Não são raros relatos de pessoas com deficiência sendo desrespeitadas ao tentar conviver em sociedade. Situações assim ocorrem, principalmente, quando pessoas com deficiência ou necessidades especiais não são reconhecidas como alguém que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), por exemplo.
Aline Prestes Rosolen, mãe do pequeno Johnatan de dois anos e portador de TEA, vivenciou essa experiência muitas vezes em Caxias do Sul, até ela que decidiu tentar mudar essa situação por meio do uso de um cordão de girassol. O cordão sinaliza, discretamente, que a pessoa que o utiliza convive com esses transtornos.
Aline e Johnatan utilizam bastante o transporte público de Caxias para ir às consultas médicas, entretanto os barulhos e estímulos que seriam corriqueiros para outras pessoas, podem ser o gatilho para as crises nervosas em Johnatan. Isso normalmente acontece quando há acúmulo de informações sensoriais simultâneas que elevam o nível de estresse do autista.
Buscando uma forma de diminuir esses transtornos no transporte, mãe de Johnatan entrou em contato com a Visate e solicitou que a empresa criasse algo relacionado ao transporte público e, ao mesmo tempo, servisse para chamar atenção dos funcionários e usuários quanto à necessidade de atendimento especial e diferenciado para as pessoas com deficiências ocultas, como conta a coordenadora de Marketing da Visate, Jaqueline Mostardeiro Pereira.
— Fizemos algumas pesquisas e descobrimos o cordão girassol. Para a nossa surpresa, descobrimos que é algo de grande significado e que facilita o dia a dia de quem utiliza o transporte público — explica Jaqueline.
Pessoas com deficiências ocultas, como autismo, doenças de Cronh e transtornos, por exemplo, em geral, têm dificuldade de se manter por muito tempo em determinados locais, gerando tensões e nervosismo. Durante uma crise, a pessoa autista pode ter comportamentos como gritos, choro ou raiva. Segundo Aline, é comum ver as pessoas julgando o comportamento do menino por desconhecerem que ele é autista.
— Não podemos cobrar das pessoas que eles entendem que ele tem autismo, porque é uma deficiência escondida. Com o cordão, as pessoas podem entender que aquela criança tem uma deficiência — aponta Aline.
Distribuição gratuita
O cordão foi criado em 2016 por funcionários do aeroporto Gatwich, em Londres, como um símbolo de apoio para pessoas com necessidades ocultas. Aqui em Caxias, o adereço será distribuído de forma gratuita e poderá ser solicitado na nova Central de Clientes VISATE, que fica na Rua Bento Gonçalves, entre a Coronel Flores e Moreira César, que será dias reaberto nos próximos.
Pessoas com deficiências ocultas como é o caso do Autismo, TDAH, Doença de Crohn, Colite Ulcerosa e fobias relacionadas com voos, em espaços com maior circulação de pessoas também podem solicitar o cordão. Para isso, basta apresentar algum documento que comprove a deficiência oculta. Segundo Jaqueline, os funcionários já receberam um treinamento sobre a importância e uso do cordão.
— Uma das bandeiras da Visate é a integração com a comunidade. Por isso, estamos sempre envolvidos em ações que contribuem para valorizar os clientes e atrair a atenção das pessoas para a importância do coletivo — analisa Jaqueline.
Depois de receber o cordão, Aline conta que algumas pessoas reconheceram o significado e foram muito acolhedoras.
— Eu espero que assim como a Visate, os demais órgãos públicos e privados venham a ter esse olhar bondoso e acolhedor para as crianças e pessoas com deficiências ocultas — deseja Aline.
Para a vice-presidente da Associação de Pais e Amigos do Autista de Caxias do Sul (AMA), Luiza Palhano, a iniciativa surge para agregar pois quanto mais a sociedade conhecer e entender a dificuldade das pessoas com deficiências ocultas, melhor será para a vida dessas pessoas. Luiza é mãe de um jovem autista, Ruan Miguel, de 16 anos.
— Eu acho maravilhosa a ideia, porque o autismo não aparenta fisicamente, as pessoas sofrem um monte com isso, principalmente nos ônibus porque outros usuários não entendem o porquê de o autista ter prioridade — conta Luiza.
Caxias do Sul engajada na inclusão
Além dessa ação, a Visate, juntamente com a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM), participou de uma reunião com o Centro Dia Caxias (CDC Caxias), instituição que presta atendimento a pessoas com autismo. No encontro, foi debatida a possibilidade de ampliação do itinerário da L86 – Circular Central que atende a região.
— Vamos realizar um estudo técnico para avaliar as possibilidades de melhorias. Na próxima semana será apresentado o resultado desse trabalho — informa Jaqueline.