Escolas da rede pública e da rede privada de Caxias do Sul têm datas diferentes para o retorno das férias nesta e nas próximas semanas. Mas o que todas as instituições compartilham, independentemente do dia de início das aulas, é um mesmo cenário pandêmico, que vem sendo agravado pelo aumento de casos em função da variante Ômicron desde o fim do ano passado. Tal situação deixa em alerta as famílias, escolas e também autoridades municipais e estaduais.
Tanto a rede municipal quanto a rede particular já acenaram para o retorno presencial, seguindo os protocolos sanitários. As escolas do município iniciam o ano letivo no dia 18, enquanto as instituições privadas têm autonomia para estabelecer seu próprio calendário. Na rede estadual, o retorno é previsto para o dia 21.
O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe), Bruno Eizerik, defende o retorno 100% presencial, sem ensino híbrido ou remoto.
— Já sofremos muito em 2020 com a suspensão das aulas. Já tivemos o prejuízo também o ano passado de não começarmos com as aulas presencias. Hoje, nós temos os nossos professores e os nossos funcionários com as três doses das vacinas, então, claro que a Ômicron está aí, mas nós temos menos gravidade entre as pessoas afetadas pela covid. Acreditamos que precisamos começar o ano letivo com os alunos em sala de aula, obviamente com todos os cuidados que tornaram a escola um local seguro — avalia Eizerik.
A secretária Municipal da Educação, Sandra Negrini, afirmou, em entrevista à RBS TV na quinta-feira (3), que as aulas retornam no formato presencial, nos ensinos Infantil e Fundamental, e que a pasta aguarda as orientações estaduais quanto a necessidade ou não de escalonamento de turmas.
— Nós estamos, inclusive, trabalhando junto com a 4ªCRE, discutindo para termos o mesmo parâmetro na rede pública no território de Caxias. Em princípio, é para a gente voltar 100%, sim, com os protocolos. Manteremos o distanciamento necessário na hora da alimentação, e, claro, o uso da máscara, álcool gel e todos os cuidados que tínhamos — detalha Sandra.
Uma nota informativa divulgada pelo governo estadual no dia 31 de janeiro trata, entre outros pontos, sobre o afastamentos de pessoas infectadas pela covid-19. Veja mais abaixo. A secretária da Educação de Caxias reforçou que as mesmas orientações serão adotadas na rede municipal, após o início das aulas.
Ensino privado se organiza para receber alunos
A estimativa é que a rede privada do RS receba cerca de 420 mil alunos na Educação Básica neste ano. O Sinepe afirma não ter uma contagem específica para a Serra ou mesmo para Caxias do Sul. A sugestão do sindicato é para que as escolas iniciem as aulas no dia 21, mas as instituições têm autonomia para elaborar seus calendários.
No Cetec UCS, escola da Fundação Universidade de Caxias do Sul, os alunos voltam as salas de aula no dia 2 de março e com novidades: neste ano, a instituição passa a ofertar também o Ensino Fundamental, no formato integral, para turmas a partir do sexto ano. A expectativa é atender cerca de 820 estudantes ao todo.
Com mais movimentação de pessoas na estrutura, a preocupação também é sanitária para garantir a saúde de todos.
— Vamos continuar exigindo o uso de máscara, o distanciamento entre eles, na entrada e na saída... A ideia é recebermos todos os alunos. Além disso, vamos manter o ensino híbrido para estudantes que, eventualmente, sejam infectados. Vamos transmitir a aula ao vivo para que o aluno não perca o conteúdo enquanto cumpre a quarentena. Esperamos que não seja necessário, mas sabemos que pode acontecer — explica o coordenador pedagógico do Ensino Médio do Cetec UCS, Nilseu Paulo Tortelli.
Nestas situações, as aulas são transmitidas por um equipamento que contém uma câmera, a qual acompanha a movimentação do professor em sala de aula e capta a interação de sons do ambiente.
Nova orientação para afastamentos *
:: Na Educação Infantil, um caso confirmado de coronavírus na turma resultará na suspensão das aulas presenciais nesta turma por 10 dias, a contar do último dia de comparecimento do caso positivo, sem necessidade de testagem dos demais colegas. No caso de um estudante assintomático ter tido contato com alguém em sua casa que positivou para covid-19, apenas este aluno é afastado por 10 dias, sem necessidade de ser testado.
:: No Ensino Fundamental e o Ensino Médio, caso haja confirmação de um caso de covid-19 na turma, este deve ser afastado e a ocorrência de sintomas nos demais alunos da turma deve ser monitorada, afastando por 10 dias aqueles considerados contato próximo (sem uso de máscara) por até 10 dias. É possível encerrar o isolamento mais cedo, no sétimo dia, se o aluno estiver assintomático e testar negativo para a doença. Estudantes assintomáticos que tiveram contato em casa com alguém que positivou para a doença devem ficar afastados da escola por 10 dias, sem a necessidade de testagem.
*Fonte: nota informativa de 31 de janeiro do governo do RS.
Com cautela, mas mais tranquilas
Mãe das trigêmeas Luísa, Tais e Julia, de 15 anos, a autônoma Tânia Pereira Peixoto, 47 anos, avalia positivamente o retorno presencial das aulas na rede estadual. Ela diz que não gostaria que as aulas voltassem ao sistema remoto, não só pelo formato de aprendizagem, como também pela necessidade de interação escolar das adolescentes.
O trio vai ingressar no primeiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Henrique Emílio Meyer, onde já finalizaram o Ensino Fundamental. As meninas, segundo Tânia, já receberam a segunda dose da vacina contra a covid-19.
— Eu noto que elas sentem muita falta da convivência com os colegas, dos professores, até da disciplina, dos limites da escola. Estamos na expectativa que comecem as aulas. O nosso medo agora é que, em função dessa nova onda, que elas tenham de novo aula remota — diz a mãe das trigêmeas.
Durante a pandemia, as trigêmeas passaram pelo ensino totalmente remoto, híbrido e, no fim do ano passado, todas optaram por voltas às salas de aula, segundo a mãe.
De acordo com a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), escolas como o Henrique Emílio Meyer iniciarão o ano letivo no dia 21, com expectativa de receber todos os alunos, sem escalonamento, o que é confirmado pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc). A Coordenadoria ressalta, no entanto, que situações particulares podem ser analisadas separadamente (no caso de falta de ventilação adequada na sala e muitos alunos na turma, por exemplo).
A 4ª CRE informou também, por meio da assessoria, que "alunos que apresentarem atestado de comorbidades poderão optar pelo remoto, mas seguindo as orientações da Nota Informativa 38 da SEV/SES".
"Temos que agir para reduzir danos", avalia médico infectologista
Para o médico Alexandre Prehn Zavascki, infectologista no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a vacinação de crianças e adolescentes contra a covid-19 é um fator fundamental para um retorno às escolas mais seguro. Ele também comenta sobre a máscara mais adequada para este estágio da pandemia:
— As duas principais medidas é estar com o esquema de vacinação atualizado e o uso de máscara. A chance de ter infecções vai ser muito grande. Então, a vacina é fundamental para prevenir o agravamento da covid. Idealmente, devem usar a máscara PFF2, que faz uma excelente filtragem das partículas que podem infectar, as quais ficam suspensas no ar. Mas sabemos que nem sempre é fácil de achá-la num formato pequeno. Depois, vem as máscaras cirúrgicas, com três camadas. E, por último, a máscara de tecido, desde que fique bem vedada.
O médico também orienta aos pais que observem a ventilação dos espaços, como o refeitório, e que orientem as crianças e os adolescentes a ficarem sem máscara o menor tempo possível, no caso do momento do lanche, por exemplo.
Para as crianças menores, que frequentam as escolinhas e ainda não têm acesso à vacinação e nem mesmo usam máscara, o infectologista avalia que é preciso uma união de esforços no sentido de ampliar cada vez mais a imunização.
— Se os pais dos coleguinhas, se os professores e cuidadores estiverem vacinados, o ambiente à volta deles vai estar mais protegido. Estamos no momento de maior transmissão, então, temos que agir para reduzir danos — finaliza Zavascki.
No RS, não há determinação que obrigue a vacinação infantil contra a covid-19 como critério para frequentar as escolas.