O Rio Grande do Sul está com uma demanda represada de carteiras de habilitação (CNHs) que chega a 110 mil candidatos. As informações são do Detran RS . Em Caxias do Sul, segunda cidade com a maior fila, 5.906 alunos aguardam a prova, enquanto na Serra o número é de 8.382 candidatos - sendo 1.317 de Bento Gonçalves. No entanto, há uma previsão de que esses números possam ser reduzidos em breve. No fim de abril, o governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior, anunciou, junto ao Detran RS, um investimento de R$ 1,3 milhão para pagar horas extras aos servidores responsáveis pelas aplicações de exames.
Nesta quinta (5), os CFCs de Caxias do Sul relataram que esperam as primeiras orientações do Detran para os próximos dias. Só com elas é que as autoescolas podem notificar os candidatos em espera sobre quando os exames extras acontecem. No planejamento do Detran RS, provas devem ser realizadas nos finais de semana, o que não acontecia antes, e os dias úteis devem receber 2 horas a mais para os testes. Inicialmente, o investimento é válido para cinco grandes polos do Estado (Porto Alegre, Passo Fundo, Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria), que concentram 33% da demanda.
O reforço do final de semana é importante para reduzir a espera. O cálculo do órgão é que quase mil provas sejam realizadas a cada sábado no Rio Grande do Sul se esse cronograma for cumprido. A média de testes práticos realizados mensalmente é de 45 mil. A previsão é que a fila de espera normalize até setembro em todo Rio Grande do Sul. Para Caxias e para Serra, o novo diretor-geral do Detran RS, Marcelo Soletti, espera que a meta seja cumprida antes do prazo estadual.
— A gente tenta incrementar isso com as provas durante a semana e estamos vendo internamente se conseguimos criar outras equipes que possam se deslocar de outras cidades para atender os municípios onde está concentrada essa maior parte de candidatos — explica Soletti.
O novo chefe do Detran RS avalia que a grande demanda se formou principalmente com os candidatos que não conseguiram realizar a prova por conta da pandemia. Soletti vê que os novos alunos conseguem atendimento dentro do prazo.
— Com certeza, a pandemia causou esse represamento. Tivemos a questão da bandeira preta, da bandeira vermelha, dos protocolos, o tempo entre uma prova e outra, até a higienização de veículos. Tem uma série de questões que acabou reduzindo a nossa aplicação. A gente está normalizando — avalia o diretor-geral.
Na bandeira preta do Mapa de Distanciamento Controlado do RS, os CFCs tiveram que interromper as atividades em 2021, como outros estabelecimentos. Quando retomaram, as provas práticas tinham novos protocolos, o que reduziu o número de testes. Em abril deste ano, as regras mudaram novamente. Agora, por exemplo, as provas podem ser realizadas com os vidros fechados, o que impede que elas sejam canceladas em dias de chuva, como acontecia anteriormente.
A expectativa é que se a força-tarefa funcionar nas cidades escolhidas, ela pode ser repetida em municípios com demandas menores. Na última quarta (4), o Detran RS realizou um exame piloto com turma extra em Uruguaiana, na fronteira do Estado com Argentina e Uruguai. O próximo passo é que mais turmas sejam abertas de forma gradual nos polos selecionados.
Expectativa é de voltar ao cenário normal com força-tarefa do Detran
As regras adotadas em abril também auxiliam na redução do tempo de espera para os candidatos. Isso é sentido no CFC Nosso, localizado no Centro de Caxias, que ainda conseguiu um número maior de vagas para os dias de teste prático. Porém, a expectativa é que o atendimento seja totalmente normalizado com a força-tarefa do Detran RS.
— Até o mês passado, que estávamos com 20 vagas semanais, a espera era de 4 a 6 meses para prova prática. A partir do mês de maio, a gente conseguiu receber um número maior de vagas tanto para categoria A, quanto para categoria B. Algumas turmas conseguimos deixar em dia e outros estão aguardando dois meses para a prova. Mas, com a força-tarefa do Detran acredito que isso vai acabar. Vamos voltar ao cenário normal, que é o aluno acabar as aulas e na semana seguinte já ser inserido em uma prova — explica a coordenadora do CFC Nosso, Jane Espinosa, 40 anos.
Em Caxias do Sul, as categorias com maior fila de espera são a B, com 4.390 pessoas, e a AB, de carro e moto, com 1.206 candidatos aptos a realizarem o exame prático. Apesar dos primeiros sinais de redução, alunos estão ansiosos para conseguir a habilitação. É o caso de Lucas Barbosa, 22. O jogador de futebol, que tinha contrato com o Juventude, está esperando tirar a CNH de categoria B para procurar um novo clube. Ele está na sétima aula prática e espera conseguir fazer a prova em agosto, após concluir as 20 aulas obrigatórias.
— Acho que está demorado. Depois que tu faz a 20ª aula, teria que demorar uns 10 dias para conseguir, porque se não, sai da rotina, uma vez que você está acostumado a fazer um dia após o outro as aulas — conta Lucas, que prevê aulas extras antes do futuro teste prático.
Os CFCs entendem a situação dos alunos e também torcem para que o cenário consiga ser normalizado o mais rápido possível.
— Muitas vezes os pais vêm até o CFC e dizem que o filho fez as aulas e tem que esperar 2, 3 ou 4 meses por uma prova, e com essa espera, ele acaba fazendo aulas antes da prova. Se ele tivesse terminado, por exemplo, hoje, e tivesse prova na próxima semana, não teria essa necessidade de aulas extras. Não é isso que o CFC quer, o CFC quer que o aluno saia falando bem do serviço, que ele concluiu a etapa, que foi aprovado — destaca Jane.
Candidato aposta em apoio familiar após espera para prova prática
Outra expectativa dos CFCs é que a força-tarefa também acabe ajudando os alunos reprovados. O CFC Thomas, por exemplo, trabalha com pré-agendamento da prova prática para os candidatos que concluíram a etapa do simulador, o que reduz o período entre a última aula prática e o teste. Porém, candidatos que reprovam no exame prático precisam esperar um pouco mais. Atualmente, o agendamento na autoescola para esses casos fica para o final de julho. Com turmas extras, a espera deve passar a ser menor.
— Essas vagas extras podem melhorar bastante a situação dos alunos que estão na espera, ou que já passaram por uma prova. Essas vagas vão estar bem direcionadas aos alunos que estão nessa espera — prevê a instrutora Marília Vanin, 38.
Para os candidatos, a espera gera novos custos, como as mencionadas aulas extras. Em alguns casos, a família tenta dar um apoio diferente. É o caso de Gabriel Castagna, 23. O estudante faria a prova em fevereiro, que foi cancelada pelos examinadores por causa da chuva. O novo teste está marcado para sexta (6), quase 3 meses depois. Para não esquecer de nada, o jovem conta com uma ajuda especial. No Bairro Cinquentenário, a tia de Gabriel, Márcia Dias da Luz, 60, o levou para uma aula teórica um dia antes da prova.
— Foi em fevereiro e eles adiaram para 27 de maio, e agora conseguiram antecipar a prova. E aí, ficou para amanhã — relata Gabriel.
Com um carro alugado, Márcia ficou o tempo inteiro no volante dando dicas ao sobrinho, para que ele relembrasse as lições da autoescola. A aula teórica foi uma forma de dar apoio a Gabriel, que fará a sua primeira prova prática.
— Eu fico no volante, fazendo as manobras, principalmente no estacionar, para que ele possa se sentir seguro diante de toda essa demora — conta Márcia.