Após 18 meses de circulação do coronavírus na Serra gaúcha, enfim a pandemia dá sinais de que está sendo controlada de forma mais concreta. E isso é amparado pelos números. As instituições de saúde, as mais sobrecarregadas durante esse período, observam uma redução na quantidade de pacientes internados. As UTIs, que por muito tempo regraram o cotidiano, estão próximas de um fluxo normal e não mais com fila de espera. A única explicação plausível para essa nova realidade é a vacinação.
Caxias do Sul, que possui a maior quantidade de leitos clínicos e de UTIs da macrorregião, vive um momento de maior tranquilidade na comparação com outros meses – principalmente março, abril e junho. A ocupação dos leitos de alta-complexidade para pacientes especificamente afetados pela covid-19 apresentou forte declínio sem setembro. O complexo hospitalar da Unimed chegou a atender 79 pacientes positivos para o coronavírus de forma simultânea. No entanto, a situação vem se alterando nos últimos meses.
— Há um mês, tínhamos 15 pacientes na UTI e 17 nos setores de internação. Hoje, temos oito na UTI e seis na internação. Em 30 dias houve uma diminuição de mais de 50% no número de internados. O segundo fato é que são pacientes com gravidade menor. Aqueles que estão na UTI, claro, tem maior gravidade porque são idosos e com comorbidades. Já os que estão em enfermaria têm gravidade menor. Obviamente que todos estão vacinados mas, de maneira geral, com gravidade menor — explica Márcio Valin, diretor-técnico da Unimed.
O Virvi Ramos vive uma realidade parecida em setembro. A redução na quantidade de pacientes covid em tratamento crítico é grande. Dos 30 simultâneos nos picos da pandemia, o mês fechou com oito em leitos ocupados. Mesmo que a quantidade de síndromes gripais em UTI tenha aumentado, eles acabam não positivando para covid-19.
— São outras causas respiratórias, como insuficiência cardíaca descompensada, outras causas virais, pneumonias bacterianas e não a covid. Aqueles que confirmam são pacientes que não se vacinaram ou com o esquema de vacinação incompleta, principalmente a faixa etária de 40 a 50 anos. Começamos a ter casos de covid com idosos que provavelmente se vacinaram com CoronaVac mas, por já ter passado mais de seis meses, perdeu um pouco a eficácia — explica Eveline Gremelmaier, coordenadora da UTI do hospital.
Outros dois hospitais da cidade vivem realidades idênticas. O Pompeia registra queda de 53% de pacientes internados em UTI, enquanto o Círculo chegou a ficar 48 horas sem pacientes covid em tratamento crítico.
Tendência é a mesma em outras cidades
Nos hospitais da Serra, a cena se repete. Atualmente, os pacientes positivos representam cerca de 30% de todos os internados em UTI, número que já foi de quase 70%. Em Bento Gonçalves, o Tacchini tinha nove pacientes covid, segundo os dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES), no último dia de setembro. Bem longe dos 72 registrados em abril e em junho. Segundo Nicole Golin, diretora-técnica da instituição, o coronavírus fará parte da realidade e vai necessitar cuidados contínuos, principalmente de quem possui alguma vulnerabilidade.
— Ele (sars-cov-2) passa a ser um coabitante na nossa flora de vários vírus e bactérias e a gente nota quadros em diferentes momentos do ano. Pessoas com maior fragilidade orgânica vão ter mais riscos, como já possuem com a pneumonia ou outras doenças. Percebemos no histórico dos casos de UTI que diabetes, pressão alta, obesidade e problemas cardiológicos têm se mostrado como comorbidades que aumentam os riscos de um desfecho pior — explica Nicole, que complementa: — Os agravamentos foram mais para quem não fez a vacina, mas têm casos de vacinados que agravam. Nenhum imunizante garante 100% de proteção, mas reduz absurdamente as chances de evoluir para um quadro grave. O que se espera é que continue essa tendência de quadro favorável em relação à pandemia para quem sabe sair e retomar um patamar de controle mais definitivo.
A opinião é de que só a vacinação é capaz de conter a pandemia e evitar novos picos. Os três hospitais consultados ressaltam que há redução nas positivações de pacientes internados e até em laboratórios. Por isso, a expectativa é que até o final do ano a pandemia esteja mais controlada.