Aumentou nas últimas semanas a procura por atendimentos para crianças no serviço de saúde de Caxias do Sul. Conforme painel da prefeitura – ferramenta que disponibiliza os dados da cidade –, a ocupação nas unidades de terapia intensiva (UTI) pediátrica, tanto na rede pública quanto privada, está em 100%. Dos 20 leitos disponíveis, todos estão sendo utilizados na manhã desta quarta-feira (13): são seis no Círculo, cinco na Unimed e nove no Hospital Geral.
No HG, referência em atendimento pediátrico para 49 municípios da região, o movimento cresceu de forma significativa nos últimos 20 dias, conforme o diretor da instituição, Sandro Junqueira. Em entrevista ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra nessa quarta, ele destacou que o pico de internações ocorreu na semana passada. Além da lotação nos leitos de UTI, a ocupação nos leitos de enfermaria clínica tem taxa entre 80% e 90%. São 22 leitos nessa ala.
— Estamos no outono, nem chegamos no inverno que tradicionalmente acomete mais doenças respiratórias. Tem muito a ver com o retorno das aulas, das escolinhas, as crianças estão mais expostas — disse.
E acrescentou:
— O que a gente observou nesses dois anos é que as doenças respiratórias, especialmente nas crianças, diminuíram. Passamos na pandemia preocupados com covid e nossas enfermarias pediátricas estavam tranquilas. Só que voltamos ao patamar anterior (à pandemia) com relação à ocupação. A superlotação no inverno é histórica, há muitos anos a gente vem convivendo com isso. Entendo que houve uma redução (nos últimos dois anos) em função o uso de máscara, do isolamento, das crianças não terem ido à escola.
Para evitar uma situação ainda pior no período de frio mais intenso, Hospital Geral e prefeitura estão estudando medidas. Segundo Junqueira, alguns encontros já foram realizados para analisar o que pode ser feito.
— Estamos pensando junto com o município alternativas, porque temos uma capacidade instalada. Essa capacidade vai se esgotar. Fizemos já reuniões com o município para ver o que o município vai fazer. Em tese, quem controla os leitos é a Central de Regulação. Coloco toda a minha estrutura à disposição do município e quando existe excedente de demanda o município sempre nos auxiliou a transferir pacientes para hospitais da região ou mesmo de fora. Então, é uma matemática. Você tem uma disponibilidade e tem uma procura. Isso vai ter que ser administrado com o município — explicou.
O que diz a prefeitura, por meio de nota encaminhada via assessoria de comunicação
"A prefeitura de Caxias do Sul, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), garantiu a manutenção de 34 leitos (16 de UTI e 18 clínico/ cirúrgicos) que foram criados durante a pandemia para casos de covid-19 e que agora atendem a pacientes clínicos. Ou seja, são 34 leitos a mais para toda a rede SUS em Caxias. Para que isso se torne possível, o Município investe R$ 900 mil mensais para complementar o valor pago pelo governo federal.
Historicamente, a demanda por leitos é maior do que a oferta, tanto de UTI como de enfermaria, por isso a estrutura hospitalar é adaptada à situação de momento, inclusive com o manejo de casos eletivos quando necessário. Em relação à regulação, ela é realizada pela Central de Regulação de Leitos (CRL) e encaminha pacientes de toda a Macro Serra que necessitam de internação em Caxias, conforme o quadro de cada paciente.
A chegada do período de frio e o consequente aumento de doenças respiratórias é uma preocupação constante da Secretaria da Saúde, o que atesta a importância de manter a vacinação sempre em dia, tanto contra a Influenza (gripe) como contra a covid-19, uma vez que a imunização é a principal estratégia para evitar casos graves e consequentes internações. Por isso, a vacinação segue sendo ofertada em unidades básicas de saúde e também em pontos parceiros."
Ouça a entrevista:
Outras instituições
O pronto-atendimento do Hospital da Unimed teve um aumento de 26% no setor de pediatria em relação aos meses de fevereiro e março. Nos primeiros 10 dias do mês de abril, esse serviço já atingiu o número de mais de 1.750 consultas. Conforme a instituição, é visível o aumento na gravidade dos casos o que resulta em um número maior de internações por síndromes respiratórias.
No Hospital do Círculo, o aumento na procura por atendimentos relacionados a síndrome gripal foi de 40%. Nas UPAs, os atendimentos pediátricos aumentaram cerca de 15% nos últimos 15 dias em relação aos 15 dias anteriores.
Procura mais cedo que o normal
A procura por atendimentos pediátricos devido à doenças respiratórias costuma aumentar quando as temperaturas caem. Porém, neste ano, a demanda começou mais cedo, conforme o pediatra Marcelo Saldanha. Geralmente, segundo ele, a busca ocorre entre maio e junho.
O médico explica que esses vírus que causam doenças respiratórias em crianças têm potencial para desencadear outros quadros, como crises de asma.
— Esse vírus favorece, digamos, a entrada ou a infecção secundária de outros agentes, caso de otites, casos de pneumonias, e as crianças maiores, casos de sinusites — acrescenta.