As baixas temperaturas — os termômetros marcavam 1ºC na manhã desta quarta-feira (30) em Caxias do Sul — aliadas aos protocolos exigidos para o controle da pandemia de coronavírus tornam os dias de professores e alunos ainda mais desafiadores. Conforme a portaria do governo do Estado, seguida no município, os ambientes devem estar ventilados naturalmente, preferencialmente com janelas e portas abertas. Esse é o principal item que faz com que a adesão ao formato presencial nas escolas de Caxias esteja em baixa nesta semana, ao menos nas duas escolas visitadas na manhã desta quarta, quando a temperatura estava em 3°C.
No bairro Charqueadas, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Nova Esperança, uma sala de aula do 1º ano do Fundamental tinha dois alunos até as 7h50min. No mesmo horário, eram oito pequenos no início da semana. Não fosse o frio, a professora Thaís Dedéa, 41 anos, estaria com 13 alunos no espaço:
— Algumas famílias nos passaram que as crianças apresentaram sintomas gripais e outras optaram por não enviar por precaução — disse, após explicar aos dois que estavam em sala que haveria poucos colegas neste dia.
— Um deles me perguntou: mas por que eles não colocam mais casacos? (risos) — conta. O pequeno questionador estava vestido com sete agasalhos entre blusões e jaquetas.
Todas as salas de aula da escola estavam com parte das janelas abertas, assim como as portas. A professora Fernanda Schleder Baseggio Manozzo, 36, notou redução da presença nas aulas de arte de 10 para seis alunos entre o 3º e 9º ano do Fundamental nesses últimos dias. Os estudantes que deixam de ir têm atividades impressas para retirar e completar em casa.
A professora Viviane Piamolini Gaelzer, atual princesa da Festa da Uva, dá aula para os pequenos da Educação Infantil na escola Nova Esperança e diz que os dias frios são um desafio.
— O número de alunos reduziu até porque os meus alunos têm quatro aninhos e exigem mais cuidados. Estamos promovendo atividades dinâmicas, com movimento, para que eles se aqueçam mesmo que sem contato físico — disse.
Reserva de casacos
A equipe da escola Nova Esperança está preparada para o que o inverno traz à população de baixa renda. Em maio, uma campanha foi lançada para dar conta de vestir famílias, especialmente uma de venezuelanos. A ação já se encerrou, mas a escola ainda tem um armário com diversas roupas de frio para utilizá-las em momentos urgentes.
— Ontem (terça-feira, quando fez 0,1ºC) vimos um aluno só de moletom. Fomos verificar e vimos que ele estava apenas com uma regata por baixo. Colocamos malhas nele e entregamos outas peças para ele levar pra casa. Por isso temos essa reserva — explica a vice-diretora Adriana Tomazi, 50.
Turma vazia no La Salle
No ambiente do ensino particular, o frio e a pandemia também estão interferindo na presença dos alunos em sala de aula. Nesta quarta, não havia alunos em uma turma da 2ª série do Ensino Médio do colégio La Salle. Em outra, do último ano, havia três alunos. As salas, adaptadas, teriam 30 estudantes cada.
A intensidade do frio também refletiu no aulão do Enem que a escola havia programado para 150 alunos nesta quarta. Às 8h30min, havia 30 alunos na turma.
— Venho mesmo com frio porque essa é uma oportunidade que a escola está dando e não tem comparação o desempenho que se tem a partir de aulas presenciais — diz a aluna do 1ºano do Ensino Médio, Luiza Focking Tochetto, 15.
Segundo o supervisor educativo do La Salle, Gleison Olivo, a orientação da vigilância sanitária é manter as janelas abertas com no mínimo cinco centímetros e portas abertas. O ar condicionado, segundo ele, pode ser ligado caso haja ventilação de ar. O que não pode, conforme Olivo, é o ambiente ficar fechado.
O diretor de fiscalização da prefeitura de Caxias, Rodrigo Lazzarotto, afirma que as regras do decreto acabem sendo interpretativas:
— A norma fala em janela aberta e não tem o regramento do quanto. Se formos analisar, o ar condicionado ligado com renovação de ar acaba não infringindo e faz sentido.