Os termômetros marcavam 12°C quando os primeiros hóspedes foram recebidos no Salão Paroquial Nossa Senhora de Lourdes, em Caxias do Sul, na noite de quarta-feira (19). Cerca de 20 homens aguardavam do lado de fora pela abertura das portas que ocorreu às 20h10min, após a chegada da Guarda Municipal. O ato deu início à 4ª edição do projeto Hospedagem Solidária, promovido pela Pastoral das Pessoas em Situação de Rua, que segue até o dia 4 de setembro.
A primeira das 34 camas disponibilizadas a cada noite no local foi ocupada por Luis Antonio Ferrary, 53. Desempregado, ele conta que chegou a ser acolhido por outros projetos da cidade, mas acabou optando por deixar o local em função do alcoolismo.
— Tive uma recaída e passei os últimos quatro dias na rua. É muito cruel, tu acaba nem dormindo porque fica com medo. Vim aqui pra não ficar na rua de novo, se deixarem virei todas as noites até conseguir algum emprego e poder pagar um aluguel — relatou Ferrary.
Além de oferecer abrigo nos meses mais frios do ano, a hospedagem também garante a homens, que estejam em situação de rua, o acesso à alimentação. No cardápio da primeira noite: arroz, feijão e massa. A acolhida realizada dentro dos protocolos sanitários referentes à pandemia, conta com cerca de dez voluntários por noite, incluindo as equipes de cozinha e do esquema de recepção.
Inicialmente, os acolhidos são vistoriados pela Guarda Municipal. O nome é a única informação necessária para a hospedagem, que tem recepção entre as 19h30min e 20h30min, podendo variar conforme disponibilidade dos agentes. Após a identificação, que não exige documento, a pessoa deve deixar sua máscara em troca de outra doada pelo projeto.
Voluntários do projeto Médicos do Mundo fazem uma triagem e depois os hóspedes calçam chinelos e depositam seus calçados em sacolas plásticas, dirigindo-se, finalmente, para a cama que irão ocupar naquela noite. Pela manhã, o despertar ocorre às 6h15min, seguido de café da manhã e a organização colaborativa do espaço. As refeições são servidas para dez pessoas por vez.
— Estamos mantendo todo protocolo, com distanciamento entre colchões, nas refeições e na área externa. Estamos acolhendo menos pessoas devido a este protocolo, mas caso exceda, vamos encaminhar para a rede de abordagem social, pois outras casas da cidade também fazem esta acolhida — afirma Maria Teresinha Mandelli Grasselli, que coordena a pastoral.
Até 2020, o projeto ocorria no Salão da Igreja Sagrada Família. No ano passado foram acolhidos de 35 a 43 homens por noite. A mudança de local, segundo Teresinha, ocorreu porque outras comunidades também tinham interesse em receber o projeto que chega à quarta edição.
— Quando a gente pensa em fazer algo pelo próximo, deseja que essa pessoa se recupere, possa sair das ruas, tenha um emprego, volte a ter dignidade, aí não tem mais volta. A hospedagem é temporária, mas o nosso compromisso com a vida é o tempo todo — completa a coordenadora.
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