rede privada também reforçaram que seguem com medidas de segurança e com monitoramento para proteção dos estudantes e colaboradores, além de buscarem investir ainda mais nesse tipo de estrutura. Em nota, o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe-RS) pede fortalecimento na vigilância:
"Diante dos tristes fatos ocorridos nos últimos dias contra as escolas, mas principalmente, contra as pessoas que nelas se encontram, o Sinepe/rs orienta para que a vigilância e a preventividade sejam fortalecidas e que, diante de qualquer sinal que aponte algum transtorno, as autoridades competentes sejam imediatamente comunicadas.
Orienta, também, para que acolham com atenção a Comunidade Educativa e continuem com as atividades programadas, transmitindo a todos segurança e confiança, atitudes indispensáveis nesses momentos. Que aos comentários feitos através das mídias para tumultuar o ambiente escolar sejam identificados e combatidos e que aos alunos se sintam protegidos e amparados".
Segurança nas escolas públicas
Por meio de nota, a Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS) de Caxias do Sul lamentou o episódio ocorrido em Blumenau (SC) que vitimou quatro crianças em uma escolinha de Educação Infantil e também acredita que a invasão tenha sido um fato isolado.
Conforme a SMSPPS, “a Guarda Municipal de Caxias do Sul atua há 25 anos no município sempre zelando pelo bem da população, sob as premissas da proteção dos direitos humanos fundamentais, do exercício da cidadania e das liberdades públicas, redução do sofrimento e diminuição das perdas”.
Ainda conforme a nota divulgada pela pasta municipal, a Guarda costuma atuar em conjunto com as demais forças de segurança, como a Brigada Militar e a Polícia Civil, para auxiliar no monitoramento das escolas do município. “A GM atua em consonância e de forma integrada com ações preventivas e rondas diárias de monitoramento nas entradas e saídas dos turnos escolares, bem como o pronto atendimento a qualquer chamado de sinistro ou ocorrência isolada”, reforça o comunicado.
Além disso, a secretaria relembra que está em processo de implantação na cidade o cercamento eletrônico e de videomonitoramento, “que auxiliará no controle efetivo da segurança no município” e “permitirá maior presença do efetivo nas ruas”. Além disso, a Guarda Municipal, conforme a nota, ganhará 23 novos servidores em junho deste ano, aumentando o efetivo para 171 agentes, todos “utilizando câmeras de corpo que registram as ações em tempo integral”.
Reunião entre promotores do MP
Na tarde de quarta-feira (5), a administração superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) se reuniu para que os promotores pudessem compartilhar informações dos trabalhos nas áreas de inteligência e educação no que se refere à segurança nas escolas. Segundo o procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, a intenção do encontro foi ouvir os colegas do interior que atuam com a matéria para saber a situação em suas comarcas, oferecer apoio, trocar experiências e definir ações que podem ser adotadas dentro das atribuições do MP-RS. Na quinta, um novo encontro estava marcado com promotores Criminais e da Educação sobre projetos voltados à segurança nas escolas e mediação de conflitos.
Esclarecimento sobre a cobertura
GZH (ZH/DG/Rádio Gaúcha e Pioneiro) decidiu não publicar o nome, foto e detalhes pessoais do assassino de Blumenau. As pesquisas mais recentes sobre massacres deste tipo mostram que a visibilidade pública obtida pela cobertura da mídia pode funcionar como um troféu pelos autores, e estimular outros a cometer atos similares. A linha editorial dos veículos da RBS em outros casos recentes já vinha sendo a de não retratar estes criminosos em detalhes, noticiando apenas o nome e informações resumidas sobre eles. Ao restringir ainda mais esta exposição, medida também tomada por outros veículos de jornalismo profissional, buscamos colaborar para que os assassinos não inspirem novos atos de violência extrema como o de quarta-feira (5).