Cerca de 100 estudantes atendidos pelo projeto Mão Amiga, em Caxias do Sul, passarão a ver as produções audiovisuais com outros olhos depois de concluírem a ação Oficina Cinema no Sul. A iniciativa começou com aulas teóricas na metade de março e será finalizada na próxima sexta (8) após encerrarem as gravações de seis longas-metragens produzidos do início ao fim pelos jovens. Além da capacitação gratuita com a oportunidade de abrir caminho para um futuro profissional relacionado à sétima arte, o grupo composto por crianças e adolescentes de oito a 15 anos desenvolve também a criatividade e a imaginação, proporcionando novas descobertas sobre o audiovisual.
As oficinas envolvem estudantes dos bairros Reolon, Esplanada, Charqueadas, Santa Fé e Campos da Serra e estão sendo realizadas nas unidades do Mão Amiga no Campos da Serra, pela manhã, e no Esplanada, à tarde. Os grupos foram divididos em seis e cada um produzirá um longa-metragem diferente. São histórias com preferência para o terror e para a comédia, envolvendo monstros, palhaços e freiras, mas também falando de temas que merecem discussão e reflexão, como o bullying.
Antes de iniciarem as atividades práticas, o grupo foi apresentado aos conceitos envolvendo o cinema, com destaque aos trabalhos de direção, dramaturgia, roteiro, fotografia, sonorização e montagem, por exemplo. Também receberam instruções para a produção dos roteiros e de técnicas de atuação, interpretação e ainda do manuseio dos equipamentos de filmagem.
Por isso, ao serem capacitadas em todos os setores, elas poderão atuar em diferentes funções. Na segunda (4), os grupos estavam envolvidos nos ensaios e leitura dos roteiros para, a partir desta terça (5), começarem a gravar os curtas. A edição será feita pela organização do projeto. Os resultados serão exibidos futuramente em uma sessão de cinema para os protagonistas das histórias.
Todo o conteúdo é ministrado por 12 profissionais com experiência no audiovisual, muitos deles vindos de outros estados, como é o caso do ator e diretor, Jorge Barreto. Ele é conhecido como Jorge Van Damme devido ao visual semelhante ao do ator de Hollywood e por ter atuado como sósia dele nos anos 1990. Para ele, proporcionar uma imersão no audiovisual permite que novos talentos surjam e representem oportunidades no futuro.
— Eles deram a ideia e nós, profissionais, fomos lapidando. As locações são limitadas, então temos que fazer o melhor com a estrutura que temos. Vamos transformar o pátio da escola (do Mão Amiga) em um set de filmagens. Nessa arte, aprendi que o improviso faz dar certo. Percebi que tem muita gente boa aqui para ser atriz, roteirista e trabalhar com produção. Eles só precisavam de um incentivo, que é isso que esse projeto se propõe a fazer — explica.
Barreto e os demais profissionais envolvidos na capacitação estão no projeto a convite do casal Adri Tolardo e Luciano Silva, responsáveis por uma produtora audiovisual de Caxias do Sul. Eles montaram o projeto no início de 2021 e receberam a aprovação em outubro do ano passado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Inicialmente, a ação seria realizada com estudantes de quatro escolas públicas de Caxias, mas acabou ganhando a adesão de 15 instituições por meio do projeto Mão Amiga, onde as crianças realizam atividades no contraturno escolar.
— O Mão Amiga, por meio do frei Jaime Bettega, acabou se tornando um padrinho do nosso projeto, permitindo que ele ampliasse ainda mais a sua atuação. O que era para ser mais restrito a alguns bairros, acabou ganhando mais força — afirma Silva.
Ainda de acordo com ele, capacitar os jovens permitirá que a produtora dele e outras da cidade possam utilizar essa mão-de-obra futuramente, com direito a cachê e créditos para os jovens.
— Temos uma demanda grande de pessoas que saibam fazer cinema. Ao invés de procurar gente de fora, por que não capacitá-los? Pensamos o projeto dessa forma, para que eles conheçam o que é o audiovisual, saibam do potencial e queiram, quem sabe, seguir uma carreira profissional — afirma.
O primeiro contato com as câmeras iniciou desde os primeiros dias do projeto, quando os pequenos encararam um monólogo. Ao invés de lerem um texto pronto, eles preferiram contar as suas histórias de vida.
— Nessa primeira etapa já foi possível observar como tem muitos com o dom da arte na veia, com muito interesse em aprender e se aperfeiçoar — explica Adri, que é atriz e produtora.
“Estou ansiosa para começar a gravar”, diz estudante envolvida em um dos curtas
Depois de aprender a manusear um equipamento profissional durante as oficinas, o estudante Raoni Silva, 15 anos, vai ser o responsável por uma das câmeras da gravação do longa-metragem do seu grupo. Aluno do 9º ano da Escola Municipal 19 de Abril, ele conta que sempre gostou de fazer fotos e vídeos com o seu celular, mas que agora a responsabilidade é maior.
— Uma coisa é o celular e outra é uma câmera dessas, com muitas opções e botões. Tudo pra mim foi novidade, aprendi muita coisa legal e quero começar a praticar para poder ver o resultado depois — afirma ele, que gosta de assistir filmes e se diz fã da franquia Velozes e Furiosos.
Além de sonhar em ser uma médica veterinária, a estudante Yasmin Silva, 12 anos, colocou a possibilidade de ser uma atriz como um dos caminhos profissionais que ela pretende seguir. O desejo surgiu durante a preparação para a gravação de um dos curtas, chamado de “Amigos Estranhos."
Yasmin atuará como uma personagem de destaque: é ela que vai convidar as suas amigas para uma festa do pijama, que ganhará elementos assustadores – a reportagem se limita a não dar spoilers.
Além de atuar e ajudar a fazer o roteiro, ela também conta que fazer novas amizades é outro benefício que o projeto trouxe para ela.
— Estou ansiosa para gravar, começar a vivenciar aquilo que nós pensamos no nosso grupo. Vai ser legal — afirma.