Colunistas do Pioneiro escrevem sobre a mística da época natalina.
Uma das minhas maiores realizações durante o movimento de morar sozinho foi quando consegui comprar uma árvore de Natal. O desejo era antigo (e muito específico): tinha que ser maior que eu, com laços gigantescos e bolas douradas, algumas foscas e outras brilhantes. Confesso que o passar dos anos me fez preguiçoso e um pouco descrente da tal magia que ronda essa época do ano, mas foi só bater os olhos em um bazar do centro da cidade que eu saí com uma árvore de Natal debaixo do braço – literalmente.
Cheguei em casa contente e ansioso, tal qual criança que quer logo desembrulhar o presente deixado pelo Papai Noel. Já montada, mandei uma foto da primeira árvore de Natal da minha própria casa para os meus pais e a surpresa foi que eles se emocionaram mais do que eu. Meu pai lembrou da infância onde o pinheiro era de verdade, acomodado em uma lata com areia para não tombar. A barba de bode que crescia nas árvores servia como decoração e o algodão buscava imitar a neve. Para completar, até um pedaço de espelho quebrado lembrava um lago que acompanhava o presépio desenhado à mão no papel pardo.
Automaticamente, as memórias de tanto tempo atrás efervesceram em mim também. O exagero de garrafas PET acumuladas para cortar e montar um pinheirinho na escola me fez comparar ambas as infâncias e, de certa forma, me senti feliz por fazermos tanto com tão pouco. Brindando ainda mais a nostalgia, foi a história da minha mãe que me arrancou lágrimas dos olhos. Sempre soube da sua realidade humilde e ao longo dos anos acumulei centenas de admirações, mas quando ela confidenciou um dos seus presentes mais aguardados de Natal, desabei.
Aos 13 anos, minha mãe ficou encantada com uma colega que foi para a escola usando uma camiseta vermelha da Hering. Quando chegou em casa e disse que queria uma igual, o retorno da minha avó foi certeiro: “pede de Natal”, e então foi um longo ano de espera a partir dali. Segundo ela, valeu a pena. No dia 25 de dezembro, todos os netos se reuniram na casa da bisa em volta da mesa, ladeando a torta feita por várias mãos, logo após acordar no lençol novo feito pelas mãos da vó. A ansiedade só foi vencida quando minha mãe abriu o embrulho daquele que sempre foi o único presente do ano: a camiseta vermelha.
Passei a ressignificar o Natal, porque ultimamente isso é o que mais temos aprendido a fazer. Olho para a minha árvore maior que eu e continuo achando linda, mas consigo imaginar quão divertido seria ter um pinheiro de verdade no meio da sala. Talvez no próximo ano eu invente uma decoração artesanal e quem sabe até coloque um espelho debaixo dela em homenagem ao meu pai. Mas por enquanto, uma coisa é certa: neste Natal, eu vou usar uma camiseta vermelha.