A pandemia da covid-19 alterou rotinas e até mesmo a condição financeira de muitas famílias em todo o mundo. Em Caxias do Sul, mesmo com o avanço da vacinação contra a doença, alguns reflexos ainda são sentidos, como na área da Educação, onde 228 alunos dos 42.690 da rede municipal não retornaram às salas de aula até agora, segundo dados da busca ativa do projeto municipal Eu Conto, Todos Contam.
O número de alunos evadidos é quase o total de estudantes da EMEF Angelo Francisco Guerra (com 227) e quase o dobro de alunos da EMEF Afonso Secco (que tem 113). Segundo o coordenador da iniciativa, o professor Edelvan Borelli, o número já foi ainda maior: em dezembro de 2021, esse número era de 678 estudantes fora da escola e atualmente representa uma escola de pequeno porte. Borelli aponta que o principal motivo para essa alta evasão escolar é pelo fato de os jovens, a maioria de família em vulnerabilidade social, terem precisado se afastar do ambiente escolar para ajudar no sustento em casa.
— Infelizmente, a pandemia nos afetou bastante e, principalmente, pela questão do desemprego das famílias. A grande maioria dos alunos que fazem parte do Eu Conto, Todos Contam são de anos finais, 8º e 9º anos, e, geralmente, adolescentes que têm defasagem de idade e série, ou seja, já tem 17 anos e está lá no 7º, 8º ano. A pandemia trouxe a necessidade que esses jovens ajudem no sustento da família. A grande maioria desses estudantes é por estar trabalhando para ajudar a família. Outros alunos estão envolvidos com drogas e tráfico — analisa o coordenador.
O projeto iniciou como piloto, em julho do ano passado, com três escolas da rede municipal, EMEF Dolaimes Stédile Angeli, EMEF Presidente Tancredo de Almeida Neves e a EMEF Ruben Bento Alves. Dessas três, apenas as duas últimas seguem no controle do projeto, visto que a EMEF Dolaimes Stédile Angeli hoje é atendida por um programa de evasão escolar do governo federal, e este ano mais 10 instituições da rede municipal foram contempladas. Além disso, atualmente são seis secretarias municipais envolvidas com o Eu Conto, Todos Contam: Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura, Esporte e Lazer e Segurança e Proteção Social.
— As 12 escolas com maior número de estudantes na planilha do busca ativa, em situação de evasão escolar, foram selecionadas para participar desse ano. Num primeiro momento, essas escolas indicam cinco alunos, ou seja, cinco casas que precisam de ajuda de toda a rede intersetorial para fazer com que esse estudante volte para a escola. Iniciamos com 64 estudantes inseridos no projeto, estudantes que a escola não tinha mais contato, que o Cras (Centro de Referência em Assistência Social) também já não tinha mais contato e nós tínhamos que primeiro descobrir onde esses estudantes estavam para depois adotarmos as ações necessárias para fazermos com que eles voltassem para a escola — explica Borelli.
Em 2021, dos 30 alunos que participaram do projeto, 19 retornaram às escolas (63%). Já este ano, até o momento, dos 64 assistidos, 38 voltaram (59%), sendo 13 através de transferência de escola.
— A ideia, além de fazermos com que esse estudante volte para a escola, é fazer com que ele entenda que através da escola, ele vai conseguir alcançar algumas coisas, como por exemplo, workshops profissionalizantes, atividades na área esportiva e cultural. Não é só trazer o estudante para a escola. É claro que a assistência social tem um papel muito importante porque a maioria desses estudantes pertencem a famílias em vulnerabilidade social e algumas destas fazem parte de alguns programas de benefício. As que não fazem e se encaixam no perfil, são indicadas a fazer parte para receber algum auxílio — comenta o professor, acrescentando que, em relação a saúde, os pais das crianças e dos jovens são incentivados a manter uma rotina de consulta com clínico geral e dentista, e também manter as vacinas todas em dia.
E complementa:
— Os participantes do projeto não sabem que estão participando do projeto, eles são assistidos de uma maneira em que eles não se sintam nem privilegiados e nem oprimidos. É um trabalho de formiguinha, que não é visto, mas não existe divulgação. A ideia é que o jovem seja o protagonista dentro da escola, não o projeto — destaca o coordenador do Eu Conto, Todos Contam.