Com as noites mais quentes, retorna um problema histórico em Caxias do Sul: a perturbação do sossego alheio. Grupos de jovens se encontram em vias públicas e exageram no barulho, atrapalhando o descanso da vizinhança, que cobra a Brigada Militar (BM) e a prefeitura por soluções. A estratégia deste ano é uma força-tarefa permanente, que já realizou ações na tradicional Estação Férrea e no bairro Petrópolis. A baderna neste último ponto, próximo à Universidade de Caxias do Sul (UCS), levou a prefeitura a proibir o estacionamento após as 22h30min. A faixa amarela foi pintada nesta quinta-feira (17).
A força-tarefa, que reúne policiais, guardas municipais, fiscais de trânsito e a Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), realiza ações semanais. Nos dias 27 de outubro e 10 de novembro, por exemplo, a mobilização esteve na Rua Francisco Getúlio Vargas, saída da UCS para os bairros Petrópolis e Cruzeiro. No local, há dois bares que tem como público-alvo os universitários. O problema, contudo, são outros jovens que se encontram do outro lado da via pública, levando as próprias bebidas alcoólicas e carros com caixas de som.
— O problema não é se encontrarem e conversarem na rua. É o que eles fazem. Eles impedem a passagem dos carros. Mijam nos portões e plantas das casas. Colocam som alto nos carros. Eles "estouram" os motores das motos. Fazem racha. Começa às 22h30min e vai até as 2h da madrugada — lista uma moradora, que pede para não ser identificada.
Neste ponto, a perturbação é maior nas quintas-feiras. A vizinhança utiliza um grupo de WhatsApp para compartilhar os flagrantes e problemas causados. Esta união ocorre desde o ano passado para relatar o problema ao Poder Público, o que levou a força-tarefa até o bairro. A medida, porém, se mostra apenas paliativa.
— Na última quinta (dia 10) teve blitz até umas 23h. Enquanto estavam lá, tinha bastante movimento na rua, mas estava tudo certo. Ficou nítido quando os policiais saíram porque as músicas começaram e os carros barulhentos também. Carros tão rebaixados que faziam faísca na rua. Desciam oito ou nove pessoas destes carros. Depois da meia-noite até a 1h30min, começou o barulho de carros fazendo cavalinhos de pau com plateia gritando. É preciso urgentemente que se faça alguma coisa antes que tomem conta, literalmente — relata a moradora.
Bar contratou seguranças após ameaça com arma de fogo
Essa urgência também é relatada pelo gerente do Chalé Pub, Jean Willian Brustolin. Ele reforça que quem faz algazarra não é o público do bar, mas, sim, as pessoas que ficam do outro lado da rua. Brustolin relata que já foi ameaçado com arma ao pedir para baixarem o volume.
— Esse problema começou pós-pandemia. É um tipo de público que só vai lá para fazer barulho e confusão. Nos nossos bares (o Baruks é vizinho do Chalé), nunca tivemos nenhum problema de briga ou qualquer coisa do tipo. Agora, nas últimas semanas, deu até tiro na rua. Foi apavorante. Eu mesmo fui ameaçado com arma por ter pedido para baixar o som na semana retrasada. Nunca haviam me apontado uma arma. Já passou dos limites. Também sou morador do bairro, estou no grupo (do bairro no WhatsApp) e concordo com as reclamações — aponta.
Brustolin esteve na reunião com a prefeitura nesta quinta-feira (18), quando foi decidido pela proibição do estacionamento das 22h30min às 6h30min. Ele acredita que pode ser o primeiro passo para afastar os baderneiros, que causam prejuízos ao seu negócio.
— Eles vão lá apenas comprar gelo e copo. Algo que nem vendo mais, mas eles insistem. Não queremos que esse pessoal fique do outro lado da rua. Eles afastam nosso pouco público. Tinha clientes fiéis, amigos meus, que não vão mais por medo. E entendo eles. Está aparecendo um pessoal barra pesada. Estamos tendo que fechar o bar mais cedo por este problema. Parece que a culpa é nossa, mas estamos lutando contra isso — salienta.
Além de afastar clientes, Brustolin afirma que a partir da chegada deste público começaram a acontecer furtos no bar. O Chalé Pub também contratou dois seguranças para tentar manter a ordem, mas a quantidade de pessoas dificulta o trabalho.
— Já levaram sabonete líquido do banheiro, banco de madeira e sumiram 20 "cervegelas" que tínhamos. Até a lâmpada do banheiro do bar já levaram. Coloca isso na ponta do lápis e no final do mês a conta não fecha. Estamos perdendo faturamento por todos estes problemas.
Força-tarefa pede denúncias pelo 156
O diretor da fiscalização da SMU, Rodrigo Lazzarotto, admite que o problema no bairro Petrópolis não é novo. A dificuldade é que há outros pontos na cidade com badernas, de forma que a prefeitura e a BM não têm efetivo para estar em todos os lugares em todas as madrugadas.
— (O Petrópolis) já foi uma região problemática no passado, quando fizemos várias ações, e agora de novo. Nada grave, mas um problema persistente. No calor, as pessoas se aglomeram mais. Criamos esta força-tarefa permanente, com as forças de segurança, para tratar da perturbação do sossego de uma forma geral. Agimos conforme a necessidade, diante do cenário e quantidade de pessoas que estarão lá. São ações todas as semanas, algumas maiores, outras menores. É uma discussão semanal neste grupo de ação — explica Lazzarotto.
Sobre a proibição do estacionamento, o representante da prefeitura explica que esta é uma medida que se mostrou efetiva na Estação Férrea. As situações de perturbação do sossego são causadas, em maioria, por carros que abusam do som automotivo. Ao proibir o estacionamento, a fiscalização tem embasamento legal para remover os automóveis.
— (Na Estação Férrea) melhorou bastante. Foi um trabalho que deu certo e os moradores reconheceram. Só passar ali que é perceptível. Mas, sabemos que é "gato e rato". Se não ocupamos, eles voltam. E sabemos que no verão irá aumentar e teremos olhos atentos — afirma Lazarotto, que ressalta a importância do apoio da comunidade para que as ações ocorram nos locais com maior necessidade.
— Há áreas que param de ser problema e novas que viram problema. Não conseguimos monitorar a cidade inteira. Por isso, contamos com a denúncia da comunidade. As pessoas podem e devem ligar para o 156. Assim, ficamos sabendo e podemos planejar estas nossas ações semanais.