A prefeitura de Garibaldi decidiu suspender nesta quarta-feira (16) o alvará que permitia a demolição de um casarão histórico no município. Com a revogação dessa autorização, os proprietários não podem mexer na estrutura do prédio. Além disso, um engenheiro será designado pelo poder público para emitir um novo laudo referente a Casa Dal Bó. Localizado na esquina da Rua Dante Grossi com a Júlio de Castilhos, o imponente prédio verde, que fica no Centro Histórico, chegou a ter as aberturas retiradas na manhã de terça-feira (15). O trabalho de demolição foi suspenso por volta das 13h, por decisão judicial.
A decisão foi resultado da mobilização de um grupo de moradores a favor da preservação histórica do município. Eles protocolaram, ainda na segunda-feira (14), uma denúncia no Ministério Público (MP) para evitar que o prédio fosse colocado abaixo. O promotor Paulo Manjabosco, com base no documento, que contesta o laudo apresentado pela família de que seria necessária a demolição porque há risco de a casa ruir, entrou com uma ação cautelar para suspender a ação. A Justiça aceitou o pedido e determinou a suspensão provisória da demolição.
A prefeitura já havia sinalizado, ainda na terça, que poderia rever o documento. A decisão foi anunciada no final da manhã desta quarta-feira depois de um encontro com a promotoria, mas, segundo o prefeito Sérgio Chesini, o município providenciou a revogação ainda no feriado. Ele ressalta que a partir de agora será montada uma comissão para conduzir o assunto da melhor forma, preservando a casa, mas também para garantir os direitos da família, que é proprietária do imóvel.
— O primeiro passo é solicitar um novo laudo de perícia de técnicos para avaliar a real situação da Casa Dal Bó, hoje, depois de passados mais de cinco anos do laudo que embasou a sentença judicial. Vamos fazer um novo laudo criterioso para ver se dá para fazer a restauração da casa, se dá para fazer a manutenção e para ver qual é a melhor decisão a ser tomada, defendendo o bem público e o interesse social — destaca o prefeito.
De acordo com o promotor Paulo Manjabosco, a partir de agora as obras não podem ser retomadas. Esses trabalhos só vão poder continuar se os laudos apontarem a necessidade de demolição do imóvel.
— O município ficou de encaminhar toda a documentação existente para análise da Promotoria de Justiça. Isso deve demorar no mínimo cinco dias. Depois, a Promotoria verá a forma de prosseguimento. Solicitei também que seja feita uma vistoria das condições em que ficou o prédio após as intervenções de ontem (terça-feira) para prevenir responsabilidades e ver a necessidade de alguma providência emergencial. O município disse que fará a vistoria — explica o promotor.
Apesar de a casa não ser tombada como patrimônio histórico do município, ela consta catalogada no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A Justiça concedeu indenização de R$ 2,8 milhões aos proprietários, por danos morais, materiais e multa, devido a danos causados ao imóvel pelas administrações anteriores, ao realizar obras em frente à moradia. Segundo o grupo que luta pela preservação da casa, a sentença, no entanto, não se refere a demolir o casarão.
Em entrevista à RBS TV, a proprietária do imóvel, Rosmari de Fátima Dal Bó, afirmou ainda na terça-feira que deixou a casa há duas semanas devido aos problema na estrutura. Ela morava na casa a mãe e contou, que buscou, no passado, recuperar o espaço, mas entende que a demolição está respaldada pela decisão judicial.
História
Conforme informações repassadas pelo engenheiro Lucas Guarnieri, a casa foi construída em 1895, antes mesmo da igreja matriz, que fica a poucos metros do casarão, na Rua Júlio de Castilhos. O prédio foi a segunda casa de alvenaria construída no município, sendo que a primeira foi a sede do atual Museu Municipal, que sediava a Societa Italiana Stella D' Italia. O imóvel foi construído por Miguel Nejar, que era cunhado de Júlio Merebe, figura pública conhecida em Garibaldi naquela época. Merebe, inclusive, morava próximo ao casarão.
A Casa Dal Bó abrigou as irmãs de São José de Chambéry, vindas da França, e que lecionaram em Garibaldi em 1899. Funcionou também como farmácia e hospital, sendo que na parte térrea, nos vidros das janelas, ainda é possível observar a taça com a serpente enrolada, que é internacionalmente conhecida como símbolo da profissão farmacêutica. Na década de 1930, o casarão foi comprado por Vicente Dal Bó, que é avó dos atuais proprietários. Dal Bó era o intendente e, por isso, a casa funcionou também como superintendência, delegacia e cadeia ao mesmo tempo, até 1939. Até a década de 1980, quando foi reformado, o imóvel ainda tinha marcas de balas feitas pelos Ximangos, em 1923. Os tiros foram contra Dal Bó que era Maragato.
Na frente da casa de um vizinho havia um poço que serviu durante três dias de esconderijo para uma personalidade que era opositora ao governo de Borges de Medeiros. Esse relato é de Ivone Dal Bó, filha de Vicente, e consta na ficha catalográfica do Iphan. Atualmente, o prédio era habitado pelos herdeiros e, no térreo, funcionava um comércio da família.