A prefeitura de Caxias do Sul procura por um imóvel para ser a sede definitiva da Hospedagem Solidária, projeto voluntário que há quatro anos abriga pessoas em situação de rua no inverno. Com a estrutura, a iniciativa, que já passou por três bairros, poderia funcionar o ano inteiro e também oferecer atividades durante o dia, ampliando o vínculo com o público atendido.
A mais recente alternativa é um antigo prédio do INSS na Avenida da Vindima, próximo ao Parque dos Macaquinhos. Nesta semana, o secretário Municipal de Urbanismo, João Uez, esteve em Brasília para, entre outras agendas, solicitar a cedência do prédio ao Ministério do Trabalho e Emprego.
A intenção é regularizar o imóvel e repassar para uso da Mitra Diocesana que, em conjunto com a Pastoral das Pessoas em Situação de Rua, desenvolve a Hospedagem Solidária. Com uma sede definitiva, o abrigo poderia funcionar durante todo o ano, e não apenas na época de frio. Segundo a Fundação de Assistência Social (FAS), Caxias do Sul possui 580 pessoas em situação de rua.
— Já visitamos outros espaços, mas não foi possível. O olhar do Executivo e os esforços são para conseguir esse imóvel. O serviço e o desenvolvimento continuaria com a Hospedagem Solidária. É uma parceria muito bem-vinda para a nossa cidade, principalmente em um momento que estamos recebendo muitas pessoas, inclusive de outros países — destaca Katiane Bosquetti da Silveira, presidente da FAS.
Atualmente, o Hospedagem Solidária é realizado no Salão Paroquial Nossa Senhora de Lourdes. Iniciado em maio, o acolhimento está previsto para se encerrar no dia 4 de setembro. Por noite, o projeto abriga cerca de 40 pessoas. Além de uma cama, os voluntários oferecem jantar, higiene, atendimento médico e café da manhã.
Atividades diárias para facilitar a inclusão social
O desejo de ter um imóvel próprio move os voluntários desde 2018, ano da primeira edição do Hospedagem Solidária. Na ocasião, a equipe lamentou o encerramento do trabalho em setembro e o rompimento do laço criado com as pessoas atendidas.
— É o que acontecerá novamente agora, em setembro, quando teremos que dizer para eles voltarem para rua e só em maio voltarem conosco. O trabalho é interrompido e não produz tudo que poderia. Percebemos que precisávamos de um passo além. Com uma sede fixa, poderíamos oferecer muito mais. Teríamos resultados de valorização, dignidade da pessoa e o necessário para a reintegração social — comenta a coordenadora da Pastoral, Maria Teresinha Mandelli.
Mais do que continuar funcionando após o inverno, uma sede permitira ao projeto se expandir. Entre os voluntários do Hospedagem Solidária, há diversas profissionais diferentes que poderiam oferecer cursos. A equipe também poderia incentivar e auxiliar os estudos dos atendidos, afinal muitos não concluíram a educação básica.
— Poderemos fazer esse acompanhamento e essa orientação. Eles poderiam ser direcionados para atividades pela manhã, logo após o café da manhã. Seria uma valorização e qualificação dessas pessoas. Conviver com eles dará uma dimensão para resgatar o ser humano por inteiro. Hoje, fazemos só o acolhimento à noite, o que ajuda muito, mas não é o suficiente — reforça Maria Teresinha.
As ações também ajudariam a resolver outro problema. Como o Hospedagem Solidária fecha pela durante o dia, os acolhidos ficam sem ter para onde ir. Com isso, costumam ficar pela ruas do bairro. Como vários deles são dependentes químicos, a relação com a vizinhança se desgasta com o tempo e gera reclamações. A difícil relação já havia ocorrido no Centro e no bairro Sagrada Família, e se repetiu agora com comerciantes e moradores do Lourdes.
— (Ser um local fixo) também auxilia para podermos conscientizar as pessoas ao redor. Explicar qual é o serviço e por que está ali. Mas, claro, precisamos da compreensão da comunidade. É uma consciência coletiva. De quem é esse público e o que é o serviço — defende a presidente da FAS.
— É preciso apoio de todos. É um movimento de toda cidade, como uma rede de apoio para fazer essa reintegração deles na sociedade. A tendência das pessoas é não se aproximar, mas importante é orientá-los sobre os serviços que estão disponíveis — corrobora Maria Teresinha.
Outra ação adotada pela prefeitura é a criação de um comitê intersetorial para pensar os serviços para pessoas em situação de rua. A medida está em estudo e deve ser formalizada nos próximos meses, com convite a todas as entidades que já são parceiras nos atendimentos.