Os moradores do interior de Carlos Barbosa estão preocupados com a possibilidade de uma capela ser destruída para a construção de um praça de pedágio no interior do município. A coordenação da Comunidade Nossa Senhora da Assunção, de Santa Clara Baixa, recebeu a informação no último dia 10 que há interesse em instalar a construção no ponto onde está a igreja da localidade. Conforme o pároco, o comunicado partiu de um engenheiro do Consórcio Integrasul, vencedor do leilão de 13 de abril, e responsável pelas novas praças. Ele afirmou que há essa possibilidade do posto ser instalado às margem da RS-446. Tanto o Estado, quanto o Consórcio Integrasul garantem que os moradores serão ouvidos em relação ao assunto.
O padre Márcio Webber destaca que para viabilizar essa obra a igreja seria demolida. Ele explica que as cabines de cobrança se estenderão até próximo da porta da capela. Depois de receber essa informação, a comunidade procurou pelo bispo de Montenegro, Dom Carlos Rômulo Gonçalves e Silva. Em seguida, foi criada uma comissão, que se reuniu com o prefeito Everson Kirch. O encontro ocorreu na quinta-feira passada (18), na prefeitura de Carlos Barbosa. O padre ressalta que próximo à igreja há um local mais apropriado para receber a construção:
— Eles nos procuraram para comunicar que querem instalar o pedágio naquele local. A nossa movimentação é para justamente evitar isso, pois tem tantos lugares mais apropriados, com solo firme, para que seja instalado o pedágio. Vão colocar no meio de uma Serra, onde os caminhões não conseguem nem frear e vão ter que parar ali para pagar o pedágio? Nossa mobilização é para que instalem o pedágio dois quilômetros para baixo, onde tem uma grande área plana para isso — ressalta o padre Webber.
Ele destaca ainda que a rodovia tem interrupção de trânsito com frequência por causa de deslizamentos e rachaduras.
— Os moradores pedem respeito à história da comunidade, que iniciou com a chegada dos primeiros moradores, em 1885. A primeira capela de madeira foi erguida em 1919. Tem que preservar a história da comunidade, são mais de 100 da localidade, aquela é a terceira igrejinha da comunidade, a capela tem quase 50 anos. Queremos evitar que aconteça essa decisão.
O espaço, chamado de Capela dos Dalcin em referência ao sobrenome dos moradores, que são a maioria daquela localidade, foi construída em 1974, próximo ao ponto onde estava a igreja anterior. O espaço também foi à ruína depois de um deslocamento de solo provocado pela construção da rodovia, no início da década de 1970. Os moradores temem que, além da destruição da sede religiosa, o cemitério também seja danificado.
— Por ser uma área próxima, corremos o risco de, ao alargarem a rodovia para a instalação das cabines de cobrança, venham a provocar uma nova instabilidade no solo, que no passado destruiu uma igreja recém construída. Com essa instabilidade, o cemitério da comunidade também passa a ser motivo de preocupação. No local estão sepultadas quatro gerações da comunidade, inclusive os primeiros habitantes da localidade, vindos da Itália — ressalta o padre.
O prefeito de Carlos Barbosa, Everson Kirch, se comprometeu em ajudar a comunidade na luta contra a demolição da igreja. Ele irá na terça-feira (22) até Porto Alegre, acompanhado pelo vereador Jair Sauthier, que representa a comunidade, para tratar do assunto:
— A rodovia é estadual, mas vamos para uma reunião na secretaria responsável pelo projeto para tentar ajudar e pressionar para que troquem o futuro pedágio de local, pois é possível eles deslocarem o ponto em até 200 metros para tirar a capela da frente do pedágio — afirma o prefeito.
Comunidade será ouvida antes de qualquer decisão, garante Estado
O secretário executivo de Parcerias do RS, Marcelo Spilki, explica que procurou a concessionária Integrasul para entender o que estava acontecendo sobre a implantação da praça de pedágio. Ele destaca que, no modelo do Estado, o local previsto para a instalação não era nesse espaço, mas pelo contrato o consórcio pode implantar a praça de pedágio num raio de cinco quilômetros, de um lado ou do outro, do ponto usado para referência, sem que o governo interferisse. O secretário, garante, no entanto, que é apenas uma possibilidade, e a comunidade será ouvida para chegar a uma decisão.
O secretário destaca que o contrato ainda não foi assinado, e toda a documentação for reunida, será promovido um encontro com o governador e prefeitos para ouvir a comunidade e encontrar uma saída.
— Não está definido ainda. O que eles nos passaram é que o local previsto inicialmente para a implantação não é o ideal até porque tem uma rota de fuga, que são aqueles caminhos alternativos, que podem levar a desvios e o pessoal não paga pedágio, o que é ruim para o sistema, porque a concessionária não arrecada e não consegue os investimentos. Eles olharam o local e viram que é interessante, mas tem essa questão da comunidade e da capela, que já foi demolida anteriormente. As demandas das comunidades envolvidas pelos projetos de concessão vão ser ouvidas e vamos buscar uma solução para que todos fiquem felizes.
O diretor executivo da Silva&Bertoli, Ricardo Peres, que integra o consórcio Integrasul, ressalta que a equipe técnica está realizando levantamentos preliminares e também de melhorias e duplicações que estarão no contrato.
— São apenas informações preliminares, nada definido. Nem contrato temos assinado ainda. Nada vai ser feito sem antes passar por discussões e acertos para todos os envolvidos, muito principalmente, os lindeiros. Nada acontece do dia para a noite, portanto, não há que se falar em qualquer demolição nesse momento. Tudo a seu tempo — ressalta ele.