Duas vezes por semana, seu Luiz Dias, 60 anos, deixa a casa onde vive, no Vila Ipê, Zona Norte de Caxias do Sul, percorre algumas quadras a pé, embarca em um ônibus do transporte coletivo urbano que vai até o Centro. Novamente a pé, ele percorre o trecho entre a parada da Rua Bento Gonçalves até a parada da Sinimbu, onde pega uma linha rumo ao Panazzolo, que o permite desembarcar em frente à Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev). Antes da pandemia, o trajeto era cumprido mais vezes, cerca de quatro dias por semana. Mas, depois de passar um ano e meio em casa, voltar a frequentar a Apadev têm sido motivo de alegria, ainda que com atividades menos frequentes.
— Estou muito alegre de conseguir voltar depois da vacina. Esta é uma segunda casa para mim. Seria muito difícil a vida sem a Apadev. Quando perdi a visão, em 2005, pensei que o mundo tinha acabado, mas graças a Deus, ao meu esforço e aos ótimos profissionais, hoje consigo fazer muita coisa. Eu mesmo me admiro de chegar a conseguir fazer sozinho trajetos como o da minha casa até aqui — conta seu Luiz, que também aprende na associação as chamadas Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD), leitura em braile e informática, incluindo a utilização de aplicativos de acessibilidade para uso de aparelho celular, algo que o permitiu manter contato com colegas e amigos mesmo durante o período de isolamento.
A chamada orientação e mobilidade, que o ensina a percorrer trajetos da cidade e que demanda prática contínua, pôde ser retomada, mas com carga horária menor em função da escassez de recursos financeiros e também humanos que a Apadev enfrenta em função da pandemia. Ao longo de 2020, a entidade, que atende a 121 usuários com acompanhamentos híbridos, viu cair em 70% as doações que recebia de pessoas físicas e jurídicas, algo que abalou a prestação dos serviços.
— Depois das primeiras semanas, com fechamento e férias coletivas, começamos a reduzir gradativamente a carga horária das equipes, baixando de 20% a 50%. Estamos com um recurso humano bem escasso e muitas atividades ainda não foram retomadas ou, quando são, ficam com lacunas a serem preenchidas. A Apadev agora funciona com a receita pela metade e seria ainda mais baixa não fossem os projetos e parcerias que fomos buscando em toda a região e também com lideranças políticas — relata a coordenadora da entidade, Mônica Zefino Soares.
Ela destaca uma parceria com o Sicredi, que subsidia aulas de informática de julho até dezembro, além de projetos como o Inclusão Escolar! Superando Barreiras, do Criança Esperança, que beneficiará crianças e adolescentes pelo período de um ano.
— Nestes projetos focamos em prever os atendimentos que eles mais precisam. É uma ótima ajuda, mas mesmo quando contemplados, temos de pensar que para colocar qualquer projeto em execução demanda serviço de recepção, água, luz, dentre outros custos para os quais ainda precisamos de apoio. Estamos vivendo o hoje sem saber como será o dia de amanhã — afirma a coordenadora.
Serviços da Apae beneficiam 441 usuários
As limitações impostas pela pandemia não impediram que Benjamin Augusto da Fonseca, 4, frequentasse os atendimentos em fisioterapia e fonoaudiologia que acessa na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Caxias do Sul. Usuário dos serviços da entidade desde que tinha seis meses de vida, ele reflete hoje os efeitos da continuidade que pôde ser mantida, conforme relata a mãe, Marcia Regina Fonseca, 39.
— Fechou algumas semanas logo no início e ele já sentiu falta. Foi muito importante não ter parado, ele vem evoluindo bastante com a fisioterapia e, mais ainda nos últimos 30 dias, com o acompanhamento da fonoaudióloga também. Fico feliz de ver ele crescendo e conseguindo fazer tantas coisas. Se precisasse pagar por tudo isso nem sei como faria — comenta Marcia, que é viúva há dois anos, dona de casa e vive com a mãe no bairro Marechal Floriano.
Benjamin é um dos 441 beneficiados com os serviços de saúde, assistência social e educação oferecidos gratuitamente pela Apae de Caxias do Sul. Com a chegada da pandemia, a entidade sofreu impactos financeiros, especialmente por conta da suspensão de eventos que eram fonte de boa parte dos recursos. Mesmo com corte de gastos e do quadro de funcionários, a receita chegou a baixar em 20% no ano passado mas hoje está em torno de 10% abaixo do que registrava-se antes da pandemia.
— Tivemos que nos reinventar e buscar alternativas para continuar atendendo ao público e estamos conseguindo dar conta porque temos um telemarketing ativo, que nunca parou, e que vem suprindo a perda que tivemos por conta dos eventos. Além disso contamos com alguns projetos como o Troco Solidário que, para quem doa pode ser pouco, mas para a gente é muito importante — destaca a presidente da Apae de Caxias, Bernardete Pavan Vezaro.
Em 2020, todos os eventos que angariam recursos para a entidade ficaram suspensos. A única ação mantida foi a do calendário, que teve edição temática de 15 anos e terá lançamento também para 2022 em meados de setembro. Em 2021 eventos como a tradicional feijoada foram retomados, em versão drive-thru, com ampla adesão da comunidade. Segundo Bernardete, a ideia era vender 500 ingressos (que equivaliam a duas refeições cada), mas foram vendidos 600. Da mesma forma, o sucesso das cestas juninas e outras ações pontuais que vão sendo implementadas, garantem a continuidade dos serviços.
Projetos como o aprovado pelo Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (Pronas) ainda em 2020, também reforçam as atividades oferecidas. Com o recurso do Ministério da Saúde será possível a contratação de 11 profissionais, ampliando para 15 o quadro da área durante dois anos.
Ao longo da pandemia, as aulas foram mantidas de forma remota na Escola Especial Dr. Henrique Ordovás Filho, da Apae, e voltaram a ocorrer presencialmente neste mês, mas em formato híbrido, com dias alternados e alunos que ainda optam por ficar em casa. Na área assistencial, os atendimentos seguiram remotos e começam a ser presenciais individualizados, sob agendamento.
Saiba mais sobre essas e outras entidades
:: Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev)
Data de fundação: 29 de novembro de 1983
Objetivo: promover a inclusão social, habilitação/reabilitação, saúde e educação das pessoas com deficiência visual.
Público atendido: deficientes visuais (cegueira e baixa visão).
Quantas pessoas atende: 121 usuários ativos.
Formas de colaborar: doações de qualquer valor em dinheiro pelo PIX (CNPJ): 88708532/0001-29; transferência bancária para o Banrisul ag. 0180, cc. 06282745.0-0; ou boleto bancário.
Mais informações: (54) 3213-2323 / (54) 99100-9227 / apadev@apadev.org.com / Instagram: @apadev.cxs / Facebook: @apadevcaxias
:: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae Caxias do Sul)
Data de fundação: 6 de setembro de 1957
Objetivo: prestar ao deficiente assistência social em caráter preventivo habilitador e reabilitador, buscando seu desenvolvimento global sua inclusão e integração, oportunizando-lhe participação ativa na família, comunidade e sociedade enquanto cidadãos.
Público atendido: pessoas com deficiências.
Quantas pessoas atende: 441 usuários.
Formas de colaborar: doação em espécie, alimentos, materiais de higiene e limpeza, material escolar, máscaras e luvas descartáveis.
Mais informações: (54) 3013-4900 / Instagram: @apaedecaxiasdosul / Facebook: @apaecaxiasdosul
:: Instituto da Audiovisão ( Inav)
Data de fundação: 19 de fevereiro de 2009
Objetivo: oferecer situações que possibilitem o acesso à educação, habilitação e reabilitação, promovendo a inclusão psicossocial, escolar e profissional; oferecer apoio e orientação sociofamiliar; conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção e o atendimento precoce dos problemas relacionados à deficiência visual e a surdocegueira.
Público atendido: pessoas com deficiência visual e surdocegueira, associadas ou não a outras deficiências, sem limite de idade.
Público atendido: 170 pessoas com deficiência e suas famílias.
Formas de colaborar: doações de qualquer valor em dinheiro pelo PIX (CNPJ) 10.733.963/0001-58 ou transferência bancária para Banrisul, ag. 0873, cc. 06.199400.0-1; participação nos eventos beneficentes do Inav.
Mais informações: (54) 3226-6262 / Instagram: @instituto_da_audiovisao / Facebook: @inav.caxias
:: Lar da Velhice São Francisco de Assis
Data de fundação: 14 de fevereiro de 1960
Objetivo: proporcionar uma vida digna aos idosos, garantindo boas condições sanitárias, alimentares e de segurança, visando a integração social, estimulando o desenvolvimento cognitivo e provendo autonomia.
Público atendido: acolhimento de idosos em situação de abandono ou alta vulnerabilidade social.
Quantas pessoas atende: 70 idosos.
Formas de colaborar: doações de alimentos, vestuário e ajuda financeira.
Mais informações: (54) 3225-1677 / Instagram: @lardavelhice / Facebook: @LarDaVelhiceSaoFrancisco
:: Associação Murialdinas de São José / Programa de Qualificação Profissional para a Cidadania
Data de fundação: 1999
Objetivo: proporcionar formação profissional a adolescentes, possibilitando que ingressem no mercado de trabalho com qualificação, na condição de Menor Aprendiz.
Público atendido: adolescentes de 14 a 18 anos de bairros periféricos de Caxias do Sul.
Quantas pessoas atende: 60 aprendizes.
Formas de colaborar: doações de tecidos ou alimentos para o lanche; adquirindo peças produzidas no curso; doações em dinheiro para o custeio do curso.
Mais informações: (54) 3027-7275 / Facebook: Murialdinas Aprendizagem.