Depois de uma edição híbrida em 2021, a Parada Livre de Caxias do Sul coloriu a Praça Dante Alighieri neste domingo (6). De acordo com a organização, 10 mil pessoas participaram do evento, lotando o tradicional ponto caxiense. Entre as apresentações que animaram o público, a Parada passou a mensagem de luta contra o preconceito e valorização da dignidade dos cidadãos LGBTQIA+, além da união de toda a comunidade.
O criador e coordenador da celebração no município, Sandro Mauricio da Silva, que interpreta a personagem Valma Classic Kieer, celebrou a adesão do público, no domingo ensolarado de Caxias (apesar das pancadas de chuva), e o fato de a Parada Livre retornar para a área central de Caxias - desta vez ocupando a Praça Dante. Valma lembrou que a primeira edição do evento também ocorreu no Centro, mas na Rua Marquês do Herval.
— Eu estou muito feliz. Primeiro, porque está voltando de uma pandemia, voltando para rua. Segundo, mais feliz ainda porque os 22 anos da Parada Livre estão sendo comemorados no mesmo lugar onde ela começou. Está no Centro da cidade. São duas alegrias — comemorou Valma.
Com um brilhante vestido azul, Valma, personagem que existe há 38 anos, também abriu oficialmente a Parada Livre de Caxias lembrando que a celebração é para compartilhar amor e bons momentos:
— Aqui temos de levar amor e respeito. É um momento de diversidade, de unir todas as comunidades em um evento só.
Na abertura, a vice-prefeita de Caxias do Sul, Paula Ioris (PSBD), também discursou apoiando a causa LGBTQIA+. Nesta edição, a prefeitura auxiliou com o espaço, na praça, e a estrutura, que será mantida para outros eventos municipais até o fim do ano. Em novembro, atrações da Temporada da Cultura Negra, em alusão ao mês da Consciência Negra, ganham o espaço.
— Precisamos cada vez mais ter presente que cada um de nós pode ser quem é, de que pode ser feliz sendo quem é. Ter claro que as diferenças só podem nos deixar mais fortes e não nos separar — discursou Paula.
“Celebrando a luta contra o preconceito”
Com o tema "Celebrando o orgulho de viver a diversidade", a Parada Livre teve uma programação com diversas atrações culturais. A reunião trouxe shows de Drag Queens e apresentações como do Grupo Samba Show e Pagode do Tinga. O encerramento conta com uma bateria de escola de samba.
Mesmo com pancadas de chuva alternando com um sol forte, o público, em nenhum momento, perdeu a empolgação. Fantasiados, vestidos ou cobertos pelas cores da bandeira arco-íris, os espectadores curtiram também a trilha sonora com músicas de divas como Glória Groove e Pabllo Vittar.
Entre as atrações, a transformista Jullyana Rayker, conhecida por apresentar a Parada Livre de Esteio, vem pelo quinto ano consecutivo participar da celebração em Caxias.
— O retorno (ao evento presencial) está sendo muito satisfatório para todos, que a gente quer ter o contato com o público novamente. É muito satisfatório ver que todo mundo está presente. É um belíssimo evento celebrando a luta contra o preconceito e por nossos direitos — destaca Jullyana.
As apresentações musicais, em que as Drag Queens cantam ou dublam nomes conhecidos, como Anitta, Celine Dion ou Jennifer Lopez, também trazem mensagens importantes sobre a realidade da comunidade LGBTQIA+ no Brasil e o que precisa ser enfrentado diariamente. Foi o caso do show da artista trans Gaby Quadras, que lembrou da violência sofrida por pessoas trans no país, que é gerada pelo preconceito.
— Isso não é só uma festa. É um momento de estar com a comunidade para mostrar que também estamos na rua, que somos iguais a todo mundo e através da nossa arte passar a mensagem que queremos passar — reflete Gaby.
É para toda a comunidade
Representando o governo do Estado na Parada Livre caxiense, o diretor estadual de diversidade sexual e gênero, Daniel Morethson, lembrou de um dos princípios do evento. A celebração é para reunir todos, mostrando que a Parada é de cultura, paz e amor.
— O público LGBTQIA+ tem pessoas negras, pessoas com deficiência (PCDs) e idosas. Essas pessoas que temos de trazer para dentro da Parada Livre, envolver a família e mostrar que é um movimento de cultura, de paz, de amor e principalmente, é um movimento de inclusão da sociedade. Não adianta fazer uma parada que seja somente para gays, ou para gays brancos ou privilegiados. Precisamos abranger a periferia. A Parada cresce e ao ver a mãe com o filho PCD, entendemos que estamos chegando no caminho que a gente quer, que é a inclusão de todos, a diversidade, e LGBTQIA+ é isso — declara o representante da secretaria da Igualdade, Direitos Humanos e Assistência Social do RS.
A mãe que acompanhava a Parada Livre com o filho Jaisson Acosta Soares, 22 anos, é Claudia Beatriz Xavier Acosta, 53. Da mesma forma, quem aproveitava o domingo na celebração foi o analista de processos Gabriel Birck, 27, que participa deste momento desde 2018 e aprovou a retomada da parada na Praça Dante.
— Está muito bacana. É um evento importante para a cidade. Caxias, de certa forma, é uma cidade com preconceito ainda e estamos tentando desconstruir isso — pontua Birck.