A história de um prédio polêmico no bairro Cruzeiro, em Caxias do Sul, começou a ganhar novos (e positivos) capítulos graças a união da comunidade. Um grupo de moradores se uniu no último domingo (22) e iniciou a revitalização da estrutura, que já serviu como módulo da Brigada Militar e sede da Associação de Moradores do Bairro (Amob). Atualmente, contudo, o espaço é alvo de vandalismo e reclamações por gerar insegurança a quem mora no entorno.
Uma das pessoas que está à frente da iniciativa é o líder comunitário e conselheiro de saúde da região do bairro Cruzeiro, Alaor Correa Barbosa. Morador do loteamento Belvedere, ele é contrário à demolição do prédio, que chegou a ser cogitada como uma das alternativas na quarta edição do Câmara Vai aos Bairros, no final de julho.
— Esse antigo módulo tem uma história de pessoas que lutaram, que fizeram janta, almoços... Gente que doou dinheiro para construir aquele prédio. Tem uma grande história. Não se pode destruir um patrimônio desses — argumenta Barbosa, que buscou o aval e a parceria da presidência da Amob Cruzeiro antes de iniciar as melhorias.
No domingo, o grupo de cerca de 10 pessoas roçou o terreno, tirou os lixos e colocou palanques de madeira. A intenção é de que no próximo final de semana seja concluído o cercamento da área, o que inclui também a colocação de portões. Uma terceira etapa deve revitalizar o prédio em si, com pintura, janelas, portas e outras melhorias.
A ideia é que o antigo módulo possa ser usado novamente para atividades comunitárias, como encontros do Clube de Mães, Grupos de Escoteiros, eventos do bairro, entre outros. Quem também defende a revitalização e reocupação do prédio é a agente comunitária de saúde Fátima da Silva Ramos, que ajudou a mobilizar voluntários. Moradora do Cruzeiro, ela lembra que a estrutura já foi importante para uma série de atividades:
— A gente desenvolvia grupo de artesanatos e grupo de Yoga, mas aí veio a pandemia e paramos. E agora ficamos sem espaço para essas atividades. Seria muito ruim destruir o prédio, sendo que tem muitos bairros lutando para ter um centro comunitário — defende Fátima, que integra o grupo responsável pela revitalização.
Os recursos financeiros iniciais, para este primeiro passo da obra, são dos próprios moradores. Segundo Barbosa, a ideia é buscar doações na comunidade e outras fontes de recurso para deixar o prédio apto para uso novamente.
Prédio está degradado
É nítido que o prédio sofreu com a ação de vândalos ao longo dos últimos anos. A estrutura está sem nenhuma janela, sem portas, pichado e com partes do acrílico quebradas. O piso e as paredes, por outro lado, estão em boas condições, assim como a parte externa, que conta com um amplo pátio. Ao todo, são três banheiros, cozinha, quatro salas espaçosas e um hall de entrada.
— Sempre desejei essa revitalização, mas a gente não tinha recursos. Vamos colocar esse prédio de novo como era antes — disse o presidente da Amob Cruzeiro, Nelson Accioly Vieira Filho.
Na quinta-feira (25), os voluntários devem se reunir com representantes da prefeitura e também com a Brigada Militar para tratar sobre a iniciativa de revitalização e reocupação do espaço.
Histórico
:: O terreno onde está localizado o prédio pertence ao município, mas a estrutura foi construída pela comunidade no início dos anos 2000.
:: Localizado na Avenida Hércules, o prédio serviu como base da 3ª Companhia do 12° Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
:: Desocupado pela BM, a prefeitura cedeu o imóvel para a Amob, que, em 2017, usou a área como sede da associação. O local chegou a sediar aulas de música e foi emprestado para eventos da comunidade, como aniversários e chás de bebês. A ideia também era fazer uma horta comunitária com estudantes de uma das escolas do bairro Cruzeiro. Também havia o plano de cercar o terreno, o que não foi feito.
:: O prédio parou de ser utilizado diante da pandemia de coronavírus e, com isso, passou a ser alvo de vândalos com pichações e vidros quebrados.
:: No final de julho, em encontro com os vereadores, na quarta edição do Câmara Vai aos Bairros, houve a solicitação para que o prédio fosse demolido, diante de situações como drogadição, barulho excessivo e quantidade expressiva de lixo no local.
:: Diante da possibilidade destruição do prédio, o grupo de moradores buscou o aval e o apoio da Amob para revitalização e reocupação do espaço. As melhorias iniciaram no último domingo.