A falta de acessibilidade costuma ser um desafio diário para muitas pessoas com deficiência em Caxias do Sul. E foi pensando justamente em atender a este público que empreendedores do município começaram a investir em carros adaptados e no acompanhamento durante os deslocamentos. Essa novidade traz alívio a quem depende do serviço, caso do estudante Douglas Kusse, que perdeu o movimento das pernas e dos braços há sete anos após ter sofrido um acidente em uma piscina.
— Até consigo entrar no carro do meu pai, com a ajuda dele e da mãe, mas é muito difícil para ambos — relata.
Presenciando a dificuldade diária enfrentada por Douglas para a locomoção que a tia do jovem, Erondina Brando, teve a ideia de adaptar o carro. O veículo possui uma rampa de acesso, que dá agilidade no embarque e desembarque aos cadeirantes, como o sobrinho.
— A gente começou a perceber o quão difícil era para ele se locomover. Quando precisa sair, tem que tirar da cadeira e colocar no carro e isso gera problemas. No carro adaptado, o cadeirante é transportado na própria cadeira — explica Erondina.
Além de ajudar o sobrinho, Erondina ainda encontrou uma atividade diária, oferecendo o serviço de transporte por aplicativo para outras pessoas. Atualmente, ela transporta cerca de 10 clientes por mês e garante: é muito mais que um negócio.
— Estou bem feliz porque estou trabalhando, sim, mas também ajudando. Só de proporcionar uma melhor qualidade de vida a eles me deixa muito feliz — complementa.
Além de atender a um público pouco assistido, o investimento também é visto como um diferencial na busca por competitividade. Apesar de toda a frota de ônibus de Caxias do Sul ser adaptada, a cidade conta com apenas um táxi destinado exclusivamente para cadeirantes.
— Meu sentimento é de liberdade. É mais fácil, sou mais capaz de poder sair até sozinho e ir para qualquer lugar — salienta Douglas.
Com o crescimento de veículos adaptados nas ruas do município, maior é a facilidade também para a aposentada Flávia Scarioti, que costuma se desdobrar para cuidar do marido de 80 anos, que utiliza cadeira de rodas.
— Mudou totalmente a rotina de vida. Ele estava em casa sempre no quarto, com difícil acesso para descer. Com o transporte, agora ele pode visitar os filhos, amigos, ir para a missa. Isso não tem preço — destaca ela.
Foi também pensando em atender a esta demanda que a empresária Cristiane Oliveira investiu quase R$ 200 mil em um carro que leva conforto e segurança aos passageiros. E o trabalho vai além. Ela busca os clientes dentro de casa e ainda acompanha as atividades que exigem maior atenção.
— Levo até o médico, na fisioterapia... Os acompanho porque muitas vezes existe a necessidade de entrar no consultório e aguardar o procedimento médico — relata.
A aposentada Alice Teresinha de Lavra Pinto Moraes é uma das clientes de Cristiane. Ela se sente mais independente com o serviço oferecido.
— Ela me leva onde preciso, me espera, entra comigo nos consultórios como se eu tivesse uma pessoa realmente sempre comigo. Isso é tudo para mim — diz Alice.
— Eu me surpreendo a cada acompanhamento que faço porque percebo a gratidão. Percebo a pessoa realizada, segura — complementa Cristiane.