Depois de cogitar a possibilidade de fechamento da unidade e enfrentar dificuldades em atendimentos especializados em saúde, o Hospital de Bom Jesus passou a ser administrado de forma compartilhada desde a última quinta-feira (17). Pela primeira vez em outro município, a Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS), gestora do Hospital Geral (HG), de Caxias, assumiu a gestão hospitalar, enquanto a prefeitura de Bom Jesus segue no comando administrativo da unidade. Um dos primeiros passos da parceria é colocar em prática um plano de ação que prevê reforço no quadro clínico para permitir o retorno de cirurgias eletivas, além da realização de exames especializados e partos programados.
O contrato de gestão compartilhada é válido até 2027 e prevê que a administração de receitas, despesas, processos e rotinas hospitalares seja feita por profissionais das duas instituições - além de permitir levar o conhecimento técnico do HG para Bom Jesus. Um dos principais objetivos é melhorar os serviços em outras cidades da Serra para evitar que os demais hospitais da região tenham que disponibilizar leitos. A unidade de Bom Jesus é reconhecida pelo estado como de pequeno porte, oferecendo 32 leitos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), distribuídos entre clínicos, pediatria clínica, psiquiatria e unidade de isolamento.
De acordo com o vice-prefeito de Bom Jesus e interventor do hospital, Diogo Kramer Boeira, há três projetos aprovados pela Vigilância Sanitária do município que terão sequência a partir da nova gestão e também com o aporte de R$ 600 mil destinados pelo governo do Estado nesta semana. Um deles busca reformar o serviço de saúde mental do hospital, com a previsão de quatro novos leitos para internação, sendo dois deles psiquiátricos.
Outra iniciativa será a abertura de uma farmácia com capacidade para o fornecimento de medicamentos à comunidade e a construção de uma escada de emergência. Existem também tratativas para emendas parlamentares, que somariam ao todo cerca de R$ 2 milhões em investimentos no hospital para os próximos anos.
Entretanto, segundo Boeira, o desafio mais urgente é a abertura de um novo bloco cirúrgico, que permitirá que a unidade realize cirurgias eletivas. Para esse tipo de atendimento, os moradores de Bom Jesus precisam se deslocar atualmente para Caxias do Sul, Vacaria, Passo Fundo e Porto Alegre e dependem do transporte fornecido pelo poder público.
Segundo o vice-prefeito, a estrutura do bloco cirúrgico está pronta, mas fora de operação porque aguarda a chegada de corpo clínico especializado, como anestesistas e cirurgiões, que serão enviados pela FUCS com a nova gestão. A expectativa é que sejam realizados mutirões de cirurgias não urgentes, com os profissionais se deslocando para o município do Campos de Cima da Serra em determinados dias para os atendimentos especializados.
— Está sendo uma semana de reuniões, de ajustes, para que juntos possamos entender a necessidade do hospital e a capacidade da FUCS. Nosso principal ganho será em relação ao corpo clínico, que permitirá avanços nos atendimentos de imediato — explica Boeira, que disse ainda não saber quantos profissionais serão necessários.
Ainda conforme o vice-prefeito, o hospital funciona atualmente como uma extensão do posto de saúde, não oferecendo serviços mais completos, o que poderá mudar com a nova parceria. Futuramente, a unidade de saúde também buscará a realização de exames especializados de imagem, como endoscopia e colonoscopia, por exemplo.
O bom-jesuense que precisa desse tipo de serviço pelo SUS é encaminhado atualmente para atendimento em Passo Fundo – distante cerca de 230 quilômetros da cidade. O novo contrato com a FUCS prevê que equipamentos e profissionais capacitados façam os atendimentos em Bom Jesus, segundo o vice-prefeito.
Levantamento determinará se partos não urgentes voltarão a ser realizados
Outro serviço aguardado a partir da parceria com a FUCS é que o hospital volte a realizar partos programados - serviço indisponível há pelo menos oito anos em razão da estrutura da unidade. Atualmente, o hospital possui um médico cirurgião à disposição somente para partos de urgência. Sem essa particularidade, a referência é o Hospital Nossa Senhora da Oliveira, de Vacaria.
Entretanto, segundo o vice-prefeito, um levantamento será realizado junto à 5ª Coordenadoria Regional de Saúde para entender qual é a demanda de novos nascimentos.
— Queremos entender qual é o número previsto de partos não apenas em Bom Jesus, mas também em Jaquirana, São José dos Ausentes e até Monte Alegre, para ver se existe interesse desses municípios em uma parceria para voltar a fazer os partos de modo pleno aqui na cidade. Para viabilizar o serviço, precisamos ter um número mínimo de partos por ano — explica.
Com base nos últimos atendimentos, Boeira afirma que as gestantes preferem ter os filhos em Bom Jesus.
— As mulheres não querem mais se deslocar para Vacaria e acabam deixando a gestação até o último instante para chegar no hospital (em Bom Jesus) praticamente em trabalho de parto para não ter que se deslocar. Nesses casos, temos uma equipe para fazer o parto, mas queremos, a partir da gestão compartilhada, dar mais qualidade para esse atendimento, com médico obstetra e pediatra de plantão, o que não temos atualmente — afirma.