Os pacientes da região serrana têm ficado em macas nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) ou nos prontos-socorros de hospitais da Serra de 10 a 12 dias à espera de leitos em hospitais de Caxias do Sul. Não há neste momento, pacientes à espera de leitos para tratamento de covid-19. Essas pessoas procuram atendimento para as mais diversas doenças.
Para se ter uma ideia, 18 pacientes esperam nas UPAs Zona Norte e Central por leitos clínicos em Caxias do Sul. Mais 22 pessoas aguardam em outros municípios por vagas na cidade. Outras seis pessoas estão internadas no Hospital Pompéia e Geral à espera de leitos em unidade de terapia intensiva (UTI).
— Desde março, esse número oscila, mas é uma constante, 20 pacientes é meu número mínimo de pacientes clínicos e cirúrgicos aguardando leito. Ele aumenta e diminui um pouco, e varia de acordo com a sazonalidade de cada UPA. Agora, estamos meio equilibrados na distribuição porque tem 9 em uma UPA e 9 na outra —afirma a diretora do Departamento de Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria (Dacra) de Caxias do Sul, Marguit Meneguzzi.
Há ainda 22 pacientes de outras cidades da Serra aguardando leitos em Caxias para serviços em que o município é referência.
— Desde muito antes da pandemia enfrentamos falta de leitos. Há períodos de festa, de férias, em que a cidade está mais vazia e diminui um pouco, mas sempre tivemos lista de espera na Central de Leitos. Lota as UPAs e é uma bola de neve no sistema público de saúde. O giro dos leitos têm demorado mais, em torno de sete a oito dias. O ideal seria 24h que o paciente ficasse em observação na unidade e tivesse o seu destino. O que trabalhávamos era em torno de no máximo cinco dias, e agora tá extrapolando. Tem pacientes que ficam de 10 a 12 dias, mas a média é oito.
"Problema não tem solução única", aponta diretora
A diretora ressalta que o problema não tem uma solução única. Para ela, é necessário uma atenção básica mais efetiva e eficaz, maior capacidade de internação hospitalar e recursos para pagar essa assistência. Além dos hospitais estarem lotados, porque trabalham com uma taxa de lotação acima de 80%, mesmo que houvesse espaço físico dentro dos hospitais a prefeitura trabalha com orçamento. O município aplica 28% quando por lei devia aplicar 12%.
Marguit diz ainda que a ampliação do Hospital Geral irá ajudar, mas não resolver a histórica falta de leitos:
— Vamos ter os leitos disponíveis, mas tem que ter financiamento para cobrir a assistência prestada. Temos que pensar que os leitos também são retaguarda para especialidades que são referência para Caxias e os 48 municípios da região.
Sobre o impasse entre o Hospital Pompéia e a Secretária Municipal da Saúde, Marguit diz que a regulação do acesso a serviços de saúde é uma política nacional, portanto, não é apenas Caxias que detém a gestão dos leitos à disposição do SUS.
— Se o hospital vai fazer a gestão ele tem que fazer a gestão do giro do leito, ele tem que trabalhar processos internos para que o paciente que interna com determinada patologia seja resolutivo com permanência menor. Essa é gestão de leitos do hospital garantir um giro de leitos cada vez menor. Se houvesse leitos ociosos talvez fosse um benefício, mas não temos.
Hoje a gestão de leitos feita pela Central de Leitos é compartilhada. Tem um mapa dos leitos para que seja contatado os hospitais e avaliar se o quarto está realmente vago, porque pode estar à disposição de pacientes que estão no bloco cirúrgico.
"Esperar é uma angústia", conta filha de paciente
Diante da lotação, em média são de cinco a oito dias para conseguir transferência para o hospital. Tempo que para o paciente e familiares é considerado uma agonia.
— Esperar é uma angústia, é uma espera longa e, quando se fala em saúde, ficamos todos aflitos. Eu vi a minha mãe definhando — conta Deonísia Marli Koch Mazetto, 55 anos.
A mãe dela Isaura Koch, 78, foi levada para UPA Zona Norte com fortes dores nas costas e abdômen na última segunda-feira (6). Na tarde dessa sexta-feira (11) ela conseguiu um leito no Hospital Pompéia. As dores começaram há cerca de 19 dias, sendo que a família acionou o serviço de emergência sete vezes para socorrer Isaura.
— Na última vez, ela foi levada para a UPA. Está fazendo todos os exames em busca de um diagnóstico. Ela tem uma fratura do acetábulo que ocorreu em 24 de julho. A mãe havia voltado andar fazia poucos dias. Ela sentia dor em todo corpo, mas principalmente na região do abdômen e nas costas. Em casa, eu medicava ela de seis em seis horas para dores intensas. Após a remoção para a UPA estava a base de morfina e como tem cirrose hepática começou a delirar. Era horrível não pode fazer nada — desabafa a filha.
Conselho de Saúde acompanha a situação
O presidente do Conselho de Saúde de Caxias do Sul, Alexandre de Almeida Silva, acompanha a situação de perto.
— Na parte externa da UPA Central, por exemplo, estava vazia, mas na internação tinham nove pacientes que aguardavam por leitos. É uma média de 20 pacientes esperando por transferências para os hospitais. A parte de atendimento e a área de triagem de covid-19 estava vazia.