A ONG Construindo Igualdade entrega, nesta segunda-feira (29), os certificados de conclusão dos cursos gratuitos realizados ao longo deste ano. A cerimônia será realizada na Câmara Municipal de Caxias do Sul, às 19h, logo depois da solenidade de descerramento da foto de Cleo Araujo na Galeria das Vereadoras. A diretora da ONG foi a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na história do Legislativo caxiense, por duas sessões, em setembro deste ano.
Receberão os certificados de conclusão duas alunas do curso profissionalizante de auxiliar de cabeleireiro, realizado de outubro a novembro, com foco em escova capilar, lavagem de cabelo, aplicação de produtos e manuseio de equipamentos; e sete estudantes do Prepara Enem Profª Marina Reidel, formação que totalizou 231 horas de aulas ministradas por professores voluntários, com disponibilização de materiais de estudo, slides, videoaulas e simulados periódicos.
— Construímos um processo de ensino-aprendizagem que se deu a partir das múltiplas vivências, realidades diferentes e dificuldades de cada estudante, mas que se aproximaram com um objetivo em comum: ingressar no ensino superior. Construímos esse espaço para que nossos estudantes pudessem estar melhor preparados para os desafios da prova do Enem, com professores especializados, mestres e doutores em suas áreas do conhecimento. Estamos muito felizes com esse trajeto que percorremos juntas, juntes e juntos — avalia Márcie Vieira, coordenadora pedagógica do Prepara Enem.
Alisson Dallegrave, professor voluntário e coordenador do curso profissionalizante de auxiliar de cabeleireiro ressalta que, além de capacitar para o mercado de trabalho, a formação buscou oferecer uma nova forma de ver a vida para mulheres transexuais.
— As pessoas trans têm enfrentado níveis avassaladores de rejeição familiar, geralmente desde a mais tenra idade. Essa rejeição tem impacto devastador, isolando as pessoas dos espaços sociais. Isso provoca dificuldade de acesso e continuidade no ambiente escolar, ocasionando falta de suporte e qualificação profissional. O nosso curso também buscou resgatar essa cidadania que foi interrompida em algum momento — afirma.
O curso preparatório para o Enem existe há cinco anos e o de auxiliar de cabelereiro está na segunda edição. A diretora da ONG, Cleo Araujo, afirma que com o curso é possível inserir as pessoas dentro da área da educação e do mercado de trabalho.
— Oferecer um certificado de um curso gratuito para as pessoas, nesse momento de crise, é fazer um investimento social. Nós apostamos nisso, no investimento nas pessoas. Oferecer um curso profissionalizante, além de tudo é um desafio que começa a partir do momento em que pensamos na necessidade de ter um curso, sem ter recursos, mas aparecem anjos, como os voluntários, que se ofereceram para formar novos auxiliares de cabelereiro. Assim como o curso preparatório para o Enem e vestibular. Isso pra nós é muito importante já que são dois fatores que nós LGBT e nós travestis e transexuais somos excluídos, num primeiro momento, na família e, depois vem as outras discriminações e exclusões — destaca.
Para 2022, a ONG Construindo Igualdade planeja abrir novas vagas para formações gratuitas, visando democratizar oportunidades para a população LGBTQIA+ e mulheres vítimas de violência doméstica.
— A oportunidade dada para um cidadão ou cidadã repercute na sociedade que vivemos. Vamos dar mais oportunidades, vamos investir mais nas pessoas e assim teremos um mundo e uma Caxias mais justa e melhor para morar — conclui Cleo.
Conheça a entidade
A ONG Construindo Igualdade é uma entidade sem fins lucrativos de Caxias do Sul (RS) que iniciou suas atividades em 2003, a partir da necessidade de organização da comunidade LGBTQIA+.
Dirigida por Cleo Araujo, tem como missão combater qualquer tipo de discriminação e violação de direitos humanos em função da orientação sexual ou identidade de gênero, atuando para garantir o direito à cidadania plena e à livre expressão.
Possui um histórico de atuação com pessoas em situação de vulnerabilidade, mulheres vítimas de violência doméstica, pessoas convivendo com HIV e AIDS, por meio de ações de assistência social, saúde, advocacia, educação, cultura e acolhimento.