Reunir todos os atendimentos em apenas um ambiente que seja acolhedor para a vítima de violência. Esse é o principal fundamento do Centro de Referência ao Atendimento Infanto Juvenil (Crai), implantado no Hospital Geral, em Caxias do Sul, em convênio com o Governo do Estado. A partir de agora, as crianças e adolescentes receberão atendimento médico, psicológico, policial e pericial na mesma estrutura, evitando uma "peregrinação" entre os órgãos, o que gerava um desgaste e exposição desnecessários.
A assinatura do convênio aconteceu na semana passada. Os serviços continuam os mesmos já prestados, a diferença é que agora toda a rede de proteção estará reunida num mesmo ambiente no Hospital Geral. Por exemplo, as conversas com policiais e os exames de perícias, ambos necessários paras investigações, serão feitos no próprio hospital.
— É uma conquista justamente por centralizar e evitar uma revitimização, já que a vítima precisava se deslocar para inúmeros serviços. O contato fica mais rápido e ágil. Toda a rede proteção consegue se organizar de uma maneira melhor e proteger melhor estas vítimas — opina a delegada Thalita Andrich, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
Este é o primeiro Crai instalado no interior do Rio Grande do Sul. O modelo segue o exemplo do centro que, desde 2001, funciona no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, em Porto Alegre. Outro ponto do convênio é consolidar o Hospital Geral como uma referência regional neste tipo de atendimento, disponível a 49 municípios da Serra e proximidades.
— O objetivo é ter aqui um atendimento integral a esta criança que sofre ou assiste algum tipo de violência. Desde o atendimento médico, social, psicológico, até estas perícias do IGP (Instituto-Geral de Perícias) e da Polícia Civil. Uma equipe multi profissional atuando no hospital em parceria com todas as instituições responsáveis — afirma Sandro Junqueira, diretor do Hospital Geral.
Conforme a direção da instituição, o convênio é um financiamento de parte de custos, autorizando este aporte de recursos pelo governo do Estado. A equipe médica, no entanto, já estava trabalhando neste tipo de caso e continua disponível.
— Há anos, temos o Pravivis (Programa de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual), que é referência para atendimento a mulheres e acabava atendendo as crianças. O Crai é uma extensão, que nos fortalece neste atendimento infanto-juvenil. Jamais queremos que uma criança seja agredida ou abusada, mas, se acontecer, queremos dar um atendimento digno e integral para esta vítima — destaca Junqueira.
Conforme o Ministério da Saúde, uma criança ou adolescente sofre violência a cada hora no Rio Grande do Sul. E, a cada quatro horas, uma é vítima de violência sexual. Os dados são do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e tornam evidente a importância de uma rede de proteção preparada para ajudar estas vítimas.
— Não podemos evitar o que eles passaram, mas podemos fazer a diferença e ajudar a superar o sofrimento — declarou a secretária adjunta da Secretaria Estadual de Saúde, Ana Costa, durante a solenidade de assinatura do convênio no dia 2 de maio.