O sistema 3As, implantado pelo governo do Estado em substituição ao modelo de distanciamento controlado, para monitorar e controlar a pandemia de covid-19 chega a um mês nesta quarta-feira (16) em um cenário de aumento de casos e de internações hospitalares na Serra. O painel do Estado aponta que em 16 de maio, quando o novo sistema começou a operar, a região tinha uma taxa de 251,1 casos para cada mil habitantes. Depois disso, entre períodos de queda e aumento, chegou ao pico de 399,4 nesta terça-feira, maior taxa desde o dia 2 de abril, quando foi de 440,1. O número de pessoas com a doença hospitalizadas em leitos clínicos saiu de 283 para 402 e, em UTIs, de 227 para 305.
Caxias do Sul, maior cidade da região, por exemplo, não chegou ter uma redução expressiva na ocupação de leitos de UTI desde a última onda da doença e registrou aumento médio de 30% a 40% de pacientes com covid-19 neste último mês, tempo em que vigora o novo sistema 3As, conforme disse a secretária de Saúde, Daniele Meneguzzi, em entrevista ao Gaúcha Hoje, desta quarta-feira (16). Segundo ela, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) observou aumento de 400% na faixa etária dos 30 aos 39 anos e aumento expressivo também entre pessoas de 40 a 49 anos. Enquanto isso, houve redução de 100% nas internações de pessoas com 70 anos, o que, de acordo com a gestora pública, é resultado da vacinação entre os idosos. A alta contaminação entre os adultos, segundo ela, é resultado da resistência das pessoas em seguir as regras e protocolos:
— Vemos claramente, nesses números, o reflexo do comportamento da população. Infelizmente, nesses últimos 30 dias, percebemos aumento expressivo na busca por atendimento de pacientes sintomáticos, invariavelmente, aumentamos o número de casos positivos, o que impacta nas internações tanto em leitos de enfermaria quanto de UTI.
Contudo, a secretária não acredita em um impacto negativo da mudança de modelo de monitoramento da covid-19 por parte do Estado.
— Não mudou muita coisa na ponta, nos municípios. Vejo como extremamente positivo porque ele traz para os municípios uma responsabilidade que, antes, era muito mais do governo estadual do que de quem vive o dia a dia. O que achamos que impactou nesse aumento de contaminações diz respeito ao nosso inverno, ao nosso clima, onde as pessoas acabam aglomerando mais, não mantêm os ambientes ventilados, são acometidas por doenças de inverno, gripes e resfriados comuns, e menosprezam os sintomas, e acabam não buscando atendimento porque acham que não estão com covid. Quando buscam atendimento, seu estado de saúde já está bastante agravado e muitas vezes requer uma internação — explanou a secretária referindo também como causa a negligência das pessoas em relação às medidas de prevenção.
Daniele declarou de forma taxativa que não há possibilidade de aumentar a estrutura hospitalar na cidade:
— Tudo que poderia já foi feito. Não há mais espaço. Não há mais profissionais. Ainda há falta de medicações e de equipamentos. Então, o aumento de estrutura está descartado, pois essa possibilidade não existe.
Diante disso, a prefeitura aposta na vacinação e na conscientização dos moradores para que reforcem os cuidados, que são amplamente conhecidos, mas que, segundo ela, não são cumpridos por parte da população. Ela cita o não uso da máscara nas ruas, as aglomerações flagradas todos os finais de semana pela fiscalização.
Para especialista, detecção funciona, mas ações não são efetivas
Para o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, a parte do sistema 3As que compreende o acompanhamento dos dados e a detecção da situação de risco de cada região, que resulta nos avisos ou, como no caso da Serra, em alertas, é o ponto positivo do novo modelo. Mas há um ponto negativo:
— A detecção do aumento no sistema 3As foi muito mais rápida do que no sistema anterior. Mas a ação, ao ser diluída para as prefeituras, acabou sendo muito menos efetiva do que, por exemplo, a bandeira preta. O sistema detecta muito mais cedo, mas os prefeitos não estão tomando ações ideais para prevenir, estão deixando subir, aumentando mobilidade, fazendo medidas inócuas, pois não trabalham na mobilidade, nas restrições que efetivamente baixam a transmissão. É como se a metade que se refere à detecção tenha melhorado e a metade da ação piorado. Se tivéssemos ações como no sistema anterior (aquela bandeira preta), mas nessa velocidade de detecção de agora, já seria melhor.
A melhora na detecção ocorre, conforme análise de Schrarstzhaupt, porque ela passou a não precisar mais de uma fórmula matemática que considerava ocupação de leitos ou percentual de aumento. Quando se nota um aumento de casos, já se dá o aviso ou alerta.
Além disso, o fato de não ter um dia estipulado para análise dos dados torna mais fidedigno o diagnóstico.
Prefeitos da região são favoráveis ao sistema 3As
No sistema 3As, o Comitê de Dados do governo do Estado acompanha a evolução dos casos e demais informações da pandemia, emite avisos, como primeira forma de chamar a atenção de uma região para o avanço da doença, e alertas, quando a situação piora. E os municípios têm autonomia para definir as ações que serão tomadas no âmbito regional ou municipal, se mais restritivas, para o enfrentamento dos problemas. Mesmo assim, o Estado determina protocolos obrigatórios e sugere outros que podem se mudados pelas associações regionais.
O prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, considera essa autonomia dos municípios o principal ponto positivo do novo sistema, que funciona como um balizador para as prefeituras:
— Sabemos melhor do que o governo do Estado as realidades individuais de cada cidade. Sabemos o quanto conseguimos investir e realocar equipes para atendimento de todo o cidadão que precise de internação. Aqui, em Bento, fizemos esforço muito grande para ter atendimento para todo mundo. Logicamente, é importante termos o nosso monitoramento individual para sabermos até que ponto podemos flexibilizar ou tornar rígidos os protocolos municipais.
O presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior Nordeste (Amesne), Fabiano Feltrin, e prefeito de Farroupilha, disse que o sistema 3As é um processo novo, em construção, que não existe uma fórmula infalível em nenhum lugar do mundo e que é importante que cada cidadão também faça a sua parte, pensando na coletividade e nas pessoas do seu entorno.
— Todos estão se esforçando para fazer o melhor. O Estado com o monitoramento dos dados e os municípios com as ações referendadas pelos Comitês Técnicos Regionais. Não é uma tarefa fácil, mas os protocolos básicos são cientificamente comprovados, ou seja, não há mais como a população não se utilizar destas orientações, que acabaram virando uma rotina na luta contra o contágio. O avanço das vacinas é a nossa chance de superarmos a crise de saúde e econômica. É um avanço diário e uma luta constante _ avaliou Feltrin.