A fila de professores distanciados vestidos com capas brancas e máscaras, munidos de termômetros digitais e dispostos nas escadas e rampas do acesso principal na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fioravante Webber virou exemplo de cena comum na retomada das aulas presenciais em Caxias do Sul, na manhã desta segunda-feira (3). O colégio, localizado no bairro Pioneiro, zona norte da cidade, é apenas mais um dos outros 82 que retornam às aulas em meio à pandemia, além das 45 escolas de Ensino Infantil do município. Ao todo, são esperados 17 mil alunos nas salas de aula a partir desta segunda.
Os 517 alunos matriculados nos turnos manhã e tarde da Fioravante Webber são divididos em três grupos, que irão à escola de acordo com a semana que estiver estipulada em escala. O grupo 1 irá frequentar as salas de aula de 3 a 6 de maio, enquanto o grupo 2, de 10 a 13. Já o grupo 3, dos dias 17 ao 20. As aulas presenciais serão realizadas de segunda a quinta-feira. Essas datas representam um desafio para a comunidade escolar, já que muitos pais não estão atentos aos dias corretos em que os filhos precisam ir até a escola. Isso fez, inclusive, com que alguns alunos precisassem retornar para a casa nesta segunda-feira.
A escala correta é repassada em grupos de pais por Whatsapp e também pelo Google Classroom. Na Escola Fioravante Webber, até a entrada é feita por meio de escala. A diferença de 5 minutos para acesso das turmas garantiu que não houvesse aglomeração do portão para dentro.
— Às 7h30min entram os quintos anos A e B; às 7h35min os sextos anos; e às 7h40min, sétimos anos. Já às 7h45min, são os oitavos; e às 7h50min, os nono anos — explicou a vice-diretora Silvana Vanzin, 54.
As saídas também serão escalonadas, a partir das 11h. Dentro das salas, regras diferentes do que seriam em anos sem coronavírus. Uma professora orientou os pequenos de que os bebedouros não podiam ser utilizados e que as garrafas de água pessoais não podiam ser compartilhadas.
A diretora Fátima Grasiela Pozzan Zanotto, 36, lembra que o retorno estava previsto para 15 de março, desta forma, o planejamento de volta às aulas começou em fevereiro — foi suspenso quando o Estado entrou em bandeira preta e liberado na última semana, após classificação vermelha. Serão em média nove alunos por turma e 90 estudantes em cada turno por semana. Esses números somam, por dia, cerca de 180 alunos dentro das dependências da escola. De acordo com Fátima, os que optaram pelas aulas presenciais representam 70% dos matriculados.
— Desde o ano passado já providenciamos a compra de álcool, tanto gel quanto líquido, e spray. Temos máscaras, mas orientamos que cada aluno venha com a sua e com mais uma reserva. Para o caso de esquecimento ou de molhar e sujar, por exemplo, aí oferecemos uma nova. Cada sala tem uma caixinha de máscara reserva. Também estamos orientando que o aluno troque de roupa quando chegar em casa — explica.
Questionada sobre estar segura com a volta, a diretora ressalta que nada é totalmente seguro.
— 100% seguro não nos sentimos. São desafios. Até porque temos professores em grupo de risco e com comorbidades. O ideal seria termos nas escolas algum atendimento da área da saúde. Nós vamos fazer aferição da temperatura e visualmente vamos tentar entender os sintomas, mas não será com 100% de certeza. Se algum aluno tiver sintoma, ficará aguardando os pais em uma sala especial de isolamento — afirma.
No refeitório, são sete alunos por vez. O lanche será de dez minutos para que as dez turmas não se encontrem. Na Escola Fioravante, há duas professoras com mais de 60 anos que estão em teletrabalho e outra, que está gestante, além de duas que estão afastadas por suspeita de covid-19. Há substituições com professores de apoio para atender à falta.
Dia para conhecer os alunos
O professor de Ciências dos 6º, 8º e 9º anos Giovanni Colussi, 29, chegou cedo à escola nesta segunda-feira (3), por volta das 7h15min. Ele começou a lecionar na escola neste ano e, por isso, tinha visto seus alunos apenas durante as aulas virtuais.
— Eu os vi apenas pela tela, acaba que nos conhecemos pouco. Pela tela também fica difícil gravar o rosto de cada um — disse.
Segundo Colussi, dos alunos dele, a maioria preferiu ir presencialmente. Muitos têm dificuldade de acessar a internet para acompanhar as atividades do Google Classroom, conforme o professor. As aulas na plataforma seguirão mesmo com o formato presencial. Os professores postarão atividades, mas também farão transmissão ao vivo, direto da sala de aula. Para isso, ele fará uso do seu notebook particular.
— Este início será de uma forma mais calma, mas depois faremos transmissões. A escola tem alguns notebooks, mas alguns usam o seu, como é o meu caso — relata.
Um dos alunos que voltou às aulas presenciais nesta segunda-feira foi Holiver Medeiros Jlebovich, 11, do 5º ano do Ensino Fundamental. Acompanhado dos pais, Marcelo e Jaqueline, ele aguardava na calçada ser chamado pelas professoras que conferiam a lista dos autorizados para o dia.
— Acho que lugar de criança é na escola, vai ser bom para eles porque, se não, vão perder o ano. Não podemos ficar em casa escondidos por causa de um vírus — disse o pai.
Ao contrário dos que enviaram seus filhos no dia trocado, o taxista Odair Moura, 47, está atento ao retorno de Tiago, 14. Segundo ele, o filho voltará apenas no final do mês.
— Ele vai voltar, mas está bem adaptado em casa. Recebe e faz todas as atividades. Acho que ele quer rever os amigos — contou.
Salas têm menos alunos do que a capacidade na Escola Catulo da Paixão
No bairro Panazzolo, região central de Caxias, os 426 matriculados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Catulo da Paixão Cearense, são dispostos em grupos A e B para presença em sala de aula. O grupo C é de quem optou por ficar em casa. Estes retiram as atividades impressas na escola ou acessam a plataforma Google Classroom.
— Nosso entendimento é de que nada substitui o presencial e o fato de termos essa nova forma de se trabalhar é um desafio. Todos ainda estamos em um processo de adaptação. Apesar de termos uma realidade de estar em um bairro mais centralizado, há famílias que não têm celular ou computador para deixar com os filhos, para que acessem os conteúdos. Mesmo que tudo tenha iniciado no ano passado, é a primeira vez na história que estamos vivendo isso, ainda estamos na curva de aprendizado — disse a diretora, Adriana Restelatto, 46.
Segundo ela, as situações vivenciadas de 'volta, não volta' geraram insegurança e angústia.
— O que temos procurado é manter as informações atualizadas com as famílias. A partir do momento em que a Smed se posiciona, já informamos imediatamente para evitar ansiedade. A informação tem que ser muito pontuada e a tempo.
As famílias receberam a orientação de que a criança leve duas máscaras na mochila, além da que utiliza. Na Escola Catulo, faltam três professores. São educadores que estão em teletrabalho e isso fez com que professores da biblioteca ou que atuariam especificamente em áreas como de alfabetização, precisassem fazer substituições.
A professora de Artes Elisa Rosa Mendes, 41, leciona em todos os níveis da escola, que vai do Pré ao 5º ano do Ensino Fundamental. Na sala em que ela estava por volta das 8h30min, desta segunda-feira, havia oito crianças do 5º ano. A sala comportaria 13. Sobre a aula à distância, ela resume:
— Foi difícil. Tivemos que nos reinventar, estudar de novo. Aprender a mexer em equipamentos, programas, coisas que nunca tivemos treinamento, foi no susto. Também usarmos nossos equipamentos, que nem sempre é o melhor. A maior preocupação era pensar no material. Não podíamos supor que eles tivessem em casa aquilo que se queria para a atividade.
Mesmo com o retorno das escolas, há pais que preferem manter os filhos em casa. É o caso de Aline Jovasque, 33, que é enfática ao dizer que a filha, Isadora, 5, não voltará neste momento.
— Não me sinto segura ainda e como estou em casa, fico com ela. Não sou contra porque sei que tem pais que necessitam. A minha está no Pré e consegue ir bem com as atividades em casa — diz.
Já Luciliano Mileski, 48, foi até à escola na manhã de segunda-feira para mudar o formato de aula da filha, Luana, 7.
— Ela não quis mais ficar em casa. Tínhamos decidido isso, mas ela pediu para ver os coleguinhas — contou.
Estimativa de presentes baixou, segundo Smed
A perspectiva inicial da Secretaria Municipal de Educação (Smed) era de que dos 43 mil alunos da rede municipal, 19 mil retornassem. Segundo a secretária Sandra Negrini, a estimativa desta segunda-feira é de 17 mil. Isso porque muitos pais preferiram esperar para constatar se, de fato, as aulas seguirão presenciais ou se haverá mudanças por parte do governo. E, ainda, ter tempo de verificar se as normas sanitárias são cumpridas.