Atentos a cada detalhe, e em setores diferentes, inúmeros expositores fazem questão e sentem-se orgulhosos em participar da Festa da Uva. Há quem já seja reconhecido dentro do Parque Mário Bernardino Ramos, em Caxias do Sul, pelos organizadores do evento, por historiadores, por quem entende e conhece a Festa da Uva, tamanha a tradição em estar presente. Já outros, fazem sua estreia nesta edição, o que consideram fazer parte de sua história pessoal.
São pessoas que ajudam a construir a Festa. Personagens como Mário Debastiani, 93 anos, que participa da Exposição de Uvas desde a década de 50 ou Suely Scariot Piton, 53, que realizou o sonho do marido, que morreu há um ano e meio, e participa pela primeira vez de uma edição do evento. Personagens como a artesã Lenir Rossi Corso, 82, que trabalha com bordados há anos. Ela participou da confecção do vestido da rainha Pricila Zanol e das princesas Bianca Fabro Ott e Bruna Mallmann.
Esta edição é construída ainda por pessoas como Larissa De Godoes Agnolin, 22 anos, que ajuda na agroindústria da família. Pelo trabalho de Elisabete Bernardi, 52 anos, que fornece as uvas que são consumidas pelo público do Parque. A Festa tem ainda uma homenagem a um apaixonado pelo evento: Wilson Andreazza, que morreu em 2021, aos 93 anos. Peças criadas por ele para serem expostas na Festa da Uva, que precisou ser adiada no ano passado, podem ser conferidas na loja de artesanato nas réplicas dos Pavilhões.
Orgulho da Festa da Uva
Um dia antes da abertura dessa edição, o produtor rural Mário Debastiani, de Caxias do Sul, esteve no Centro de Evento para acompanhar de perto a montagem da Exposição de Uvas:
— Comecei a expor uva quando a exposição era ali onde hoje é a Prefeitura. A uva ficava dentro de um estande com vidro também, mas era diferente. A cidade cresceu, a Festa da Uva cresceu e foi ficando cada vez mais bonita.
A produção da família em Santa Justina é ampla, e ele conta com a ajuda dos filhos para cuidar do parreiral. Quanto a uva exposta, ele demostra carinho:
— É o símbolo da Festa e da cidade. Eu cuidei dessa. Acho que essa foi uma das últimas exposições que montei porque estou com bastante idade, mas me sinto feliz. Tenho muito orgulho porque faço parte dessa história — emociona-se Debastiani.
Sonho realizado
Com produção de uva na localidade de Caravaggio da 6ª Légua, no interior de Caxias, Suely Scariot Piton participa pela primeira vez da Festa da Uva. Ela está expondo a fruta e também vendeu uvas que são distribuídas pela organização aos visitantes
— Essa é a realização do sonho do meu marido, Carlos Antônio Piton. Ele faleceu há um ano e meio de câncer, e sempre me dizia: todo mundo consegue, porque a gente não, mas ele nunca ia atrás, e dessa vez eu fui por ele, para honrar a vontade dele — conta Suely.
Ela se emociona:
— Realizamos o sonho dele e entramos para a história da Festa da Uva.
Detalhes dos Vestidos
Moradora de Ana Rech, Lenir Rossi Corso, borda desde os 15 anos. A paixão pelo bordado começou com o incentivo da mãe que gostava de ver a filha bordar. Ela bordou o próprio enxoval, e depois passou a bordar enxoval de noiva, da casa e do bebê.
— Com tempo fui me aperfeiçoando e aprendendo outras técnicas. Costurava e bordava. A imaginação se solta e a gente começa a pôr no pano. Trabalhei para muitas pessoas, mandei enxoval para fora do país. Trabalhei até em um casamento que o falecido Clodovil fez aqui em Caxias do Sul e que a festa foi no próprio apartamento — recorda Lenir.
Essa é a primeira vez que ela participa da confecção dos vestidos da rainha e das princesas. São detalhes delicados feitos em ponto cruz e crochê:
— É um privilégio. Com tanta gente jovem trabalhando, é uma honra trabalhar e fazer parte da história porque é a Festa da Uva.
Vitrine para os produtos
A jovem Larissa De Godoes Agnolin, 22 anos, ajuda na agroindústria da família. Natural de Nova Bassano, essa é a quarta edição da Festa da Uva, em que eles expõem os produtos.
— Nós nos sentimos parte da Festa da Uva e fazemos questão de vir expor porque é uma vitrine e como é da nossa região o público também nos procura por fora da Feira.
A família vende salame típico italiano, copa, linguiça mista defumada e uma curiosidade: a linguiça jiboia, que é para assar.
— O nosso carro chefe é o salame, mas a linguiça jiboiá é diferenciada, é cortada a faca e por isso não se assemelha a campeira. Ela chama atenção e deixa o pessoal curioso para descobrir o sabor — conta Larissa.
Uvas para o público
Elisabete Bernardi, 52 é da comunidade de São Gotardo, de Vila Seca, em Caxias do Sul. A família começou a produzir uva há dois anos.
— O evento mostra o que a cidade tem de melhor.
Ela conta que ficam orgulhosos quando os visitantes elogiam a fruta:
— Muitos turistas se encantam porque eles não sabem como funciona um parreiral e eles chegam aos Pavilhões e se deparam com a nossa uva, o aroma, o gosto. Agora estão consumindo a uva que produzimos e vendemos, é muito alegria.
Apaixonado pela Festa da Uva
Karla Mombach, 58, filha do artesão caxiense Wilson Andreazza, que morreu em 2021, aos 93 anos, conta que o pai tinha preparado várias peças, deixado um estoque pra expor na Festa da Uva que aconteceria em 2021.
— O evento acabou sendo adiado por conta da pandemia e nesse meio tempo ele acabou partindo. Consegui contato com o pessoal da Ascart e fiquei muito feliz, ele está participando da Festa e ficaria muito orgulhoso — avalia
Ela e o irmão, Sérgio Andreazza, que vive em Caxias, deixaram o estoque final do pai para comercialização na Festa, com modelos que são pequenos bonecos de madeira, em atividades como a pisa de uva, além de elementos como a cuia de chimarrão, o queijo e o salame, acompanhados por frases que Andreazza mesmo criava, no ofício que escolheu após aposentar-se do ramo moveleiro.
— São peças mais rústicas que as pessoas, principalmente os turistas, gostam de comprar, também porque são lembranças da cidade e região — afirma Delaide Giubel, artesã que produz peças com biscuit.
As peças , estão com as de outros 11 artesãos, e são feitas em diferentes técnicas e materiais. A loja de artesanato fica aberta no mesmo horário dos Pavilhões, de segunda a quinta-feira, das 11h às 22h; e de sexta-feira a domingo, das 10h às 22h.
Paixão pela Rádio Gaúcha
A filha de seu Andreazza também conta que o pai era apaixonado pela Rádio Gaúcha.
— Ele ouvia até enquanto dormia — brinca.
Não à toa ele se destacou durante a vacinação contra a covid-19, quando, no dia 8 de fevereiro de 2021 levou aos Pavilhões - onde uma ação da SMS acontecia - um cartaz de homenagem aos 94 anos que a emissora completava naquela data. Quem tomou a primeira dose naquele dia foi sua esposa, Carmem Andreazza, 92. Ambos chegaram a dar entrevista para o Gaúcha Atualidade, comandado pela comunicadora Andressa Xavier.
Seu Andreazza e dona Carmem eram casados há 70 anos, ela morreu em julho de 2021, em função de complicações após uma fratura. Em fevereiro de 2022, quando a Rádio Gaúcha completava 95 anos, Karla presenteou Andressa com uma peça feita pelo pai durante o programa que era transmitido ao vivo, direto do Largo Glênio Peres, em Porto Alegre.