Quem depende dos aplicativos de transporte privado possivelmente já recebeu a notificação "o motorista cancelou a sua corrida". Essa situação ficou corriqueira no último ano para os usuários da principal plataforma do mundo, muitas vezes porque o valor não compensa ao condutor. Isso também abre a brecha para que concorrências se formem, como é o caso da Liga by Comobi, que garante não cancelar nenhuma corrida e ainda entregar um valor maior aos cerca de 420 motoristas cadastrados.
A Liga é uma cooperativa caxiense que ainda busca consolidação entre o público e, para isso, é preciso atingir um patamar de competitividade com as plataformas multinacionais. Os representantes da empresa local estão estreitando laços com a cooperativa norte-americana The Drivers Company, principalmente para compartilhamento de tecnologia em um aplicativo comunitário e que auxilie nesse crescimento.
— Nós temos muita força de trabalho, o aplicativo melhorou bastante, mas hoje não consegue ser competitivo. Precisamos de um aplicativo que não trave e mostre ao cliente que o motorista está se deslocando. Nós não cancelamos corrida, mas muitas vezes o usuário não vê o carro indo na sua direção e acaba cancelando a corrida — explica o presidente da cooperativa caxiense, Márcio Guimarães.
Em cinco meses de vida, a Liga já chegou a quase 600 motoristas cadastrados, mas passou por uma reformulação em janeiro e agora conta com 420. De acordo com Guimarães, 90% do valor da corrida é do motorista, sendo o restante para manutenção da cooperativa, que possui uma central de monitoramento própria. Ainda assim, Guimarães sabe que hoje é muito difícil que os motoristas sobrevivam só da Liga.
— Hoje não teria como viver especificamente com o aplicativo da Liga, seria um erro da nossa parte afirmar isso. Existem uns 12 que conseguem, já com mais de 1,4 mil viagens em cinco meses, um número muito positivo. Só que as grandes usam muito o poder econômico e a gente já trabalha com preço espremido por causa deles. Não podemos competir pelo preço, porque senão vamos levar os motoristas para um abismo — explica Guimarães.
Ainda é preciso enfrentar a desinformação
O funcionamento da cooperativa tem alguns pontos diferentes das grandes plataformas. Os carros estão todos identificados e contam com rastreadores e os motoristas só são aceitos se apresentarem ficha criminal limpa e com autorização da Polícia Civil. Inclusive, todos são cadastrados também na Brigada Militar — que tem acesso aos rastreadores — e à Secretaria Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade. A Liga ainda dispõe de uma central de atendimento aos idosos ou àqueles que não conseguem utilizar o app, que podem chamar um motorista pelo telefone (54) 3202.8049.
O presidente da cooperativa faz questão de salientar essa aproximação com as forças de segurança. Isso porque a empresa teve que rebater informações falsas sobre os motoristas. De acordo com Guimarães, os condutores que trabalham para a empresa foram acusados de serem bandidos. Há uma publicação no Instragram da Liga, no último dia 10 de fevereiro, justamente rebatendo essas desinformações.
— A gente fica chateado com colocações que estão sendo feitas contra a cooperativa, sendo que é a única do país que cadastra os motoristas nos órgãos de segurança. Quando não tem o acesso à certidão negativa, nós enviamos imediatamente para Draco pedindo se podemos ou não liberar esse motorista — desabafa o líder da cooperativa.
Outro problema que a empresa vem enfrentando é sobre os impostos. Mas de uma maneira bem peculiar. A Liga não está conseguindo pagar o ISSQN, taxa municipal sobre serviços.
— Seremos a primeira que pagará, mas a prefeitura de Caxias ainda não tem como receber esse imposto. Desde outubro estamos encaminhando e-mails, os técnicos alegam que não existe uma legislação específica para eles nos cobrarem, não tem nada específico sobre cooperativa de plataforma de mobilidade — explica Guimarães.
Em maio, a Liga também trabalha para realizar um encontro nacional de cooperativas de mobilidade, onde devem comparecer representantes da The Drivers Company. O objetivo do evento é aproximar pessoas e compartilhar conhecimentos para que essas empresas se desenvolvam e consigam competir com as gigantes do mercado.