A produção caseira dos imigrantes italianos, alemães, suíços e poloneses que chegaram a Carlos Barbosa no século passado transformou, ao longo dos anos, o município da Serra Gaúcha em sinônimo de leite e queijos da melhor qualidade. Movida atualmente por cinco mil associados que fornecem os cerca de 800 mil litros de leite processados por dia pela Santa Clara, a cooperativa de laticínios mais antiga em atividade no Brasil, foi determinante para fazer da cidade uma referência na produção dos derivados.
Não é à toa que desde 1975, incentivada pelos cooperados, Carlos Barbosa celebra sua expertise e evolução no manejo da matéria-prima que está enraizada nas origens de suas famílias. Criada a partir da Festa do Leite, o Festiqueijo chega à 31ª edição nesta sexta-feira (1º) com a expectativa de receber 30 mil visitantes e apresentar o que de melhor as 10 queijarias do município podem oferecer. Para acompanhar as iguarias, nove vinícolas da região também estarão dispostas no Salão Paroquial da Igreja Matriz, no centro da cidade.
— É um evento diferenciado, o consumidor tem a oportunidade de provar toda a nossa linha de produtos e as queijarias podem ter um canal direto com o consumidor final — resume o empresário Daniel Cichelero, 44 anos, que não esconde o fato do sucesso da Cooperativa Santa Clara ter sido o despertar da verdadeira vocação das propriedades que, décadas atrás, se dedicavam ao cultivo da batata.
Nascido na Linha Doze, no interior de Carlos Barbosa, Cichelero cresceu ordenhando vacas manualmente ao raiar do dia e vendo seus pais venderem a pequena produção de leite para financiar o cultivo do tubérculo. Foi com a receita da família que fabricava queijos coloniais para consumo próprio que investiu aos poucos no produto que ganhou o seu sobrenome e hoje figura nas prateleiras das principais queijarias da Serra.
— Intensificamos a produção de leite no início dos anos 2000. Começamos com iogurte, doce de leite e queijo, que veio a se tornar o grande motivador dos investimentos. Fomos aumentando a produção de leite para fazer mais queijo e assim nos tornamos o que somos hoje — afirmou.
Deu certo. O negócio administrado junto do irmão Evandro Cichelero, 50, conta atualmente com um rebanho de 366 animais, 150 deles em lactação. A produção que iniciou com 200 litros de leite por dia evoluiu para os atuais 5,5 mil litros em uma cadeia produtiva 100% própria, que utiliza até o azevém, plantado na propriedade, como alimento das vacas holandesas.
A trajetória da família Cichelero é somente mais contemporânea do que aquela que iniciou em 1912, pelos devotos de Santa Clara e que hoje emprega 2,2 mil funcionários em três unidades espalhadas pelo Estado. Segundo o diretor administrativo e financeiro da Cooperativa Santa Clara, Alexandre Guerra, a história começou em uma forma de queijo de 15,6 quilos e, 110 anos depois, se transformou em 47 produtos apresentados em mais de uma centena de variedades. História que motiva orgulho e não entende como concorrentes as queijarias que elevam a economia de Carlos Barbosa.
— Concorrente é aquele que não pratica de forma correta. Agora, aquela indústria que faz um produto e respeita a legislação não é concorrente, é um parceiro que sabe valorizar o que produz — define Guerra, que vê no Festiqueijo a oportunidade de fortalecer os lançamentos do setor.
Por 17 vezes a marca mais lembrada pelos gaúchos, a Santa Clara produz 600 toneladas de queijo por mês e leva ao evento todas as linhas de queijos para a degustação. Em 2022, destaque para a mussarela e burrata de bufála, queijo coalho com pimenta, queijo brie aquecido em pedra e iscas suínas temperadas com queijo gruyère que estarão a disposição dos visitantes.
Inovação
Quando a história mostra que a coragem de aumentar a produção premia o trabalho, as indústrias não dão passos para trás e seguem em busca de melhoramento. Seja na genética e no bem-estar dos animais, na produção do alimento ou na captação de novos mercados, o setor de laticínios não para em Carlos Barbosa. Na propriedade da família Cichelero, três vacas ostentam os prêmios de maior produtividade no concurso leiteiro da Expointer, e no concurso jovem da Fenasul.
O tratamento dado não só a elas, mas também aos cerca de 15 bezerros que nascem mensalmente na propriedade, e às 150 vacas lactantes é de última geração. A Granja Cichelero foi a primeira da América Latina a ter associados o sistema de ordenha robótica com sistema de ventilação cruzada, que mantém os animais em uma temperatura sempre abaixo de 18ºC.
Instaladas uma em cada lado do galpão e avaliadas em R$ 800 mil, as máquinas importadas da Suécia estão à disposição das vacas e realizam a ordenha de forma automática, sem que nenhuma pessoa precise levar os animais até lá. Com 183 sensores, o robô calcula a quantidade de leite a ser retirada, higieniza os úberes e realiza a ordenha.
— É o que há de mais moderno no setor. O que temos aqui é o mesmo que se vê em países da Europa conhecidos pelos queijos famosos — se orgulha Cichelero.
Confira em vídeo:
Serviço
O quê: 31º Festiqueijo
Quando: de 1º a 31 de julho, somente de sexta a domingo
Local: Salão Paroquial da Igreja Matriz de Carlos Barbosa
Horários: ssextas-feiras, das 14h às 23h; sábados, das 11h às 23h e domingos, das 10h às 17h
Ingressos: sextas-feiras e sábados, crianças de 8 a 12 anos pagam R$ 80 e, a partir de 13 anos, R$ 195. Aos domingos, de 8 a 12 anos pagam R$ 80 e, a partir de 13 anos, R$ 175. Crianças com menos de 8 anos têm entrada gratuita. Área Vip custa R$ 380 por pessoa em qualquer dia de evento.