A preocupação dos moradores do loteamento Pinheiro, no bairro Cruzeiro, com os alagamentos registrados a cada sequência de chuvas intensas, pode estar próxima do fim. Para resolver os problemas provocados pela falta de vazão da água da chuva em um córrego localizado na comunidade, a prefeitura estuda a construção de um tanque de detenção de água. A obra ajudará a evitar a sobrecarga da rede pluvial, podendo solucionar o problema enfrentado há quatro décadas e que tem se tornado mais frequente nos últimos anos, segundo os moradores.
Engenheiros da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Smosp) estão elaborando o projeto executivo para a construção do tanque — também chamado de “piscinão”. A obra compreende a construção de um grande reservatório, que retém a velocidade das águas vindas de bairros como Petrópolis, Presidente Vargas e Diamantino e vai soltando, aos poucos, para os canais principais (como os arroios Tega e Dal Bó), minimizando o problema dos alagamentos.
A proposta é que o tanque seja construído em uma área que pertence à Fundação Universidade de Caxias do Sul (Fucs), localizada no Travessão Solverino. Para isso, é necessário que o conselho diretor da Fucs aprove a cessão do terreno ao município, o que ainda não tem data para ocorrer. Somente com o aval da fundação é que novos passos para a viabilidade da obra serão detalhados.
O assunto foi alinhado no início deste mês, em uma reunião entre o prefeito Adiló Didomenico (PSDB), o reitor da Universidade de Caxias do Sul, Evaldo Antônio Kuiava, e o vereador Alexandre Bortoluz (PP). Com o aval da Fucs serão encaminhadas as demais documentações, licenciamento ambiental, entre outras medidas legais e administrativas para dar início à execução da obra.
Entretanto, segundo o titular da Smosp, Norberto Soletti, o tanque deve ser construído somente em 2022. O orçamento deste ano da pasta não prevê a destinação de recursos para a obra de infraestrutura e de saneamento básico, o que deve ocorrer no próximo planejamento anual. De acordo com ele, o investimento público é a única forma de resolver o problema na comunidade.
— No loteamento Pinheiro, sem construir o tanque, teria que remover todas as famílias porque a tubulação está embaixo das casas. Não tem outra solução. Ou a gente segura o volume da água ou retira as residências para poder fazer uma drenagem adequada, o que seria absolutamente inviável — explica.
Enquanto isso, as cerca de 30 famílias que moram próximas ao córrego se adaptam para evitar que a água e a lama invadam as casas. A professora da rede estadual Shayani Franco, de 27 anos, mora no loteamento Pinheiro desde que nasceu. Na casa dela, a parte inferior, que poderia servir de moradia, não está ocupada porque alaga quando o córrego transborda.
— O loteamento é regularizado e todos os moradores pagam IPTU. Tenho uma vizinha que não pode sair de casa para trabalhar porque alaga de um jeito que inviabiliza sair de casa. Em outros tempos uma residência foi interditada e os vizinhos tiveram que construir outra moradia, mais no fundo, para evitar o alagamento. É um descaso muito grande e estamos na luta há muitos anos para ver esse problema solucionado.
Ela conta que, além dos alagamentos, o esgoto retorna pelo vaso sanitário, ralos e pias devido à obstrução da canalização. Segundo ela, a limpeza do córrego deveria ocorrer todos os meses para evitar problemas como esses, mas a manutenção acaba sendo mais prolongada.
A demanda também foi defendida pelo vereador Bortoluz, que é presidente da Frente Parlamentar de Acompanhamento de Monitoramento de Obras e Serviços de Drenagem da Câmara de Vereadores.
— Não é uma demanda individual, mas, sim, de muitos moradores que estão cansados de ver a água tomando conta das suas casas e das ruas do bairro. Estamos acompanhando as demandas paliativas, de limpeza do córrego, mas também trabalhando para contribuir para que o Executivo viabilize essa obra e dê fim a esse problema.
Caxias deve ampliar tanques de detenção nos próximos anos
Caxias do Sul possui seis tanques de detenção de águas pluviais implantados pela prefeitura: dois nos pavilhões da Festa da Uva e outros localizados nos bairros São José, Fátima Baixo (a primeira a ser instalada), Pôr do Sol e Pio X. Todos eles foram construídos a partir de 2012 como um investimento do poder público como mecanismo de controle de cheias após constantes alagamentos registrados na cidade no início da década passada.
Mesmo assim, há o entendimento de que as redes necessitam de infraestrutura constante e demandam novos tanques para evitar problemas de alagamentos em outras regiões da cidade. O ideal, segundo a Smosp, é que a cidade tivesse mais quatro reservatórios, já que os seis piscinões implantados não contemplam o volume indicado para a segurança do sistema. O planejamento da prefeitura é que os novos tanques sejam construídos no bairro De Lazzer, no loteamento Villa Brazil, próximo ao Parque dos Macaquinhos e também na UCS.
— A gente esbarra no orçamento para dar andamento a esse tipo de investimento. São obras caras, mas que solucionam o problema — afirma Soletti.
Segundo a Smosp, existem aproximadamente 1,3 mil quilômetros de rede de drenagem no município, formada por tubos de concreto, PVC, PEAD, galerias de pedra e de concreto. Essa infraestrutura permite que cerca de 80% das ruas do perímetro urbano possuam rede de drenagem.
Onde estão os atuais tanques de contenção:
:: Festa da Uva: dois novos tanques para amortecimento de água foram construídos no interior dos parque, em 2016, cujo objetivo é diminuir o impacto das águas da chuva em direção aos bairros São José e Garbim. Um dos tanques tem capacidade para 450 mil litros, e foi instalado próximo à escadaria da Via-Sacra. O segundo, com capacidade para 180 mil litros, foi construído atrás do Centro de Eventos.
:: Pio X: foi construído para evitar alagamentos crônicos e antigos na região do bairro. O "piscinão", que tem 2 mil metros quadrados de área e capacidade para armazenar aproximadamente 4,4 milhões de litros, fica na esquina das ruas José Jaconi e Visconde de Pelotas.
:: São José: tem 2 mil metros quadrados de área superficial e capacidade para armazenar no subsolo aproximadamente 4,4 milhões de litros de água. O tanque tem a função de conter as águas da chuva captadas de parte dos bairros Centro, Madureira, Exposição, Nossa Senhora de Lourdes, Jardelino Ramos e Jardim América e para evitar o alagamento das regiões mais planas, como São José, Pio X e Santa Catarina.
:: Fátima Baixo: localizado na Avenida Doutor Mário Lopes, esquina com a Rua Joselino Ferreira Borges, possui uma área de fundo de 8,8 mil metros quadrados e tem capacidade para armazenar e drenar 22,5 milhões de litros de água da chuva.
:: Pôr do Sol: a estrutura pode acumular até 2 mil metros quadrados de excesso de água da chuva e posteriormente evacuá-la em direção às galerias pluviais existentes.