Em um cenário persistente de altos índices de desemprego, os aplicativos de transporte foram uma das principais saídas para a obtenção de renda. Quando surgiram em Caxias do Sul e na região, atraíram um grande número de profissionais interessados na rentabilidade prometida pelas plataformas. Nos últimos anos, porém, com o agravamento da crise econômica, principalmente com o aumento dos combustíveis, tem dificultado cada vez mais os ganhos de quem depende da atividade. O motivo é a alta fatia que os aplicativos abocanham de cada corrida, enquanto que o custo aos profissionais sobe cada vez mais. Esse foi um dos motivos que levou motoristas caxienses a criar o Liga by Comobi, um aplicativo desenvolvido na cidade e que já reúne cerca de 300 profissionais.
De acordo com Alexandre Corá, um dos integrantes do grupo responsável pelo projeto, a ideia começou a sair do papel há cerca de um ano. O objetivo é oferecer um serviço mais próximo ao usuário, sem as dificuldades de relacionamento que os passageiros — e até os motoristas — enfrentam com as plataformas de fora da cidade ou do país.
Corá cita, como exemplo, problemas para localizar funcionários para reportar eventuais problemas com as corridas. Nos aplicativos mais conhecidos, o principal canal de atendimento é um chat com atendimento eletrônico. O Liga by Comobi promete resolver a questão com a contratação de profissionais que trabalharão na sede da empresa, localizada na Rua Sapucaia, no bairro São Leopoldo, que já está em operação.
Para os motoristas, o novo aplicativo é a oportunidade de tornar a atividade mais viável financeiramente, mas sem aumentar a tarifa ao consumidor. A diferença será no montante que ficará com a plataforma. Enquanto os grandes aplicativos retém de 25% a 35% de cada corrida, o Liga by Comobi propõe ficar com 15%.
— A defasagem de preço hoje é de 30% a 40%. A conversa partiu de motoristas mais antigos. Como estamos nas ruas, percebemos as dificuldades. O aplicativo vai ter avaliação, mensagens, a forma de uso não vai mudar muito porque as pessoas já estão habituadas. As tarifas vão ser muito próximas das atuais, com exceção da tarifa dinâmica, que vai ser mais moderada (com variações menos bruscas) — revela Corá, que atua há dois anos como motorista de aplicativo.
Outra proposta do aplicativo é a segurança. Toda a frota será rastreada e informações de roubos de veículos, por exemplo, serão compartilhadas com a Brigada Militar. O fato de ser uma empresa local também abre as portas para um melhor relacionamento com o poder público, que regula a atividade.
As propostas já atraíram cerca de 500 motoristas interessados, dos quais 200 ainda aguardam a inclusão na plataforma. Os 300 associados já fazem com que o Liga by Comobi represente cerca de 30% a 40% da frota de transporte por aplicativo da cidade e se assemelha também ao total de táxis, segundo Corá.
O grupo já obteve o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) e a apresentação oficial do aplicativo está prevista para o próximo dia 24, quando os motoristas associados já poderão baixá-lo. A depender de questões técnicas, o início das atividades pode ocorrer no mesmo dia. Cinco profissionais atuarão na sede, no setor administrativo. Todos trabalhavam como motoristas antes da criação do aplicativo.
Opção pelo cooperativismo
Outra novidade do Liga by Comobi é a opção dos criadores de formar uma cooperativa e não uma estrutura societária tradicional. O conceito inclusive está no nome: "Comobi" significa "cooperativa de mobilidade".
Conforme Alexandre Corá, a opção pelo modelo ocorreu para maximizar os ganhos dos motoristas, tratados como associados em vez de parceiros. Isso porque a repartição de lucros ocorrerá entre todos os profissionais.
— Todo o faturamento do negócio parte do trabalho dos motoristas. Nada mais justo que no fim do ano fiscal os lucros não ficassem com uma só pessoa. É um maneira mais justa que vimos de beneficiar quem vai participar do projeto. Aumenta os ganhos e também tem um comprometimento maior do motorista. Com sede, CNPJ e associados, a situação muda, porque temos responsabilidade civil e criminal — aponta Corá.