São cerca de 15 minutos de preparação para uma performance que tem chamado a atenção de motoristas e pedestres na calçada da Avenida Júlio de Castilhos, no centro de Caxias do Sul. A poucos metros da esquina com a Rua Garibaldi, depois de muito se movimentarem embaixo de uma lona preta, dois artistas surgem um acima do outro, como se um deles levitasse, aparentemente apoiado apenas com uma das mãos sobre uma vara de bambu. O outro, por sua vez, sustenta o colega aparentemente também com apenas uma das mãos.
A cena tem despertado grande curiosidade e, claro, gerado especulações divertidas: seria truque? força física? um poder paranormal?
A aposentada Maria Elizabeta de Oliveira, 71 anos, não só parou para assistir como voltou uma vez mais para conferir o que se passava por ali e tentar entender melhor a atuação da dupla.
— Vi eles saindo para almoçar e pedi que horas voltavam. Queria ver como se preparam. Eu acredito que o pensamento tem força, vai ver que ele se concentra ali e consegue manter o colega no alto — opinou.
Ainda que acredite em histórias envolvendo o poder da meditação, Maria entende que exista um truque por trás do espetáculo, um artifício escondido que possibilite a ilusão criada pela dupla, mas ela prefere deixar a especulação no campo da curiosidade e dar créditos à criatividade dos artistas. Afinal, revelar o segredo tira a graça da magia.
— Cada um acha uma força para sobreviver, é uma forma de ganhar um dinheiro com sua habilidade. E eu admiro isso — contou a aposentada, que contribuiu com R$ 5 aos artistas.
Vindos da Venezuela, Yolman Millan, 44, e Misael La Cruz, 19, encontraram na tradição do hinduísmo uma forma de ganhar dinheiro e apresentar a arte que já desenvolviam no país de origem. Obviamente, eles não revelaram à reportagem qual é o segredo da apresentação que, aparentemente, contraria as regras da gravidade. Caso contrário, o show perderia o sentido.
E confirmando as expectativas de Maria, dizem conseguir sobreviver e ajudar os filhos de três e dois anos que estão com as mães em São Paulo.
— Saímos para levar nossa arte para outras pessoas e conseguir uma grana para ajudar a família. Dá para sobreviver, não dá para comprar um prédio ou um caminhão, mas paga as contas — brincou Millan.
O mais experiente da dupla chegou ao Brasil há cinco anos e desde lá já passou por seis Estados do país. Nas últimas semanas, esteve em Porto Alegre, e da Capital guardará boas memórias dos lucros obtidos.
— Nos apresentávamos na Rua da Praia e na Voluntários da Pátria. Conseguíamos de R$300 a R$ 500 por dia — contou.
Desde a última sexta-feira (18) em Caxias do Sul, a dupla já se apresentou na Praça Dante Alighieri e agora se estabeleceu na Júlio. A permanência na cidade dependerá, segundo eles, da contribuição do público. A meta diária é conseguir no mínimo a diária do hotel, de R$ 76.