Um levantamento do Sindicato Médico de Caxias do Sul aponta que dos 2,2 mil médicos que atuam na cidade, apenas 180 atendem a pacientes pelo IPE Saúde. Atualmente, 12.770 pessoas, entre elas, servidoras das forças de segurança, como Brigada Militar (BM), Bombeiros e Polícia Civil, professores e funcionários de escolas dependem do atendimento no município. Em 22 de abril do ano passado, eram 13.073 associados, conforme informado pela assessoria de imprensa do IPE.
Apesar de constar no topo da lista do site do plano de saúde 201 profissionais, apenas 186 estão cadastrados. Destes, há 33 nomes repetidos em mais de uma especialidade, o que significa que o número de médicos que atendem pelo plano pode ser ainda menor.
A reportagem realizou entre terça (11) e quarta-feira (12) um levantamento que aponta especialidades com poucos profissionais cadastrados, médicos que não aceitam pacientes novos e outros que já se descredenciaram, mas seguem no guia médico (confira abaixo).
— Pedi afastamento pelo período de 90 dias com posterior descredenciamento definitivo se novas política não forem instituídas nesse período — afirma um médico, que prefere não se identificar.
Ele cita as formas de remuneração, atrasos, prazo contratual de pagamento de 180 dias e a falta de cobertura de material médico como motivos para se descredenciar:
— A demanda do IPE é interminável, pelo modo de anexação de dependentes sem muito critério por custo irrisório. A própria contribuição do IPE, da grande parte do usuário, é insignificante frente ao custo da saúde — relata.
Paralisação não teve reflexo em Caxias, mas situação preocupa
As consultas não foram impactadas pela paralisação das atividades da categoria, que ocorreu de segunda (10) até esta quarta-feira (12). A suspensão dos atendimentos foi definida em assembleia geral do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), realizada dia 3 de abril. A intenção é pressionar o governo do Estado a atualizar a tabela de honorários médicos praticada pelo IPE que, segundo a entidade, está defasada há 12 anos.
Mesmo sem impacto direto em Caxias, os pacientes temem ter cada vez mais restrições no atendimento. Isso porque, além do número cada vez mais baixo de médicos cadastrados, o IPE não tem sede em Caxias do Sul desde 2019. Segundo a assessoria de imprensa do IPE Saúde, todos os serviços estão disponíveis de forma online. Também há atendimento presencial na Agência do Tudo Fácil, no segundo andar do Shopping Bourbon San Pellegrino.
A Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar e Bombeiros Militares (Abamf) instalou um ponto de atendimento para policiais militares e bombeiros. A entidade também acompanha de perto os desdobramentos provocados pela crise do IPE, que impactam no atendimento.
Conforme o presidente da entidade, Julio Haito, uma das dificuldade é a demora para consultas especializadas que, segundo usuários, leva de dois a três meses:
— Temos um problema grave aqui em Caxias que é a falta de plantão pediátrico. Para atendimento de urgência e emergência, levamos nossas crianças a Farroupilha. Somos bem atendidos no Hospital São Carlos, mas é um absurdo uma cidade como Caxias não ter esse atendimento — acrescenta.
O IPE chegou a negociar com o Hospital do Círculo, mas o contrato não foi colocado em prática até o momento, segundo ele. Outro ponto que o presidente da Abamf menciona são as cobranças feitas pelos médicos, que estão bem acima da tabela e são frequentemente denunciadas pelos usuários.
— Nós pagamos por esse serviço, é a quinta maior autarquia do Estado, os valores são descontados em folha e nós não temos um bom atendimento — reclama.
Sindicato Médico ressalta que o problema se arrasta há 25 anos
O presidente do Sindicato Médico de Caxias do Sul, Marlonei Silveira dos Santos, diz que esse é um problema vivenciado há 25 anos. Tanto é que, segundo ele, os profissionais cadastrados ao plano já fizeram outras greves na cidade. Marlonei conta que o IPE processou o sindicato três vezes e perdeu nas três. Ele ressalta que dos 180 médicos que atendem pelo plano na cidade, muitos não atendem mais cirurgias ou consultas eletivas.
— Os locais de atendimento de urgência e emergência hoje se reduzem ao Hospital Pompéia e ao Virvi Ramos. Os pacientes que não tem nada a ver com esse problema é que são prejudicados — destaca.
De acordo com os hospitais Pompéia e Virvi Ramos, os atendimentos não foram prejudicados até o momento pela paralisação.
Levantamento
O levantamento do Pioneiro mostra que há especialidades com poucos profissionais cadastrados. Além disso, há médicos que já se descredenciaram ou o telefone está errado ou com problema. Um exemplo são os pediatras: há três credenciados e, destes, um aceita pacientes novos e outros dois não atendem o telefone. No caso dos dermatologistas, são 13 especialistas, sendo que apenas dois atendem pacientes novos.
Entre os 12 ginecologistas, quatro atendem quem já é paciente, três atendem novas pacientes, um se descredenciou e os demais a reportagem não conseguiu contato. Dos oftalmologistas, três não realizam consultas, dois não atendem pacientes novos, um atende e, em cinco casos, a ligação não foi completada.
No caso da Ortopedia e Traumatologia são 22 médicos cadastrados, com nove ainda atendendo pelo plano e dois apenas para quem já é paciente. Os demais não atenderam as ligações. Além disso, há 14 cardiologistas, sendo que três atendem, um só atende quem já é paciente, dois se descredenciaram, três atendem no Pompéia e os demais não atendem o telefone ou o contato está errado.
Contraponto
"Em relação ao anúncio de paralisação de médicos nesta semana, o IPE Saúde esclarece que está com o funcionamento normal de seus sistemas e orienta os segurados a buscar alternativas de atendimento no Guia Médico Hospitalar, que traz possibilidades de médicos, hospitais e demais tipos de prestadores credenciados no guia médico hospitalar, no site - hoje, há um total de 6.466 médicos, 244 hospitais, 660 laboratórios e 54 pronto socorros credenciados ao IPE Saúde em todo o estado.
O Instituto salienta que vem monitorando os atendimentos, que permanecem regulares. O Sistema recebe, em média, 11 mil consultas por dia até as 21h e nesta segunda-feira, até as 17h, foram mais de 9 mil consultas registradas. Além disso, o IPE Saúde tem trabalhado, junto com o governo do Estado, na implantação de um amplo projeto de reestruturação, que será apresentado à sociedade, servidores e prestadores em breve.
Por enquanto não há registros reclamações nos canais de atendimento e na Ouvidoria do Instituto. Em caso de irregularidades, os usuários podem procurar a Ouvidoria."