A ausência de feriadões e o segundo turno das eleições são apontados pelos empreendedores de Cambará do Sul, nos Campos de Cima da Serra, como os principais motivos que levaram ao esvaziamento da cidade no último mês. A onda de frio, inédita na primeira semana de novembro, somada ao feriado de Finados, na última terça-feira (2), criaram a expectativa de que o fenômeno atraísse visitantes, mas os bloqueios nas rodovias estaduais e federais afastaram quem daria um respiro à economia do município.
Com 22 apartamentos e lotação máxima de 54 pessoas, o Center Hotel Cambará receberia nesta quarta-feira (2) um grupo de 38 estudantes de Porto Alegre, mas a excursão precisou ser adiada devido ao receio dos pais com à imprevisibilidade do trânsito. A viagem foi remarcada para o próximo dia 17 e adiou o faturamento que, segundo a gerente Mariluci Joaquim da Silva, já está abaixo do esperado para o período.
— Em todo outubro atendemos 218 pessoas, o que é pouco. Os feriados aconteceram no meio da semana, mas em 2023 eles vão emendar com o final de semana, então provavelmente será melhor — projetou Mariluci, que nos próximos dias receberá um grupo de jipeiros atraídos pelas trilhas e paisagens naturais de Cambará.
São nos eventos, aliás, a aposta da prefeitura para aquecer os períodos de entressafra do turismo. Criada para homenagear a qualidade de um dos produtos mais conhecidos do município, a Feira do Mel, principal festa de Cambará do Sul chegou a sua 25ª edição em junho deste ano. No entanto, o turismo local ainda é carente de um calendário que convide os turistas ao destino, famoso pelos cânions, no segundo semestre do ano. Para que ele seja elaborado, a secretaria de Eventos, Cultura e Desporto foi desmembrada da pasta do Turismo e retomada na cidade.
— Nosso modelo é o ecoturismo, mas olhando para tão perto como Gramado e Canela, o turismo de eventos é muito forte. Talvez seria um caminho para buscar. Precisamos criar um calendário e isso é gradativo, é preciso encontrar momentos do ano em que temos espaço e não conflitem com outros eventos da região — explicou o secretário de Turismo Fabiano de Souza.
Diferentemente da sazonalidade do visitante, que procura os atrativos principalmente na época mais fria do ano, Souza lembra que os locais estão à disposição do turista o ano inteiro e com paisagens que são convidativas também no verão.
— Nos falta essa constância e é estranho que os nossos principais atrativos sempre estão aqui e sempre abertos. Há diferenciações nas paisagens em determinadas épocas do ano. Hoje temos um calendário, mas muito baseado internamente, em oferecer diversão para a comunidade como festas de Páscoa e Natal — contou o secretário.
À mercê do clima, muito chuvoso em outubro, e da disponibilidade do turista em viajar, a jornalista e empresária Patrícia Lemos, 38, viu o movimento do seu pub, o Máquina do Tempo, cair quase 50% em comparação a outubro do ano passado. O perfil do visitante, segundo ela, também mudou após o fim das restrições sanitárias impostas pela pandemia de covid-19.
— Não vemos mais turistas de fora como paulistas e cariocas, que procuravam Cambará como um refúgio durante os meses mais críticos da pandemia. O mês foi muito chuvoso e atrapalhou o ecoturismo. A reta final da campanha eleitoral foi muito sentida e a expectativa agora é com o próximo feriado, de 15 de novembro — afirmou Patrícia.
Ainda que o cenário visto em outubro seja de marasmo, Cambará do Sul nunca foi tão procurada para investimentos, como a construção de pousadas e chalés para o aluguel por temporada. O número, de acordo com a secretaria do Turismo, é difícil de acompanhar, tamanha a expansão. A estimativa do poder público é de que atualmente sejam mais de 80 opções de hospedagem.
Com grande disponibilidade de leitos e atrativos capazes de reter o turista por duas semanas sem que nenhum deles seja repetido, Cambará do Sul vive a expectativa de voltar a vivenciar o movimento nos próximos dias. É na proximidade das férias de verão e na vinda de turistas que querem escapar do movimento das praias que as agências de turismo se agarram.
Com 24 anos de atuação, a Cânion Turismo oferece cerca de 15 passeios que levam o turista a explorar a região de diferentes formas. Seja a cavalo ou em um quadriciclo, voando de balão um em um veículo off-road, o contato com a natureza está garantido em uma Cambará do Sul cada vez mais preparada a acolher.
— Foram feitos vários investimentos. Então, estamos só esperando o turista vir. É um setor ainda muito sazonal, com períodos de altas e baixas e que depende da estabilidade do clima. Foi um ano complicado, mas nesse próximo feriado, do dia 15, serão quatro dias e esperamos um bom movimento — afirmou a proprietária da agência, Luciane Santos Castilhos.
O vai e vêm de turistas é visto pela empresária Claudia Dreher, 57, como uma gangorra. Em 2007, ela e o marido deixaram seus empregos em Caxias do Sul e no Vale do Calçado para investir em Cambará do Sul. Foram três anos de muita pesquisa até encontrar na produção de geleias orgânicas e na acolhida de turistas no sítio onde são produzidas, o modelo de negócio ideal.
— Chegou um momento que abríamos de segunda a segunda e não tínhamos descanso. Enxergamos a vocação turística de Cambará e vimos na produção das frutas vermelhas um potencial fantástico, que concilia a necessidade de frio com a possibilidade do cultivo orgânico — explicou Claudia.
O sucesso do negócio tornou a Sabores da Querência uma referência em agronegócio orgânico no Estado e motivou mais investimentos. Há três meses, o casal inaugurou um café no centro de Cambará do Sul para comercializar os produtos. O investimento, entre aquisição do terreno e instalação do prédio foi de cerca de R$ 2 milhões.
— O brasileiro descobriu Cambará. Na pandemia, se buscou mais ambientes arejados, em que não houvesse aglomeração. E eles continuam vindo. Mas, é logico que depois das restrições tivemos inflação e um poder de compra reduzido. Mas eu acredito muito no município, se não não teríamos investido — finalizou.