A Festa da Uva está prevista para se iniciar no dia 18 de fevereiro, ao contrário de muitos eventos que foram cancelados com o disparo na quantidade de pessoas infectadas pelo coronavírus em todo o país. A favor da organização pesa o fato de ainda ser muito incerto o quadro provocado pela variante Ômicron no próximo mês, por ser um cenário ainda novo com a vacinação tendo boa cobertura.
Por enquanto, a curva de contágio é altíssima e os dados da prefeitura de Caxias do Sul de sexta-feira (14) comprovam isso – são 610 novos positivados. O acréscimo foi de 11% para pacientes ativos em apenas 24 horas. Só que esses números ainda não se refletem nos hospitais e deixam um prognóstico precoce para os próximos 30 dias.
A Comissão Comunitária do principal evento da cidade ainda não bateu o martelo sobre quais serão os protocolos que guiarão a realização da Festa, aguarda posicionamentos do governo do Estado sobre a situação da pandemia no Rio Grande do Sul e discute possíveis estratégias. Em entrevista à Rádio Gaúcha Serra, na última semana, o presidente da Comissão, Fernando Bertotto, garantiu a presença de monitores para o uso correto das máscaras tanto nos Pavilhões, como nos desfiles na rua Sinimbu. Outra definição é a redução de público nas arquibancadas dos desfiles e um controle de visitantes dentro dos Pavilhões. De resto, ainda são muitas discussões até uma definição.
O Pioneiro ouviu organizadores de grandes eventos na região, para entender os protocolos que foram seguidos. As principais medidas já parecem estar na direção da que será tomada pela organização da Festa da Uva, principalmente sobre a questão dos monitores. O quadro mais parecido com o atual foi o da Gramado Summit, que se iniciou em 5 de maio de 2021 e, logo na saída de uma bandeira preta para vermelha no antigo sistema de monitoramento do Estado. E logo após o pior momento da pandemia. O CEO do evento, Marcus Rossi, lembra que a área de ocupação foi dobrada e o público reduzido pela metade.
— Todos ficaram impressionados, porque a gente foi além do álcool gel e máscara. Tivemos totens de check-in da Marcopolo que aferiam temperatura, verificavam a credencial e forneciam álcool. Os estandes viraram ilhas, com quatro metros de distância e as cadeiras tinham dois metros entre elas. Tudo foi amplo e permitiu o controle de aglomerações, além de contratarmos pessoas que circulavam para evitar que mais de dois ficassem próximos. Foram normas extensas, mas foi o que deu para fazer e ser aprovado pelo Estado. Depois, a gente notou que os eventos vieram com protocolos bem parecidos — explica Rossi.
De acordo com ele, a determinação de realizar o evento presencial foi por não acreditar que a feira teria o mesmo impacto de forma online. Assim, foram buscadas formas de criar esses protocolos para conseguir a autorização da edição de 2021. Agora, prospectando a edição deste ano, marcada para 6 a 8 de abril, novos protocolos aos participantes serão criados.
— Eu organizei um evento em bandeira preta e ainda sem vacina. Agora, a gente não sentiu tanto os efeitos da Ômicron pela questão da vacinação. Estamos ainda descobrindo como nos adaptar a este momento, mas queremos criar situações com passaporte vacinal. Vamos criar algo assim e algum teste para entrar na Summit — relata.
Mercopar investiu no lúdico
A Mercopar, realizada entre os dias 5 e 7 de outubro de 2021, também obteve sucesso nas suas escolhas de protocolos sanitários. As exigências eram de um monitor a cada 20 participantes, mas o Sebrae apertou mais a imposição e ordenou um monitor para cara 15 pessoas. Além disso, houve uma aposta diferente para conquistar a empatia na hora de dispersar as aglomerações.
— Contratamos artistas de circo, palhaços com pernas de pau que circulavam pela feira. Essa abordagem de fazer com que as pessoas não aglomerassem precisava de uma certa empatia. E como eles estavam em um nível mais alto, iam muito na brincadeira para desmanchar. Funcionou muito bem — avalia Beatriz Sudbrack, responsável pela organização.
Além disso, o público foi reduzido para 2,5 mil pessoas entre staff, expositores e visitantes. Uma sala de triagem com aferição da temperatura de todos foi mantida no evento, mesmo sem a exigência do Estado. Ainda assim, Beatriz ressalta que o clima foi determinante para o sucesso do evento. Todos os envolvidos usaram máscaras e seguiram as determinações definidas pela organização, em conjunto com a prefeitura. Por isso, Beatriz acredita que é possível realizar eventos neste momento da pandemia.
— Em dois anos, seguimos todos os protocolos e regras que foram determinados. Tanto o governo do Estado como a prefeitura de Caxias são muito competentes. Eles nos ajudaram muito em formatar esses protocolos. Houve uma união de esforços para se chegar ao modelo ideal. O momento agora é diferente, mas todas as regras impostas pelos órgãos de saúde são baseadas na ciência e tem um embasamento teórico. Acredito que, seguindo as orientações, é possível sim — opina ela.
O quadro ainda incerto de avanço da variante Ômicron do coronavírus
A variante Ômicron do coronavírus está numa disseminação forte em todo o Brasil. Caxias do Sul não foge à regra. É bem verdade que 80% dos municípios da região estão vendo uma disparada no número de pessoas contaminadas, mas sem reflexos, por enquanto, na quantidade de hospitalizados em leitos de enfermaria e UTI. O sistema de monitoramento da Secretaria Estadual de Saúde (SES) apontava 13 positivos em UTI na sexta-feira e 41 em leitos de menor complexidade. O quadro ainda é administrável.
No entanto, o principal exemplo que se tem neste momento sobre o avanço dessa variante é a Europa, que convive com o surto desde o final do outono. De acordo com o cientista de dados da Rede Análise Covid-19, Isaac Schwartzhaupt, o exemplo europeu aponta para três estágios:
— Primeiro, uma onda de casos gigante, mas a maioria leves. A segunda é a transmissão contínua, por que são leves e acham que não precisa fazer nada. Aí, os hospitais começam a aumentar as internações. Por fim, recordes absolutos de casos e os hospitais começam a pedir ajuda — explica.
O cenário europeu ainda mostra um crescimento na hospitalização de crianças, público que ainda não está vacinado. Outro dado que auxilia na avaliação do quadro atual é a pesquisa realizada pelo Facebook e a Universidade de Maryland, dos Estados Unidos.
Os usuários da rede social respondem a um questionário sobre os sintomas sentidos nas últimas 24 horas e há um crescimento exponencial nas últimas semanas no cálculo feito para o Rio Grande do Sul. Tudo aponta para um aumento contínuo de novos casos. O que ainda segue em aberto são justamente as hospitalizações. A vacinação deve ter um forte efeito sobre a maior parte dos casos, mas a resposta só chegará nas próximas semanas.