No brincar, o aprendizado e o conhecimento. Na interação, o desenvolvimento e o estímulo. É assim que especialistas na Educação explicam a importância da ida das crianças para creches e pré-escolas. Em Caxias do Sul, tanto as escolas de educação infantil da rede privada quanto as públicas já retornaram às atividades no mês passado e, mesmo com o aumento de casos impulsionados pela variante Ômicron, o retorno tem sido positivo.
A secretária municipal da Educação, Sandra Negrini, diz que, para ter um bom retorno, além dos cuidados com a covid-19, como manutenção do distanciamento e cuidado quanto ao uso da máscara e do álcool gel, foi necessário pensar na preparação dos profissionais da educação para compreender o contexto ao qual a criança está inserida e a sua realidade.
— Estamos fazendo uma adaptação para quem vem das férias e outra para os novos e também o acolhimento das famílias pela saída de casa e pelas crianças estarem sendo cuidadas por outras pessoas. A família tem que se sentir segura — defende Sandra.
A titular da pasta também afirma que, além do acolhimento para com a família e a criança, também é fundamental respeitar a cultura, a religiosidade, entender o histórico e procurar saber as vivências anteriores do menor. Outro foco é em relação a questão alimentar, visto que é tratado como um ato pedagógico, de acordo com Sandra.
— A criança precisa se organizar, ter o cérebro organizado também, de entender que tem hora para dormir, para comer, para brincar. É um período de descoberta, tanto da criança, como da escola que precisa compreender a família. Temos janelas de oportunidades do zero aos 3 anos que não se abrirão novamente, como desenvolvimento linguístico, do balbuciar ao falar e a criança que é empobrecida de interações acaba prejudicada — ressalta a secretária.
Maior procura no retorno às aulas
A presidente do Sindicato das Instituições Pré Escolares Particulares (Sinpré) de Caxias do Sul, Bruna Volpato, comenta que as creches e escolinhas da rede privada estão tendo muita procura e que o retorno foi marcado por bastante visitas para conhecer as escolas.
— Temos batido nessa tecla do quanto é importante a educação infantil no desenvolvimento das crianças. O afastamento delas da rotina escolar pode causar defasagem cognitiva. A luta pelo retorno (na pandemia) foi grande. A escola é local de formação de personalidade, formamos seres humanos. Alguns danos são irreversíveis quando a criança é afastada. É na educação infantil que elas aprendem a se expressar e se conhecer, as crianças pequenas se desenvolvem pela brincadeira e interação — defende Bruna, que também é psicóloga.
Mesmo sem a obrigatoriedade do ensino para crianças de zero a 3 anos, Bruna destaca que as escolas sempre tiveram um número significativo de matrículas. Entretanto, na pandemia, este número caiu para a metade.
Mas teve quem se inicia na vida escolar neste momento. É o caso da Pérola, de um ano e três meses, que começou a frequentar a creche, no bairro Cristo Redentor, em agosto do ano passado. A mãe, Larissa Vieira, advogada de 36 anos, conta que a decisão não foi fácil, por causa da covid-19, mas que é notável o avanço no desenvolvimento da filha depois que ela passou a frequentar a escola.
— A minha família levou bem a sério o isolamento, até porque engravidei da Pérola bem no início da pandemia, então trabalhei de casa, depois que ganhei ela, segui trabalhando de casa, mas procurei a escola porque comecei a precisar fazer coisas fora e precisa de algum lugar. Manter isolado a gente sabe que não faz bem, eu fiz magistério no passado, então tenho uma noção, aí acabamos unindo o útil ao agradável, a necessidade com a questão do desenvolvimento e, realmente, a gente notou que o desenvolvimento da Pérola melhorou bastante — justifica Larissa.
Pietro, de 4 anos, pediu para voltar à escola
Enquanto Pérola iniciou a caminhada durante a pandemia, Pietro, de quatro anos, está aproveitando o retorno para reencontrar os amigos e as professoras que não via durante os períodos de fechamento das escolas para conter o avanço do coronavírus. A Hevelize de Oliveira, mãe dele, diz que a ideia inicial era que Pietro retornasse à escola apenas na segunda semana de 2022, mas, a pedido dele, a volta foi antecipada.
— Os primeiros meses foram tranquilos, mas depois para explicar para ele isso foi muito complicado. Quando ele voltou e parou, foi outro choque. Na cabecinha dele é que ele nunca mais ia voltar. Agora, em janeiro, ele ia voltar uma semana depois do retorno e ele mesmo pediu, no terceiro dia que a gente estava em casa, ele disse que queria voltar e eu fiz a vontade dele — destaca Hevelize, de 36 anos, que trabalha com o marido como prestadora de serviço.
Ela observa que, após o primeiro mês do retorno, o desenvolvimento do Pietro “voltou com tudo” e acredita que, pelo fato das professoras terem estudado para lidar com as crianças, elas são mais qualificadas do que os pais para promover o ensino.
Como tornar esse retorno mais fácil em casa?
Seja em situação de retorno após a suspensão das aulas presenciais ou o primeiro contato com a escola, a pediatra Mara Mendes sugere que haja diálogo dentro de casa para que a criança se adapte melhor ao retorno.
— Devemos passar para eles que a escola vai trazer coisas legais, vão construir novas amizades, rever amigos, reaprender a conviver, brincar e a seguir protocolos que esperamos que as escolas estejam todas preparadas — sintetiza a médica.
Com a maior transmissibilidade da covid, através da variante Ômicron, Mara também ressalta a atenção ao uso da máscara e ao distanciamento também se faz necessário.
— E o mais importante, os pais devem estar sempre atentos a qualquer sintoma respiratório, como coriza, alteração na temperatura, alterações gástricas como vômitos e diarreia, dores pelo corpo. Não perca tempo, ligue, mande um WhatsApp para seu pediatra. E evite correr para os plantões sem antes uma orientação do pediatra. Isso diminuirá a contaminação de seus filhos na sala de espera dos hospitais — acrescenta a pediatra.
Já em relação a outras viroses, comuns nesta faixa etária, Mara informa que no verão o risco é menor que no inverno e que os protocolos seguidos atualmente também impedem a contaminação de outros vírus.