Mais de 600 imigrantes já foram atendidos durante o primeiro mutirão realizado em Caxias do Sul pela Polícia Federal (PF) para regularizar a situação dos estrangeiros no país. Na manhã desta quinta-feira (9), casais, irmãos, pais com filhos e grupos de amigos de diversas nacionalidades aguardavam atendimento no segundo andar do Centro Administrativo. A força-tarefa segue até esta sexta-feira (10), com o objetivo de reduzir a demanda por regularização migratória na cidade. A ação é realizada em parceria com o Centro de Informações ao Imigrante (Ciai) e o Centro de Atendimento ao Migrante (Cam). A projeção da Polícia Federal é que entre 2 mil e 3 mil pessoas estejam com a situação irregular na região e a previsão é regularizar a documentação de ao menos mil. O atendimento é das 9h às 17h.
Mesmo que os horários tenham sido agendados, alguns chegaram antes, pela ansiedade em resolver a situação, e outros porque moram em outras cidades da Serra. O objetivo da maioria era o mesmo: renovar a Carteira de Registro Nacional Migratória (CRNM) Esse é o documento que permite o trabalho formal, além de acesso à saúde e à educação. No mutirão, os imigrantes também podem buscar autorização de residência, substituir o documento de identidade e emitir a segunda via de outros
documentos.
Wilmari Obadilla Ramos, 38 anos, e a filha Biatrichi Isaura Obadilla, 15, deixaram a Venezuela há mais de quatro anos. Elas vivem em Caxias há sete meses.
— Me sinto mais tranquila com o documento renovado porque estava vencido e ficava angustiada — contou Wilmari.
Os senegaleses Bouyo Mbaye, 43 anos, Baba Niang, 40, e Mbaye Diop, 40, vieram juntos de Guaporé a Caxias para renovar a documentação. Os três trabalham em uma fábrica de móveis. Bouyo está no Brasil há oito anos, Baba há 13, e Mbaye há três.
— O atendimento aqui foi mais fácil e mais rápido também. A conversa flui melhor e nos sentimos acolhidos. Vou renovar o meu documento e encaminhar os da minha filha, que chegou há uma semana — destacou Baba.
O venezuelano José Alberto Labrador Guevara, 37, estava com a esposa Luisana Del Valle Rojas Leandro, 32, e os filhos Alessandro Haniel Labrador Rojas, 12 e Elias David Labrador Rojas, quatro anos.
— Viemos renovar nossa residência. O documento venceu e, com a pandemia, não tínhamos conseguido atendimento para renovar — explicou Guevara, que trabalha em uma empresa do ramo alimentício.
A esposa conta que a sensação é de alívio:
— Precisamos do documento para todas as coisas. É bom poder renovar e ficar com tudo em dia.
A haitiana Sherline Lorthe, 34, está há seis anos no Brasil. A documentação dela estava em dia, mas como a irmã Carmelle Lorthe, 37, precisava regularizar a situação, e tem mais dificuldade em entender o português, ela a acompanhou:
— Ter o documento certinho é bom — disse ela.
Nascida em Taiwan, Wu Feng Ying, 58, mora no Brasil há 23 anos. Ela trabalha em uma clínica de acupuntura de Caxias do Sul há 18 anos e também é proprietária de uma loja de produtos naturais. Uma das filhas de Wu foi intérprete de mandarim durante as Surdolímpiadas, o que é motivo de orgulho para a mãe. Ela foi até a prefeitura acompanhada por outra filha, Alcione Chen, 19, que também é intérprete de mandarim e traduz documentos. Wu conta ainda que o documento dela venceu há pouco tempo, em abril, mas, mesmo assim, o sentimento de regularizar a situação traz leveza:
— Com o mutirão o atendimento foi mais rápido e teve carinho e acolhimento da equipe. Me sinto bem e saio daqui mais leve.
Avaliação
No posto da Polícia Federal, no Shopping Villagio Caxias, o atendimento dura em média 40 minutos, e durante a força-tarefa esse tempo foi reduzido para cerca de 10 minutos. Para ter os pedidos deferidos, os imigrantes tem que estar com todos os documentos necessários para solicitar a renovação. Até quarta-feira (8), todos eles foram deferidos, segundo o delegado da PF em Caxias, Noerci da Silva Melo. Sobre a possibilidade de uma nova força-tarefa, o delegado ressalta que a PF irá avaliar se há necessidade de novas ações.
— Acredito que vamos chegar e até superar a expectativa de atender mil imigrantes. Os resultados são extremamente positivos. Houve a análise prévia e a orientação aos imigrantes repassadas pelo Centro de Informações ao Imigrante e pelo Centro de Atendimento ao Migrante. Facilitou bastante o trabalho da Polícia Federal porque eles chegam com toda a documentação certa em mãos — apontou o delegado.
A diretora de proteção social da Segurança Pública e Proteção Social, Suely Rech, destacou a importância de o município ser sede e da parceria para a realização da ação.
— Quem promove o mutirão é a Polícia Federal, mas o município abraçou a ideia, que tem caráter de política pública. O poder público busca ajudar essas pessoas para que tenham acesso a emprego e renda e a todos os serviços da rede. Para existir legalmente, eles precisam ter documentos, e estamos empenhados em garantir esse atendimento.
Suely lembra que muitas vezes há uma série de dificuldades por parte dos imigrantes até para entender o conteúdo do site da Polícia Federal.
— A demanda estava reprimida pela questão da pandemia, mas tem a barreira da língua, de compreender os serviços. Auxiliamos nisso, fazemos o acesso para que não faltem documentos e eles possam conseguir a regularização — destaca a diretora.
A coordenadora do Centro de Atendimento ao Migrante, Irmã Celsa Zucco, também auxiliava os estrangeiros. Para ela, o mutirão é uma oportunidade de encontro entre culturas.
— No CAM, de janeiro a abril, já atendemos 28 nacionalidades. E, em todo o ano passado, foram 56. São muitas pessoas de muitos países em busca de documentação e que enfrentam as barreiras do idioma e diferentes tipos de refúgio — explica a irmã.
Ainda segundo ela, a maioria dos imigrantes que buscam atendimento hoje são os venezuelanos. Em seguida, estão os senegaleses e, depois, os haitianos. A maioria está em fase produtiva, com idades entre 20 e 40 anos, o que representa mais de 50%. As mulheres são 48% dos imigrantes e, os homens, 52%.
Mutirão segue até sexta
O mutirão segue até sexta-feira (10). Dúvidas podem ser esclarecidas com o Centro de Informações ao Imigrante (Ciai), pelo telefone (54) 3218-6000, ramal 6418. O atendimento deve ser agendado com antecedência, por meio do Ciai, CAM ou com a Polícia Federal, pelo telefone (54) 3213-9000.