Criado com a proposta de contar uma história mostrando quem somos, o que fazemos e o momento atual vivido com a pandemia, os desfiles cênicos musicais da Festa da Uva reservaram um espaço no roteiro para mostrar a caxienses e turistas a diversidade que faz parte da cultura de Caxias do Sul. Neste ano, durante as apresentações na Rua Sinimbu, a comunidade pode assistir a outras manifestações culturais presentes no maior município da Serra, como danças africanas, candomblé, além do destaque a outras etnias que fazem parte da história de Caxias do Sul.
A diversidade cultural caxiense é destacada na ala Lazer e Manifestações Culturais e Artísticas - praticamente marcando a metade do desfile. Antes dessa ala, a apresentação mostra a história da imigração italiana, com destaque para representações de quem vive na colônia e com a participação de moradores do interior de Caxias. Mais à frente, o movimento tradicionalista gaúcho também ganha destaque no desfile.
Essa ala de valorização das manifestações inicia com bailarinos fazendo uma apresentação de hip hop em meio à Sinimbu. Na sequência, palhaços com chapéus imitando garrafões de vinho ganham sorrisos da plateia, assim como um grupo com dezenas de ciganas. São mulheres e crianças com longos vestidos de chita que dançam e chamam a atenção dos espectadores do desfile.
Mais à frente, um abre-alas informa quem assiste aos desfiles que a cultura afro-brasileira ganhará ainda mais destaque. O candomblé é a primeira manifestação que aparece. Além da dança, os atabaques também são utilizados na apresentação. Um dos figurantes representa o orixá Logunedé, que ganha o nome de Santo Expedito para os católicos.
Outro momento importante é a presença da Casa das Etnias, grupo criado para preservação e cultivo das culturas das etnias formadoras de Caxias do Sul por meio do teatro, dança, música, canto, artesanato, gastronomia e aulas de línguas da imigração. Figurantes aparecem carregando bandeiras de diferentes países, como Itália, Alemanha, Polônia e Suíça. Uma outra figura folclórica aparece junto com eles: a sanguanel, um ser pequeno e vermelho que a lenda conta que vivia pelos pinheiros da Serra e rouba crianças e esconde no alto das árvores.
Desfile com o ritmo do maracatu
Ainda dentro da mesma ala e após o carro que leva ex-rainhas da Festa da Uva, surgem novas manifestações culturais de Caxias. São as integrantes do Baque da Alegria e do grupo Cirandeira Danças Brasileiras. Ao todo, são 26 integrantes, que levam para a Sinimbu o ritmo do maracatu, uma manifestação de origem afro-brasileira que envolve dança e música e que é típica do estado de Pernambuco.
A participação delas ocorre em um dos pontos altos do desfile: o grupo chega à Catedral no momento em que os profissionais de saúde são homenageados. As luzes se apagam e as projeções são feitas na igreja mais tradicional da cidade. Após, ao som das batucadas e da Orquestra Municipal de Sopros, há interação entre os figurantes e os espectadores.
Para quem participa dos desfiles e faz parte dos grupos que destacam a cultura afro-brasileira, mostrar a diversidade de Caxias do Sul durante um dos eventos mais tradicionais da cidade é uma oportunidade de valorizar a cultura e diminuir o preconceito.
— Ficamos muito felizes com o convite para participar do desfile da Festa da Uva porque é um evento que traz visibilidade. Dessa forma, atraímos novos olhares e mostramos o que fazemos na nossa cidade. Somos um grupo que representa a mulher caxiense na percussão e mostra a evolução da cultura local, onde há espaço para muitas manifestações — afirma uma das integrantes do Batuque da Alegria, Maysa Stedile. Ela é responsável por comandar as apresentações das demais integrantes na Sinimbu.
A dançarina Vanessa Carraro é uma das cirandeiras que se apresentam no desfile.
— Homenageamos no desfile as nações de maracatu, com a sua corte, formada por reis e rainhas. Nosso abre-alas é Exu Bará, uma representatividade de abertura, que abre os caminhos e dá passagem para o nosso cortejo passar. Quando as minorias ganham força, o preconceito e as diferenças vão se diluindo. Tem muito caminho pela frente, mas, quando vejo as pessoas dançando a nossa cultura, é gratificante — conta.
Inserir outras culturas foi um pedido da diretora de Cultura e Desfiles da Comissão Comunitária da Festa da Uva e secretária da Cultura, Aline Zilli. Segundo ela, os desfiles do evento se caracterizam por serem comunitários, ou seja, quando a própria comunidade se apresenta. Por isso, é natural que outras culturas sejam apresentadas.
— Pensamos em um desfile plural porque essa é a Caxias que temos atualmente. Somos uma cidade que acolhe as diversas manifestações, credos e crenças. Todo mundo precisa se sentir representado nas apresentações. Não é somente a cultura italiana que precisa ser destacada, mas toda a diversidade que compõe a nossa cidade — define.
Quarto desfile atrai milhares de pessoas à Sinimbu
Os desfiles cênicos musicais da Festa da Uva chegaram à sua quarta edição. As próximas apresentações ocorrerão nos dias 1º e 5 de março, sempre a partir das 20h. Neste sábado (26), o desfile iniciou pontualmente. Mais uma vez, a homenagem aos profissionais de saúde, a presença de ex-rainhas da Festa da Uva e a apresentação final, com a coreografia da música-tema do evento, encaram o público nas arquibancadas e nas calçadas.
Serviço
- O quê: desfile cênico musical.
- Quando: terça-feira, 1 de março e sábado, 5 de março. Os espetáculos iniciam às 20h.
- Trajeto: Rua Sinimbu, esquina com a Rua Alfredo Chaves, até a Rua Dr Montaury.
- Quanto: o desfile é gratuito. Quem optar em ir nas arquibancadas, o valor do ingresso é R$ 40 e a meia-entrada custa R$ 20.