A Escola Municipal de Ensino Fundamental Arnado Ballvê, no bairro Santa Lúcia, em Caxias do Sul, registra até o final da manhã desta quarta-feira (12), 12 casos de contaminação por covid-19. Até o começo da manhã eram cinco casos e a escola seguia com aulas presencias. Contudo, depois de confirmar novos casos e diante da apreensão dos professores, as aulas presenciais foram suspensas até a sexta-feira (14) a partir desta tarde. A orientação é que os pais não levem os filhos para o colégio.
Duas professoras da Arnaldo Ballvê, que foram infectadas pelo coronavírus, desabafaram sobre o contágio. Os nomes estão preservados pela reportagem. Uma delas garante que todos os protocolos foram seguidos para prepara o ambiente escolar, seguindo as normas previstas no Coe municipal:
— Nosso plano de contingência foi aprovado e ele foi colocado em prática, porém, como todos estamos suscetíveis, eu acredito que realmente não tem protocolo que segure essa doença — relata a professora.
Ela afirma que não é justo apontar que houve falha da escola:
— Estou extremamente decepcionada, porque fizemos todo trabalho no sentido de manter as melhores condições de salubridade, de higiene e condições de saúde. Está sendo apontado que houve falhas da escola no sentido de protocolos, mas a minha pergunta é onde estavam os órgãos fiscalizadores que permitiram que as escolas fossem abertas sem antes uma visita? Não houve uma visita fiscalizando os ambientes para revisar aquilo que realmente fizemos, e que nós acreditamos que nos deixou preparados para receber alunos
A professora afirma ainda que é inadmissível responsabilizar a escola, sendo que não tiveram orientações de forma eficiente quando os diagnósticos foram repassados na última segunda-feira (10):
— Eu estou contaminada. Eu trouxe esse problema para dentro da minha casa e quando eu me contaminei eu não estava na balada e não estava no shopping, eu estava trabalhando. Se tem uma coisa que eu não vou aceitar é a escola ser questionada nesse sentido.
Outra professora da mesma escola segue a mesma linha:
— Eu não sei quando fui infectada e nem quando comecei a transmitir o vírus, mas peguei dentro da escola, por mais que eu me cuide. Teve um menino que teve febre e foi para sala de isolamento na semana passada. Agora temos que ouvir que a escola não cumpriu protocolos. Isso é um absurdo. Eu não consigo respirar direito e estou com um cansaço fora do normal.
Emocionada, ela disse que a categoria nunca foi ouvida:
— Ninguém nunca nos ouviu sobre o retorno presencial. As ordens sempre vieram de cima. Por que não começaram devagar? Entendo que as crianças precisam de aulas presenciais e me assusta perceber que muitas ainda não sabem ler e escrever, mas se alguma adoecer e perder a vida de que adianta tudo isso? Se um professor morrer, adianta? Estamos falando de vidas.
Antes de suspensão das aulas, mãe já havia decidido não mandar filho para escola
Uma mãe de 43 anos, que também prefere não ser identificada, entrou em contato com a reportagem para relatar preocupação com o surto registrado no colégio Arnaldo Ballvê. Antes mesmo da Smed suspender as atividades presenciais até a sexta, ela já havia decidido deixar o filho, de oito anos, em casa.
— Nós estávamos felizes e animados com o retorno, tanto eu quanto ele queríamos muito esse retorno. Ele é um aluno superdedicado. Essa notícia foi um balde de água fria, um sentimento de insegurança total, nós realmente acreditávamos em um retorno seguro. Claro que não vivemos em uma bolha, sabíamos dos riscos, mas não achamos que fosse tão real e tão rápido. Eu não dormi esta noite, pensando se ele tinha tido ou não contato com algum dos contaminados. Decidimos não mandar para a escola a partir desta tarde por pelo menos 20 dias
Ela relata ainda que o marido dela é do grupo de risco, e recebeu a primeira dose da vacina:
— Nós cuidamos muito, graças a Deus ninguém se contaminou aqui e nem em nossa família. Decidimos que, com muito pesar, vamos ter que continuar nos adaptando e tentando dar a melhor educação em casa nesse momento. Sentimos muito pelos profissionais que adoeceram e desejamos melhoras. Agora teremos que optar mais pela segurança e menos pela educação presencial.
A mãe deixa claro que é a favor do retorno presencial e que não vê culpados, porque é preciso encarar que existe um vírus, e que é necessário manter todos os cuidados:
— Nesses dois dias que levei meu filho, achei a entrada e saída desorganizada, muitos pais entrando junto com as crianças, sem o devido distanciamento, sem orientação. Os pais deveriam saber, é evidente, mas a escola também deveria orientar. Sei que não é fácil, mas ter uma pessoa na entrada falando para manter 1 metro ou mais de distância já seria suficiente. Ter alguém no portão da entrada medindo temperatura e colocando uma criança por vez para dentro também.
Ela conta que em dias de chuva como na terça (11) teve ainda mais dificuldades:
— As crianças na fila na chuva, e os pais trancando a entrada para cuidar se seus filhos entraram. A medição da temperatura na entrada interna. O problema é até chegar lá no acesso ao colégio, porque as crianças e pais se amontoaram. Estava chovendo e deixaram a entrada das crianças na parte sem cobertura e mais estreita. Com vários pais que só largam seus filhos quando chegam na porta interna da escola. Eu larguei o meu e ele foi para a fila, fiquei no carro cuidando, e ele estava espremido entre pais e crianças na chuva.