Normalmente ele é conhecido como joão-de-barro, forneiro, barreiro ou, até mesmo, amassa-barro. Mas o pássaro que frequenta, diariamente, o estabelecimento de número 39 na Rua Luiz Andreazza, no bairro Santa Catarina, em Caxias, tem até nome. O Joãozinho, como é chamado carinhosamente pelos donos e funcionários da Queijaria Peruzzato, é "frequentador" do espaço há cerca de cinco anos. Atualmente, o bicho aparece todos os dias na loja. De vez em quando, mais de uma vez.
No início, ainda bem tímido, ele voava todos os dias até o local para se alimentar com pedacinhos de queijo que caíam, no transporte das mercadorias por entregadores ou clientes, ao lado de fora. Com o passar do tempo e com as visitas cada vez mais frequentes, os laços entre os humanos e o animal foram se estreitando. Joãozinho, aos poucos, foi tomando coragem e se aproximando do balcão na parte interna da loja, conta Daniele, filha do proprietário da queijaria, Alcides Peruzzato.
— Depois de um tempo, ele começou a entrar aqui no balcão e ficava olhando para os queijos. Aí, entendemos o que ele queria — conta Daniele, rindo.
E Joãozinho é exigente. A família já tentou alimentá-lo com pães, mas foram negados. O pássaro gosta mesmo é do queijo e nunca esquece da família:
— A natureza é tão perfeita que ele come a parte dele na loja e depois retorna ao ninho carregando o alimento para os filhotes e a fêmea. Nos domingos, dia em que a loja não abre, ele vai até a casa dos meus pais buscar comida. Eles moram no andar de cima da queijaria. Então, ele entra pela janela e espera para receber o queijo.
Uma visita que exige cuidados
Para quem ficou preocupado com a dieta de Joãozinho, a bióloga Giovanna Marschner, do Laboratório de Toxicologia Ambiental do Instituto de Biotecnologia da Universidade de Caxias do Sul, faz uma ressalva:
— O queijo, por ser um alimento bastante gorduroso, poderia acarretar em algum distúrbio semelhante ao nosso "colesterol" alto. Mas isso também depende da quantidade consumida. É difícil afirmar com certeza se isso pode estar acontecendo com ele. Somente fazendo uma análise de sangue.
O coordenador do Departamento de Proteção Animal, veterinário Paulo Vinicius Bastiani, explica que o queijo pode, sim, trazer alguma consequência ruim para o organismo do animal que, na natureza, alimenta-se de cupins, formigas e minhocas. Entretanto, para ele, existem diversos fatores que devem ser levados em consideração, como a forma de produção do queijo e a quantidade de sal que ele leva.
Apesar de uma visita agradável, idealmente, animais não devem entrar em estabelecimentos que comercializam gêneros alimentícios. A médica veterinária Daniela Jacobs, da secretaria de Agricultura de Caxias do Sul, afirma que os bichos podem carregar impurezas nas patas e contaminarem os alimentos. Peruzatto, no entanto, afirma que a queijaria é higienizada diariamente e uma empresa foi contratada para realizar o controle de pragas mensalmente no local.