A Escola Estadual de Ensino Médio Paulo Freire, em Caxias do Sul, é a única da rede estadual que está fora da lista do governo do Estado para receber reformas em 2023. Com capacidade para 40 alunos, o colégio fica em um prédio anexo ao Centro de Atendimento Socioeducativo (Case), no bairro Reolon. Atualmente, 27 adolescentes que cumprem medidas socioeducativas frequentam as aulas. Na manhã desta quinta-feira (23), o silêncio era quebrado apenas pelo som de cadeados e de ferrolhos de portas.
A reportagem percorreu o prédio do Case, onde antes funcionava a escola, e, ao chegar no anexo, o cenário muda, tanto em relação à iluminação, quanto ao colorido da escola. Há uma pintura do educador Paulo Freire e mensagens inspiradoras em banners e bilhetes pendurados no teto, inclusive, de boas vindas. Também há livros logo na entrada em uma pequena estante.
Os adolescentes saíram dos dormitórios, que ficam no andar superior, do prédio do Case, acima da quadra de esportes, tomaram café e seguiram com os monitores em direção ao prédio do colégio. Eles foram recebidos pela diretora, que entregou a cada um deles um bombom para marcar o início do ano letivo em 2023. Antes que eles entrassem nas salas, os monitores vistoriaram todos os espaços. Depois disso, as salas foram fechadas.
Como a realidade do colégio é outra em vários aspectos, a diretora da escola, Thaís Enara Velho, acredita que um somatório de fatores leva a escola a este patamar. O primeiro ponto é que o prédio foi inaugurado em maio de 2019, e portanto, não precisa de obras estruturais como a maioria das escolas estaduais. O segundo é que a administração e repasse de recursos é compartilhada entre a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) e a Secretaria de Justiça, uma vez que a Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) é vinculada à pasta.
—A escola faz bom uso da verba extraordinária, que garante pequenas reformas e melhorias e, como nossa gestão é compartilhada, muitas coisas são repassadas pela Fase. Então são duas secretarias responsáveis pela conservação e manutenção do prédio, trabalhando juntas Acredito que é um somatório: a escola é nova, usamos bem a verba, temos essa responsabilidade compartilhada e mantemos a estrutura. A gente procura colocar em dia tudo que precisa. Quando estraga uma porta, a gente já arruma, queima uma lâmpada, a gente já troca. Então a gente faz a manutenção, e usa de maneira consciente essa verba extraordinária que vem do governo — afirma a diretora.
Com a verba extraordinária, foram realizados melhorias na escola, como a colocação de cerâmica nos banheiros e na cozinha. A direção realiza o levantamento do que é necessário e utiliza os recursos da autonomia financeira. Além dessa verba, a escola recebe apenas a referente à merenda. O colégio não tem Círculo de Pais e Mestres (CPM), para promover eventos, mas, mesmo assim, a direção consegue manter a escola conservada. Outro ponto, segundo a diretora, é o cuidado dos adolescentes com o prédio e todo o material escolar:
— Eles cuidam da escola, eles participam de toda a organização quando nós temos eventos e ajudam na manutenção e participam da limpeza da escola. Eles estão sempre atuando e cuidando junto com os professores. Os alunos cuidam do material, eles não depredam a escola, não riscam as classes e não estragam o material. A escola é muito bem conservada também pelos alunos que têm esse carinho.
A diretora ressalta que o novo prédio também reflete nos resultados conquistados pelos alunos:
— A gente fica orgulhosa quando sai o resultado do Enceja e quando eles voltam pedindo o histórico para prestar vestibular. Um dos nossos alunos se formou aqui, e agora passou no vestibular e vai cursar faculdade. Eu estou aqui há 24 anos, e sou diretora desde 2014. Moro no bairro Reolon, aqui bem perto, e tenho um sentimento especial. Quando vim trabalhar aqui, a diretora foi bater na minha porta e eu disse que não, porque estava me formando, e uma das minhas professoras disse: "o desafio de ensinar em todos os lugares é para vocês que estão começando". Vim para ficar um tempo, e estou aqui até hoje. Somos uma equipe.
Há cinco salas de aula, biblioteca, laboratório de informática, banheiros e sala para materiais pedagógicos, além da área administrativa onde fica a secretaria, sala de professores e da direção. Os estudantes também podem cursar a Educação para Jovens e Adultos (EJA).