Depois de dois anos de queda na taxa de detecção de HIV em Caxias do Sul, voltaram a crescer os números de novos casos no maior município da Serra: até agora, são 207 em 2022. A redução observada em 2020 e 2021, no entanto, não foi algo necessariamente positivo. Isso porque ela se deu justamente nos dois primeiros anos da pandemia de covid-19, quando houve baixa na procura pela testagem para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Enquanto em 2019, no período pré-pandemia, foram realizados 15.574 testes para HIV, em 2020 foram 14.605 e, em 2021, 13.340. Neste ano, até agora, são 13.238 testes realizados.
Nos dois piores anos da pandemia, 105 novos casos de HIV foram notificados: 35 no ano passado e 70 em 2020. Os casos de Aids ficaram em 111 em 2021 e 137 no ano anterior. Conforme a médica infectologista da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Andrea Dal Bó, a diferença entre casos de HIV (vírus que pode provocar a doença) e Aids (a doença) era menor em anos anteriores.
— É preocupante porque quanto antes diagnosticado, antes começa o tratamento e se interrompe a transmissão — diz Andrea, reforçando que nem toda a pessoa com HIV desenvolve a Aids.
Com o tratamento, ela pode ficar indetectável e não transmitir o vírus. Para reforçar a importância da testagem, uma ação será realizada nesta quinta-feira (1º), no Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A iniciativa do Serviço Municipal de Infectologia (SMI) e da Atenção Primária em Saúde, em parceria com o Instituto de Pesquisas em Saúde da Universidade de Caxias do Sul e da ONG Construindo a Igualdade, ocorre na Praça da Bandeira, das 8h30min às 16h. Além de testes rápidos de HIV, serão feitos exames de sífilis e hepatites B e C.
— Se está na dúvida, faça o teste. Quanto antes diagnosticar, mais cedo começa o tratamento e se evita que adoeça. Hoje, o grande problema no Brasil é o diagnóstico tardio — alerta Andrea.
O teste rápido é realizado com uma pequena amostra de sangue, coletada com uma picada no dedo. O resultado sai em poucos minutos e é entregue de forma sigilosa pela equipe especializada do Serviço de Infectologia. Além do teste, será feito aconselhamento por parte das equipes.
Perfil
De acordo com o Boletim Epidemiológico Anual sobre HIV/Aids, entre 2011 a 2021, foram notificados 1.279 casos de Aids em Caxias. Também foram detectadas 1.471 infecções pelo HIV. De todos os casos de infecção por HIV, entre 2011 e 2021, quase o dobro é do sexo masculino: são 1.677 homens e 995 mulheres. Em relação à faixa etária de pessoas vivendo com HIV em Caxias, em 2021, a maioria pertencia à faixa dos 30 a 39 anos, seguida pelas de 20 a 29 anos.
O vírus pode ser transmitido sexualmente ou pelo contato com sangue contaminado por meio de agulhas, materiais mal esterilizados ou, ainda, da mãe para o bebê durante a gravidez ou parto. Pessoas com HIV não necessariamente têm Aids. Com tratamento adequado, o paciente pode viver anos sem desenvolver a doença e sem transmitir o vírus.
Ouça a entrevista com a médica Andrea Dal Bó:
Tratamento pré-exposição é ampliado em Caxias do Sul
Oferecida desde o final de 2018 pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Caxias para públicos prioritários, a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) passou a ser destinada também neste ano para a população que se acha em risco de contaminação. Ou seja, qualquer pessoa que acredita estar exposta ao vírus tem direito à medicação, que reduz a probabilidade de se infectar.
— É um comprimido único, tomado diariamente, como um anticoncepcional. O uso deve ser combinado com o preservativo — explica Andrea Dal Bó.
O medicamento não previne outras doenças, como sífilis, por exemplo. Além da PrEP, o SUS oferece a PEP (Profilaxia Pós-Exposição) para uso após possível contato com o vírus em situações como violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso ou com rompimento da camisinha), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou em contato direto com material biológico).
Para funcionar, a PEP deve ser iniciada logo após a exposição de risco, em até 72 horas, e deve ser tomada por 28 dias. A PEP não substitui a camisinha. Para ter acesso a ambas profilaxias, é preciso procurar o Serviço de Infectologia, no Centro Especializado de Saúde (SES), durante a semana, em horário comercial. A PEP é oferecida nas unidades de pronto atendimento (UPAs) também. No caso da PrEP, o remédio pode também ser receitado por médico da rede privada de saúde.
Conforme Andrea, entre 2018 e 2021, 274 pessoas usavam PrEP em Caxias. Agora, são 136. A redução pode estar relacionada a mudança de cidade e mudança de parceiro. Ainda segundo ela, 91% das pessoas com HIV estão em tratamento em Caxias e 92% das pessoas que fazem o tratamento estão com o vírus controlado.
FAÇA O TESTE
- O quê: testes rápidos de HIV, sífilis e hepatites B e C.
- Quando: hoje, das 8h30min às 16h.
- Onde: na Praça da Bandeira.
- O que levar: documento com foto e Cartão SUS.
Ao longo do ano
- Os testes rápidos para detecção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estão disponíveis durante todo o ano.
- A população pode procurar o Centro de Testagem e Aconselhamento do Serviço Municipal de Infectologia (junto ao CES, na Rua Sinimbu, 2.231) ou as unidades básicas de saúde.
- O Centro de Testagem e Aconselhamento atende de segunda a quinta-feira, das 7h às 15h, e na sexta-feira, das 7h às 14h.
- A procura é espontânea, sem necessidade de encaminhamento médico.