Moradores do bairro Santa Corona, em Caxias do Sul, denunciaram a morte de gatos por meio de tiros de chumbinho e envenenamento. As mortes ocorrem seguidamente, de acordo com uma moradora que preferiu não se identificar. Na última semana, o gato de estimação Chico Jr. chegou em casa ferido por arma de pressão e não resistiu ao ferimento.
— Isso já tinha acontecido antes, de levar tiro, mas conseguimos salvar. Há algum tempo, o Chico desapareceu por uma semana. Voltou magro e frágil, por isso acreditamos que ele foi mantido em cativeiro, mas conseguiu fugir. Dessa vez, ele não sobreviveu — explica.
A moradora também relata que casos como esse ocorrem desde o ano passado e ela, inclusive, já perdeu dois gatos de estimação: Chico tinha dois anos e foi envenenado e Chico Jr., de três anos, foi morto por arma de pressão na última semana.
Segundo ela, a perda dos animais chocou os netos e, principalmente, o marido, que é muito apegado aos animais. Choque, tristeza e indignação traduzem os sentimentos.
— Eu fico muito revoltado. Eu sou muito apegado aos animais. Já cheguei a pegar para mim um cachorro que iriam matar. Se eu vejo alguém maltratando os animais eu avanço. Me parte o coração ver isso, por que não afastar o animal de outra forma? Com água ou de forma inofensiva? O animal não fez nada para merecer isso — desabafa o marido.
O casal registrou boletim de ocorrência online e entrou em contato com Paulo César Duarte, protetor dos animais. Segundo Paulo César, muitos moradores do bairro Santa Corona têm procurado ajuda em casos semelhantes.
— No ano passado, o gato de outra moradora foi alvejado e sobreviveu, mas dias depois foi encontrado morto a enxadadas. Orientamos que os tutores façam a denúncia, mas muitos têm medo de retaliação — destaca Paulo César.
As mortes têm se tornado cada vez mais frequentes e preocupantes, porque desde terça-feira mais dois gatos foram mortos por envenenamento em um intervalo de poucas horas e causaram revolta nos moradores do bairro. Além disso, muitos ainda relatam que seus animais estão desaparecidos há vários dias. Devido à frequência desses ataques, o protetor dos animais conta que ele e outros voluntários planejam realizar uma passeata para orientar a população sobre os maus-tratos.
O que fazer em caso de maus-tratos
Recentemente, o município conquistou o primeiro cartório especializado na investigação de crimes de maus-tratos e crueldade contra animais. Instalado no 3º Distrito Policial, o trabalho será realizado em conjunto com o Departamento de Proteção Animal da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma).
A orientação da Polícia Civil, em casos como esses, é registrar o boletim de ocorrência para que seja instaurado um procedimento policial para esclarecimento do crime. A escrivã do cartório especializado, Daniela Cargnino, explica que os tutores devem reunir testemunhas e fotos e fazer uma denúncia com o máximo de informações possíveis, como bairro e endereço. Somente com informações completas e provas é possível investigar e chegar ao autor do crime.
— Muitas pessoas acabam não denunciando porque preferem não se identificar, mas é muito importante. Pelo site ou pelo WhatsApp da Polícia Civil é possível se manter anônimo — completa Daniela.
Com menos de uma semana de atuação, Daniela conta que já há bastante trabalho a ser realizado. Além disso, nas próximas semanas a Semma pretende colocar à disposição do cartório a sala de necropsia da secretaria, o que vai facilitar a identificação da causa da morte.
Lei Sansão
Em 2020, a Lei de Crimes Ambientais (Lei nº 9.605) foi alterada pela Lei Sansão para aumentar a punição aos crimes de maus-tratos e crueldade contra animais. A nova lei aumenta a pena para quem maltratar cães e gato, pois a pena anterior previa a detenção de três meses a um ano ou multa. Agora, a prática de abuso, maus-tratos, ferimento ou mutilação dos bichos de estimação será punida com reclusão de dois a cinco anos, além de multa e proibição de guarda.