Uma nova tecnologia, cientificamente desenvolvida e comprovada por pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS), terá seus primeiros protótipos instalados em breve. Trata-se de um novo modelo de filtro de ar que, a partir do uso do cobre, é capaz de inativar vírus e bactérias, incluindo o coronavírus. Em uma parceria firmada com a Expresso Caxiense, cerca de 12 filtros serão instalados em ônibus da empresa sediada no município, que atua em linhas intermunicipais e fretamento para turismo dentro e fora do Rio Grande do Sul. A fabricação do produto deve ocorrer dentro das próximas semanas:
— Estamos em fase de adaptar o produto ao modelo dos ônibus que receberão os filtros, algo que deverá estar bem encaminhado dentro de 15 dias. Detalhes para a viabilidade industrial e comercial do produto ainda estão sendo estudados, mas em termos de eficiência de filtragem, isso já foi garantido em laboratório — afirma o professor e pesquisador Alexandre Fassini Michels, um dos coordenadores do projeto, realizado pelos programas de pós-graduação em Engenharia e Ciência de Materiais da UCS.
Segundo ele, além de representar mais segurança aos passageiros, o filtro com cobre também reduz o custo de manutenção, uma vez que não precisa ser trocado. Além disso, a tecnologia pode ser adaptada a outros equipamentos de circulação de ar, garantindo a eliminação do coronavírus em ambientes como restaurantes, lares de idosos, etc.
Para o diretor executivo da Expresso Caxiense, Nelson Ribeiro, a tecnologia será um adicional à segurança dos passageiros transportados pela empresa que, segundo ele, se preocupa em evitar o contágio por coronavírus desde o início da pandemia.
— Adotamos todos os protocolos de segurança e continuaremos com eles, mas esta será uma garantia a mais agora para o passageiro. Um produto daqui, que tem comprovação científica assinada pela UCS, certamente será muito eficiente — comenta o diretor.
O estudo do filtro foi iniciado há cerca de cinco meses e contou com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), sendo executado em parceria com a indústria metalúrgica Plasmar Tecnologia, de Caxias do Sul. O primeiro lote será fornecido de forma gratuita à empresa de transportes, como forma de contrapartida. A pesquisa envolve três professores da área das Exatas, uma pós-doutoranda e dois acadêmicos do curso de Engenharia Química.
O que é jornalismo de soluções, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
Superfícies alternativas
O filtro de ar integra uma série de pesquisas da Agência de Inovação da UCS, a UCS iNova, que testam superfícies alternativas, antimicrobianas, a partir do uso do cobre, material que garante a inativação do vírus.
O professor e pesquisador Cesar Aguzzoli, que também coordenou os trabalhos científicos relacionados ao filtro, estuda há mais de uma década a modificação de materiais para aplicação na área da Saúde, como o desenvolvimento de próteses, tecidos e curativos para queimaduras, por exemplo. Com a pandemia, os esforços dele e de outros pesquisadores da UCS foram concentrados na busca de soluções que garantam a redução do contágio por coronavírus no dia a dia em sociedade.
— Na área de materiais, nos voltamos para as demandas relacionadas à inativação do vírus, para garantir suporte e validação científica em materiais usados no cotidiano, como tecidos para máscaras de proteção, equipamentos hospitalares, entre outros. Quanto mais conseguimos nos proteger, melhor — explica Aguzzoli.
A modificação de superfícies de tecidos, polímeros e metais de uso hospitalar visando a redução/eliminação do coronavírus e de outros microrganismos é feita em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e tem o uso do cobre como inovação, uma vez que a prata é mais difundida para este tipo de ação. De acordo com Aguzzoli, porém, a prata oferece mais impacto ambiental e é mais nociva à células humanas.
Iniciadas em outubro de 2020, as atividades também contam com a participação da docente Mariana Roesch Ely, de dois bolsistas de doutorado e dois bolsistas de iniciação científica. A pesquisa tem financiamento do CNPq e a colaboração, no instituto de Física “Gleb Wataghin”, da Unicamp, de dois participantes em pós-doutorado, dois bolsistas de iniciação tecnológica e um docente; o envolvimento de uma professora do Centro de Ciências Biológicas da UFSC.