Caxias do Sul já tem representação garantida na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) de 2022. Os alunos Rafaella Carra Basso, Bruno Alex Gomes de Oliveira e Vitória Durand Rebelo, do 2º ano da Escola Estadual Técnica Caxias do Sul (EETCS) garantiram sua participação entre outros 500 projetos após vencer a 10ª Mostra IFTec do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.
Os alunos se destacaram com a pesquisa "Os Estigmas Associados à Doação de Pele no Brasil". A Mostra IFTec é um evento regional de exposição de trabalhos científicos realizados por estudantes de Ensino Médio Técnico do IFRS e por estudantes do Ensino Fundamental, Médio e Técnico das escolas públicas e privadas de Caxias e região. A Mostra foi realizada entre 4 de agosto e 3 de outubro e classificou para a 20ª edição da Febrace que será realizada no formato híbrido de 21 a 25 de março, em 2022.
— Estamos muito ansiosos. A gente não precisa nem ganhar, o importante é que as pessoas saibam mais sobre o assunto — aponta Rafaella.
Alunos vão participar da primeira fase em janeiro de 2022
A partir de agora, os estudantes vão participar de outra fase classificatória que ocorre de forma online em janeiro de 2022. Nessa primeira etapa de seleção, os alunos apresentam o trabalho ao vivo pela plataforma Zoom. Vão ser indicados 70 projetos de destaque para participação, em março, na mostra presencial em São Paulo. Conforme Rafaella, o tema do projeto surgiu durante uma conversa entre ela, a mãe, que é manicure, e Rafaela Miller, uma estudante de medicina que foi convidada para ser co-orientadora do projeto. Ao ouvir sobre o tema, a jovem ficou interessada e decidiu aprofundar a pesquisa.
— Foi uma experiência muito especial. Como a gente não sabia como funcionava o processo de doação, nós achamos extremamente importante (pesquisar sobre) justamente pela falta de conhecimento que existe — explica.
Rafaella conta que a pesquisa foi desafiadora, pois foi difícil encontrar materiais e campanhas sobre a doação de pele. Apesar de ser um tema pouco debatido, dados de 2019, de acordo com o Ministério da Saúde, apontam que o Brasil é referência mundial na área de transplantes e possui o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 96% dos procedimentos de todo o país são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em números absolutos, o Brasil é o 2º maior transplantador do mundo, atrás apenas dos EUA.
Entre os 135 participantes da pesquisa, 49 disseram que não doariam a pele do seu familiar. O principal motivo apontado pelos entrevistados era a falta de informações sobre o procedimento. Depois de uma explicação dos alunos sobre como funcionava o processo, o número de pessoas que aceitariam doar a pele do familiar falecido passou para 90%, ou seja, de 49 para 122 pessoas que aceitariam doar. Com esses dados, os alunos concluíram que a ausência de informação sobre como ocorre o procedimento de retirada de pele e da importância de doação de órgãos, são os principais fatores para a escassez de tecido nos Bancos de Pele no Brasil.
—Muitas pessoas não aceitavam doar a pele dos falecidos e depois da nossa explicação, passaram a aceitar. É muito gratificante ver que nosso esforço está valendo a pena. Acho que é um assunto muito importante e relevante que realmente tem futuro — destaca Rafaella.
Além dos alunos, quem também precisou saber mais sobre o tema foi a professora de língua portuguesa e mestre em Educação, Daiana Correa Vieira, que foi convidada para ser orientadora do grupo. Ela confessa que antes do trabalho também não tinha muito conhecimento sobre a doação de pele.
— Está sendo um grande momento de aprendizado para nós, estamos muito felizes com o reconhecimento. Esse tema também me afeta diretamente, pois já perdi amigos e apesar de ser doadora também não sabia da doação de pele — conta Daiana.
Como funciona a doação e por que doar?
O uso de pele humana é a melhor opção de tratamento em pacientes de grandes queimaduras, especialmente crianças. A pele transplantada funciona como um curativo biológico diminuindo a dor, a perda de líquidos pela ferida e a chance de infecção.
Assim como ocorre na doação de órgãos, é muito importante que os futuros doadores expressem, em vida, sua vontade de doar pele, já que após confirmação do falecimento, a autorização é dada pela família.
A pele é obtida a partir de doadores que tiveram morte encefálica e as doações ficam armazenadas em bancos de tecido. Atualmente, existem quatro bancos no Brasil e mais dois aguardam autorização para começar a funcionar, sendo um em Ribeirão Preto e outro em Salvador.
O mais antigo em funcionamento é o Banco de Tecidos Humanos – Pele da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Fundado em 2005, o Banco já realizou mais de 550 envios de pele para hospitais de todo Estado, entre eles hospitais de Caxias do Sul.
É da Santa Casa de Misericórdia que partiu o interesse pela pesquisa dos alunos do EETECS. Os médicos Eduardo Chem e Bruno Alcântara entraram em contato com Daiana para realizar uma campanha em conjunto sobre a doação de pele. Além da Santa Casa, a Secretaria de Saúde de Caxias do Sul também demonstrou interesse em produzir junto com os alunos uma campanha comunitária para conscientizar a população sobre a doação de pele.